Segunda-feira, 22 de Outubro de 2007

Prosperidade: O Anseio Errado

Era uma vez um homem muito rico chamado Elias. Constantemente ele era citado em revistas de negócios pelo sucesso de suas empresas. Era um modelo para jovens empreendedores e estudantes de administração.

Elias era admirado inclusive pelos seus quase 4000 funcionários que o consideravam mais como um amigo do que como um patrão.

Mas a característica mais marcante de Elias era o amor que ele tinha para com os garotos de rua. Ao longo dos anos Elias já havia gastado milhões com casas de recuperação para drogados, orfanatos e escolas profissionalizantes.

Elias era inconformado com o sistema social que valoriza mais os animais do que as crianças. Não era raro ver Elias voltando para casa com uma nova criança de rua para cuidar.

Ele sempre vazia isso. Convidava as crianças e adolescentes de ruas a uma vida melhor do que nas ruas. E dava tudo de graça: moradia, conforto, amor paterno, alimento e também investia no ensino das crianças.

As crianças que davam valor ao presente de Elias e que quisessem prosseguir com os ensinos, ganhavam de Elias o ingresso para a Universidade.

A história que apresento a seguir aconteceu quando Elias trouxe das ruas o jovem Pedro. Havia 56 crianças na mansão de Elias quando Pedro foi resgatado. Pedro tinha 12 anos. Aos 7 viu seus pais serem assassinados por deverem a traficantes poderosos. Pedro era usuário de maconha e cocaína e aceitou, com gratidão, o convite de Elias:

_ Pedro, venha comigo. Serei seu pai e melhor amigo. Te darei roupas limpas, comida boa e um telhado para dormir. Você vai estudar, aprender uma profissão e vencerá na vida.

Pedro ficou constrangido pelo amor do velho Elias. Jamais alguém havia oferecido algo gratuito a Pedro, exceto as primeiras doses de droga.

As crianças resgatadas por Elias não deixavam de ser crianças. Eram bagunceiras e constantemente aprontavam bagunças na mansão do velho Elias que não se alterava.

_ Deixe eles brincarem. São apenas crianças – Dizia Elias.

Elias porém era bastante rigoroso em alguns pontos. Não aceitava as “panelinhas” entre os meninos e dizia que todos eram iguais, sem exceções. Ele ensinava para as crianças que os maiores tesouros que as pessoas podem alcançar são gratuitos: sinceridade, humildade e amor ao próximo.

_ Eu sou dono de muitas empresas, sou respeitadíssimo em todo mundo, mas, se eu não tivesse amor, não teria nada. Sigam meu exemplo crianças.

Todas aquelas palavras encantavam Pedro. Ele já estava fazendo planos para o futuro. Pedro queria ser rico, muito rico, para retribuir o favor do velho Elias e ajudar os jovens nas ruas.
O começo desastroso dessa história começa em uma fria manhã de domingo. Pedro foi ao encontro de Elias em seu escritório e lhe disse:

_ Pai, eu economizei uma parte do dinheiro que você me deu esse mês. Não consegui lanchar na escola sabendo que meus antigos amigos estão nas ruas se destruindo por causa das drogas. Sei que não é muito, mas gostaria de lhe devolver esse dinheiro para que você ajude outras pessoas.

Aquilo encheu o coração de Elias de alegria. O dono de milhões se sentiu abalado por uma quantia de 15 reais.

_ Pedro. Que gesto maravilhoso! Amo todos vocês sem distinção, mas esse foi o ato mais maravilhoso que já presenciei entre todas as crianças que resgatei.

Elias pensou em devolver o dinheiro a Pedro, mas pensou: “isso desvalorizará o esforço que dele para juntar esse dinheiro”.

_ Pedro – disse Elias – venha comigo.

Elias foi à estante de livros, abriu uma das prateleiras e retirou de lá um bracelete, o deu a Pedro e disse:

_ Sua atitude é digna de louvor, estou orgulhoso de você. Venha, quero contar a todos seu ato. Eles devem ter no coração o mesmo sentimento que você tem.

Pedro então chamou todas as 56 crianças, empregados e os vigias da casa para ouvirem o que ele tinha de falar.

_ Crianças, alguns de vocês estão aqui há quatro anos. Sempre me orgulhei do crescimento de vocês. Porém, Pedro, que está aqui apenas três meses, foi o que me deu a maior alegria – e contou toda a história.

As crianças voltaram para seus quartos com sentimentos diferentes. Alguns sentiam inveja de Pedro, outros, orgulho. Muitos reconheceram que haviam se acomodado com o conforto.
Ao entrarem no quarto, Carlos percebeu o colar no pescoço de Pedro e indagou:

_ Pedro, você só está aqui há três meses e pelo que ouvimos você economizou o dinheiro que tinha ganhado para devolver ao Pai, como você conseguiu esse bracelete de ouro?

_ O Pai me deu de recompensa agora a pouco. Disse que eu mereci pelo que fiz.

Pedro por ser inocente não havia percebido, mas Carlos e os outros meninos perceberam que aquele colar era muito mais valioso do que a pequena quantia que Pedro havia devolvido.

Foi a partir daquela manhã de domingo que tudo mudou. As crianças entenderam tudo errado e passaram a fazer contas de como investir melhor o dinheiro do lanche. As crianças bolaram um esquema de Causa/Efeito para as ofertas que elas dariam.

“Olha, Pedro deu 15 reais e ganhou um bracelete que deve valer mais de 1000 reais. Se eu não lanchar esse mês e pedir pra cancelar a aula de natação são 85 reais ao todo... O pai vai me recompensar bem assim”.

As crianças deixaram de amar Elias e começaram a bajular-lo. Sempre viam a ele com uma lista mental de consumo. E o pior, se sentiam frustrados por Elias não corresponder à bajulação delas.

A situação já estava ficando embaraçosa. As crianças não cumprimentavam mais o velho Elias e se achavam no direito de exigir: “eu plantei e direito de colher”. Quem sofria com isso era o velho Elias. Ele não cedia à alienação das crianças, pois não via sinceridade no coração delas. Para Elias, as crianças não estavam doando o dinheiro por amor aos órfãos de rua e sim para ganhar presentes.

Um dia Elias reuniu todas as crianças, exceto Pedro, pois temeu magoá-lo. Elias disse às crianças:

_ Nas últimas semanas eu recebi vários envelopes em meu escritório vindo de vocês. Dentro dos envelopes eu encontrei dinheiro e um bilhete com o que vocês queriam em troca. Eu não cedi a nenhum dos pedidos lá e, desde então, tenho percebido que vocês estão tristes comigo. Eu salvei vocês do mundo. Dei alimentos, roupas novas, os matriculei na escola e dei toda estrutura para um crescimento de vida e vocês ainda querem mais? E tentam me comprar com dinheiro? Vocês realmente amam as crianças de rua ou usaram isso como desculpa para ganhar presentes?

Com essas palavras algumas crianças começaram baixar o semblante reconhecendo o erro. Porém Carlos e alguns outros se sentiam revoltados. Carlos então bradou em voz alta:

_ Eu fiz exatamente igual o Pedro, me esforcei, juntei dinheiro e dei a você para que você ajudasse as crianças de rua e você vem com esse papo?

A história acima não é verdadeira, criei apenas para exemplificar a situação que a Igreja vive hoje em dia. Esse posicionamento de Carlos é o mesmo que muitas pessoas têm nas Igrejas neo-pentecostais brasileiras. Tem-se pregado um sistema de Causa/Efeito onde Deus se torna um empregadinho passivo obrigado a conceder Prosperidade em troca de merrecas doadas por corações interesseiros.

Vivemos na era na Bajulação Profética. A adoração sumiu há muito tempo. Não é mais Deus o soberano do Universo e sim nós. A situação atual me faz lembrar o sistema geocêntrico, bolado pelo astrônomo grego Cláudio Ptolomeu (150 d.C.). Ptolomeu ensinava que a Terra tinha a posição privilegiada de centro do Universo e que o Sol, a Lua e todos os planetas giravam em torno de nós.

De acordo com dados da ONU, 980 milhões de pessoas vivem em pobreza extrema no mundo. Enquanto isso a “igreja” tem pregado prosperidade pessoal e abundancia de bens materiais. Deus deve se enojar com isso.

Charles Spurgeon, um dos principais personagens na história da Igreja Batistas, disse certa vez: “Eu jamais ousaria usar uma coroa de ouro na terra onde meu Senhor usou uma coroa de espinhos”. E com essa frase eu termino.

Que Deus tenha piedade de nós...

Eliel Fernandes Vieira

7 Comentários:

Timóteo Sampaio disse...

muito bom, mas eu sou o Pedro...rsrsrsrs

Rafael disse...

Vocês não acham que a Teologia da Prosperidade tem um J judaizante bem grande?

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Abd Uahed Al Batin

Lethargica disse...

Vamos balancear esse mulambo aí... Não sou à favor da doutrina da prosperidade evangelico-petencostal nem dos votos de pobreza do catolicismo romano. Vamos resolver isso em meio termo, sem extremos, porque todo cimo é pernicioso.Concorde em parte com vc Eliel. Acredito que quando Adão e Eva sairam do paraíso e D-us falou: "trabalhem". Ele realmente quis dizer que trabalhar é uma dádiva. Os judeus são apenas 0,25% da população mundial e são bem representados tanto no âmbitointelectual como no azo financeiro. Em sumo, dos 750 prêmios Nobels 250 são judeus ou de familias judaicas, quantia esta absurda sabendo que os judeus são minoria na população mundial. Das 100 pessoas mais ricas do planeta 12 são judeus. Será que ser próspero é coisa do diabo? Não quero falar apenas de suntuosidade,regalias, destreza, ruas de ouro, genialidade. Vamos falar de pobi mermo; subnutrição, infâmia, torpeza, pés descalços, barriga d'água, estômago entornado. Será que estes miseráveis são amaldiçoadas? Claro que não. Seus antecessores apenas não entenderam que trabalhar é uma benção, que nós temos como encargo contribuir com o mundo; se estudamos e medramos conhecimento podemos dividí-lo com o resto do mundo, se trabalhamos servimos a sociedade, a nossa família e a nós mesmos. D-us não quer que esperemos que Ele nos dê tudo, e Ele nem vai dar. Ele ao nos criar nos deu trabalho, trabalhemos! Mas você pode dizer. "Muitos cresceram em condições despropícias ao progresso", isso porque seus pais não construíram essas condições... não entenderam que ralar a bunda é bom! Meu pai era menino de rua, passava fome, dormia no chão, matava passarinho com baleadeira para comer. Minha mãe usou um xampú pela primeira vez aos 16 anos... mas os dois queriam mudar, mesmo quando todas as situações pareciam quiméricas e a fome falava mais alto, eles lutaram, para que eu pudesse estar hoje aqui. D-us ajuda quem se ajuda. Isso é bíblico, é teologico. E quem tem deve dar, deve ser grato e ajudar. Uma família judaica religiosa reverte 10% de toda a sua renda a familias mais pobres, chama-se tsedacá, que futuramente foi distorcido e virou o dízimo, este que era dado aos templos para alimentar os sacerdotes que não podiam abandonar o tabernáculo. Além de ofertarem ao tarbenáculos os judeus davam o dízimo, o dízimo era só um prêmio de consolação para disciplinar o uso do dinheiro... e não era pra D-us não, quem já viu D-us precisar de dinheiro? Era para a fome dos sacerdotes mesmo. Espere que não fique zangado. Opnei. Tá opinado.

Inté.

Mufti El Daher disse...

Lethargica,

Proponho este texto retirado de um livro d Guénon, como uma opinião contrária ao que você escreveu.

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Está na moda, em nossa época, exaltar o trabalho, qualquer que seja e de qualquer maneira que se faça, como se tivesse um valor eminente por si mesmo e independentemente de toda consideração de uma ordem diferente; é o tema de inumeráveis declamações tão vazias como pomposas, e isso não só no mundo profano, mas inclusive, o que é mais grave, nas organizações iniciáticas que subsistem no ocidente .

É fácil compreender que esta maneira de considerar as coisas se relaciona diretamente com a necessidade exagerada de ação que é característica dos ocidentais modernos; com efeito, o trabalho, ao menos quando considerado assim, não é evidentemente outra coisa que uma forma da ação, e uma forma a que, por outra parte, o prejuízo «moralista» leva a atribuir ainda maior importância que a toda outra, porque é a que se dispõe melhor a ser apresentada como constituindo um «dever» para o homem e como contribuindo a assegurar sua «dignidade» .

A isso se adiciona, o mais freqüentemente, uma intenção claramente antitradicional, ou seja, a de desprezar a contemplação, que quer assimilar à «ociosidade», enquanto que, antes ao contrário, a contemplação é em realidade a atividade mais alta concebível, e quando, além disso, a ação separada da contemplação não pode ser mais que cega e desordenada . Tudo isso se explica muito facilmente no caso de homens que declaram, sem dúvida sinceramente, que «sua felicidade consiste na ação mesma» , e diríamos de boa vontade na agitação, posto que, quando a ação se toma assim por um fim em si mesma, e quaisquer que sejam os pretextos «moralistas» que se invoquem para justificá-la, não é verdadeiramente nada mais que isso.

Contrariamente ao que pensam os modernos, não importa qual trabalho, feito indistintamente por não importa quem, e unicamente pelo prazer de atuar ou por necessidade de «ganhá-la vida», não merece ser exaltado de maneira nenhuma, e nem sequer pode ser considerado mais que como uma coisa anormal, oposta à ordem que deveria reger as instituições humanas, até tal ponto que, nas condições de nossa época, ocorre muito freqüentemente que o trabalho chega a tomar um caráter que, sem nenhum exagero, poderiamos qualificar de «infrahumano».

O que nossos contemporâneos parecem ignorar completamente, é que um trabalho não é realmente válido senão se for conforme à natureza mesma do ser que o faz, se resultar dela de uma maneira em certo modo espontânea e necessária, de sorte que não é para essa natureza outra coisa que o meio de realizar-se tão perfeitamente como é possível.

Em suma, essa é a noção mesma do swadharma, que é o verdadeiro fundamento da instituição das castas, sobre a qual insistimos suficientemente em muitas outras ocasiões para poder nos contentar recordando aqui sem nos estender mais nela.

A propósito disto, pode-se pensar também aqui no que diz Aristóteles do cumprimento por cada ser de seu «ato próprio», pelo qual é mister entender de uma vez o exercício de uma atividade conforme a sua natureza e, como conseqüência imediata desta atividade, a passagem da «potência» ao «ato» das possibilidades que estão compreendidas nessa natureza.

Em outros termos, para que um trabalho, de qualquer gênero que seja, seja o que deve ser, é mister acima de tudo que corresponda no homem a uma «vocação», no sentido mais próprio desta palavra ; E, quando isso é assim, o proveito material que pode tirar-se legitimamente dele não aparece senão como um fim completamente secundário e contingente, por não dizer inclusive desdenhável frente a outro fim superior, que é o desenvolvimento e como o acabamento «em ato» da natureza mesma do ser humano.

...

Vemos quão longe está isso das banalidades que nossos contemporâneos têm o hábito de enunciar acreditando fazer com isso o elogio do trabalho; este, quando é o que deve ser tradicionalmente, mas somente nesse caso, está em realidade muito por cima de tudo o que são capazes de conceber.

Assim, podemos concluir destas poucas indicações, que seria fácil desenvolver quase indefinidamente, dizendo isto: a «glorificação do trabalho» responde certamente a uma verdade, e inclusive a uma verdade de ordem profunda; mas a maneira em que os modernos a entendem de ordinário não é mais que uma deformação caricatural da noção tradicional, deformação que chega a invertê-la de certo modo.

Com efeito, não se «glorifica» o trabalho com discursos vãos, o que nem sequer tem nenhum sentido plausível; mas o trabalho mesmo é «glorificado», quer dizer, «transformado», quando, em lugar de não ser mais que uma simples atividade profana, constitui uma colaboração consciente e efetiva na realização do plano do «Grande Arquiteto do Universo».

René Guénon, Iniciação e Realização Espiritual, Cap.X

Eliseu Antonio Gomes disse...

Olá!

Bom blog!

Um convite para você e blogueiros em geral.

Ensejando fortalecer a blogosfera evangélica está criada no site Orkut a comunidade Blogueiros Evangélicos. Link: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=38716780

Venha fazer parte, são quase 300 blogueiros reunidos trocando informações diversas e divulgações de seus sites.

Eliseu A Gomes
http://belverede.blogspot.com/

Marcos Alberto disse...

Meu nome é Marcos, sou carioca, assembleiano, e não concordo com essa maluquice de Teologia da Prosperidade. Mansão na Barra da Tijuca, carro importado, avião, iate, e outras coisas. Nada contra, mas isso não vai salvar as nossas almas. Acontece que nós vivemos em um País onde não se dá o justo valor ao trabalho sério, não se leva a $ério o trabalhador, e o pobre sonha em dizer: "Você sabe com quem está falando????". Eu não sei, não quero nem saber, e quero que vá se converter quem sabe. Teologia da Prosperidade é uma mentira do capiroto. Só não vê quem não quer...

Entusiasta disse...

Passei por aqui em meio a uma pesquisa sobre prosperidade; particularmente acho que se fosse boa, não existiria tanta opinião contrária sobre esse assunto! não existiriam tantos textos bíblicos (principalmente no novo testamento)que fundamentam a clara posição de Deus sobre esse assunto; é só observar as palavras de Jesus sobre semeadura, multiplicação e oferta, que percebemos o que realmente importa em qq texto e contexto sobre prosperidade.
As palavras de Jesus estão aí para quem quiser ler e meditar.

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