Sábado, 3 de Novembro de 2007

Coluna e a Base da Verdade

Correndo os olhos sobre os escritos paulinos, minha atenção foi atraída para um pequeno versículo da primeira carta de Paulo a Timóteo:

Todavia, se eu tardar, saberás como proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo: coluna e sustentáculo da verdade” (I Tm 3:15).

O decorrer desta carta até o capítulo 3, verso 15, é muito rico em instruções. Aliás, esse foi o objetivo de Paulo ao escrever esta carta: instruir Timóteo sobre a maneira correta de agir em relação a determinados problemas que existiam na época. Especialmente quanto aos judeus convertidos à fé cristã que insistiam em observar alguns ritos judaicos e a ascensão do Gnosticismo.

Já prevendo que poderia não mais ver o amigo Timóteo, Paulo deixou a ele um pequeno manual de regras sobre como proceder contra as ameaças à Igreja de Cristo. Ela aborda o tema “falsos doutores” por 3 vezes em toda a carta (1:3-7; 4:1-11; 6:3-10). Além disso, ele faz 4 declarações de fé sobre a divindade de Cristo nessa carta (1:17; 2:5-6; 3:16; 6:15-16). Sendo assim, podemos dizer sem medo ter estarmos errados que a primeira carta de Paulo a Timóteo é de caráter puramente apologético.

Vamos agora analisar o verso citado no início deste texto, a saber, a necessidade de a Igreja ser coluna e sustentáculo da verdade. Para interpretar esse versículo da maneira que vou fazer neste texto é necessário, primeiramente, identificar o aspecto apologético do versículo. Essa é uma tarefa muito simples.

Logo após Paulo citar que a Igreja é “coluna e sustentáculo da verdade” ele faz uma declaração sobre a divindade/humanidade de Jesus. Isso pode parecer normal nos dias de hoje onde todo mundo "aceita Jesus", mas, para aquele contexto histórico, toda declaração desta natureza envolvia discussões religiosas e, em alguns casos, morte daquele que declarava tal “absurdo”. Outro fator que aponta o fato deste versículo possuir um aspecto apologético é os termos que foram usados por Paulo, principalmente “verdade”. Um dos assuntos mais abordados pela filosofia grega era a natureza da verdade. Uma vez que Paulo era um cidadão romano, letrado, inteligente e que demonstra em suas cartas centelhas de alguns pensamentos da filosofia grega, acredito não ser mera coincidência o termo “verdade” aparecer logo antes de uma declaração de fé.

Pode até parecer um quebra-cabeça, mas, conforme vamos pensando nas possibilidades, tudo vai se encaixando de forma bem lógica. Os gnósticos afirmavam, dentre outras fábulas, que a matéria é a única prisão para a alma do homem que é, essencialmente, boa. Como esta crença contradizia a mensagem dos apóstolos, os gnósticos então afirmavam que eles eram os únicos que possuíam os “verdadeiros ensinamentos de Jesus”. De acordo com os gnósticos Jesus teria escolhido a dedo os seguidores que receberiam sua mensagem gnóstica (escolha dos 12 apóstolos conforme citada na Bíblia foi apenas de fachada). Como a matéria é má, os gnósticos também ensinavam que Jesus não tinha vindo em carne. O Jesus que todos viam, segundo eles, era apenas uma silueta não-material.

Paulo então diz para Timóteo (e para os que leriam essa carta posteriormente) que a "verdade" está na autoridade da Igreja e na mensagem dos apóstolos escolhidos por Jesus. A Igreja é, portanto, a coluna e sustentáculo da verdade. No versículo seguinte ele afirma sem rodeios que: “Ele foi manifestado na carne... exaltado na glória”.

O aspecto apologético salta-nos à vista.

I Tm 3:15 contém princípios para que a apologética cristã flua de maneira correta. Nossa apologética deve ser coluna e sustentáculo da verdade.

A palavra usada no grego original para coluna é stulos que significa “pilar”, “coluna”. Já o termo para sustentáculo é edraioma que significa “base”, “alicerce”, “apoio”. Quanto ao termo “verdade” não vou me deter a ele em detalhes, pois isso acarretaria um vasto estudo filosófico sobre o tema, o que não convém para este texto. É suficiente sabermos que, ao falar sobre “verdade”, Paulo apontava para a mensagem cristã, chamada por ele mesmo como “o mistério da piedade”, a saber, Cristo, Filho do Deus vivo, manifestado em carne.

Paulo usou termos comuns de construção civil para apontar como a Igreja deve ser portar apologeticamente. Nossos irmãos católicos podem afirmar que Paulo estava se referindo à Igreja Católica Romana, organizada e institucionalizada. Uma vez que o padrão institucional (católico, ortodoxo e protestante) nunca foi um modelo apologético ao mundo, eu rejeito essa posição (mas sem encerrar a questão, talvez aqui exista um tema para um bom debate). O próprio Jesus disse que é o Reino não é visível de forma que o identifiquemos visualmente. Antes, ele está em nós (Lc 17:20). As igrejas (com “i” minúsculo) servem para que nós cresçamos mutuamente em fraternidade.

Enfim, o fato é que nenhuma casa (nem mesmo a casa de Deus) fica de pé sem alicerces e colunas. Quanto maior o tamanho do imóvel, maior o alicerce deve ser. Podemos observar esta característica também nas árvores. Quanto maior o tamanho da árvore, mais fundo sua raiz penetra na terra. Uma casa sem alicerce, facilmente é derrubada pelos ventos de doutrina.

Podemos extrair vários ensinamentos práticos a partir daqui, tanto para nossa apologética diária (no trabalho, em casa, na escola), quanto para nossa apologética como Igreja (com “I” maiúsculo) de transformar a sociedade em que vivemos.

Para começar, sugiro re-lermos I Timóteo.

Eliel F. Vieira
elielzadoque@gmail.com

2 Comentários:

Myrelle disse...

Nossa... é muito legal isso aqui... dá pra usar como fonte de pesquisa... ehhehehe...
eu depois quero ler sobre s tatuagens... até hoje ninguém (nenhum pastor) me explicou coerentemente sobre isso. Só sabiam dizer "você não pode fazer" e pronto...

Um abraço
Myrelle

miau disse...

texto muito esclarecedor, tenho 4 tatuagens, 3 expressando meu amor por jesus, criticas? ja recebi milhares, mas não me arrependo de ter feito nenhuma.
uma otima semana pra ti!

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