Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2009

Fora da Igreja há Salvação?

"Fora da Igreja não há Salvação". Esta frase, proclamada pelo IV Concílio de Latrão no ano de 1213, tem gerado polêmicas em torno da cristandade ao longo dos séculos. Existe salvação fora da Igreja?

Na verdade não estou escrevendo (nem lendo) ultimamente sobre assuntos teológicos. Apesar disto, decidi dispensar alguns minutos para colocar no papel (ou no meu blog, já que não estou escrevendo à caneta) algumas reflexões que tenho acerca desta polêmica.

Apesar de ter dito que a frase "Fora da Igreja não há Salvação" foi proferida no século XIII [retirei esta informação deste link], existem registros que ela havia sido proferida muito antes, nos primórdios do cristianismo, no século III, por um bispo cristão da cidade de Cartago, chamado Cipriano. Outros afirmam que foi Atanásio (séc. IV) quem proferiu esta frase pela primeira vez.

Independente de quem tenha sido o cristão progenitor desta frase, a verdade é que o conceito por trás do "fora da Igreja não há salvação" é mais antigo que o próprio Jesus, não sendo, assim, uma exclusividade do Cristianismo.

Podemos enxergar, ao lermos o Velho Testamento, que o povo hebreu acreditava convictamente que Yaweh (nome hebraico para Jeová) era Senhor APENAS do povo de Israel. Vemos claramente nos registros bíblicos que os hebreus consideravam as nações vizinhas não apenas como inimigas de Israel, mas como inimigas do próprio Deus.

Após a nação de Israel se dividir em duas (Israel e Judá), os habitantes destas duas nações distintas começaram a intrigar entre si sobre qual delas levava o título de "verdadeira nação de Deus". As tribos do norte (que continuaram a ser chamadas de Israel) desconsideravam as tribos do sul como sendo povo de Deus, consideravam-nas inimigas; Já as tribos do sul (que passaram a ser chamadas de Judá) consideravam as tribos do norte como inimigas e que somente elas, as tribos do sul, eram povo de Deus.

Judeus odiavam samaritanos e vice e versa.

Onde se deveria adorar a Deus de verdade? Em Samaria (capital de Israel) ou em Jerusalém (capital de Judá)? Esta foi a pergunta feita por uma samaritana a Jesus.

Apenas abrindo um parêntese no curso deste artigo: a narração deste acontecimento em Jo 4 mostra o quanto as duas nações eram exclusivistas em relação a Deus. Após Jesus pedir água à samaritana, ela, assustada, lhe perguntou: "Como o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber?" (Jo 4:9)

Pois bem. Jesus quebrou todos os paradigmas de que Deus era exclusivo de apenas um povo.

Jesus morreu.

Alguns anos depois os seguidores de Jesus fundaram o Cristianismo. Alguma coisa mudou em relação a esse assunto?

Não.

"Apenas quem for cristão será salvo", "aceite Jesus ou você vai pro Inferno" ou "Fora da Igreja não há Salvação".

Bem, séculos depois (século XXI) aconteceu a primeira divisão (por motivos fúteis) entre os cristãos: a Igreja Católica Romana segue um rumo e a Igreja Ortodoxa Oriental segue outro. Negligenciando o exemplo de Cristo ("os adoradores de Deus o adoram em Espírito e em Verdade") e seguindo o mal exemplo de Israel e Judá ("Deus é nosso e você que pensa diferente vai pro quinto dos infernos") ambos começaram a discutir sobre qual facção do cristianismo possuía o "selo" de Deus.

Para os católicos romanos, os ortodoxos orientais são apenas hereges cismáticos; para os ortodoxos, os católicos são qualquer coisa, menos povo de Deus.

Pois bem, avançando um pouco na história, um monge agostiniano chamado Martinho Lutero (em 1517) se revoltou contra algumas práticas e posições da Igreja Católica Romana e causou outra divisão entre os cristãos, evento chamado de "Reforma Protestante".

Desta forma, os católicos passaram a considerar os "protestantes" como filhos do Diabo e, em contrapartida, os protestantes consideram os católicos apenas idólatras que vão queimar no inferno.

Seguindo mais um pouco na história, os protestantes se dividiram incontáveis vezes, surgindo o que hoje conhecemos como "batistas", "presbiterianos", "anglicanos", "luteranos", "metodistas", "assembleianos", "quadrangulares", "maranatas", etc, etc, etc, e muito mais etc.

Muitas destas denominações acusam as demais denominações protestantes de inúmeros nomes pejorativos e, claro, não os consideram como filhos de Deus.

Paralela a toda esta história das divisões no meio cristão, inúmeros movimentos religiosos surgiram em todo o mundo (o maior deles, o Islã). Todos (ou quase todos) afirmam ser a única religião verdadeira e condenam as demais religiões como falsas.

Sobre estas outras religiões me abstenho de falar, pois não as conheço (exceto o Islã, sobre a qual já estudei alguns aspectos). Já sobre o cristianismo, sendo cristão, acredito que sou apto a tecer algumas considerações.

A primeira delas é que não há margem na Bíblia para desconsiderar as religiões das outras pessoas como falsas e heréticas e ainda julgar os adeptos destas religiões como pessoas condenadas ao inferno. Digo isso com propriedade, afinal Jesus - o exemplo a ser seguido - jamais falou mal de qualquer religião gentílica de sua época.

A segunda consideração é que temos muito trabalho a fazer para nos darmos ao luxo de ficar perdendo tempo procurando erros nas religiões dos outros. O tempo (e o dinheiro) que são gastos com programas de televisão em rede nacional para falar mal de outras religiões podiam ser usados sustentando missionários que estão passando dificuldades em lugares longínquos neste planeta. Como já disse, Jesus não perdeu tempo tecendo comentários sobre outras religiões (aliás, a única religião da qual Jesus falou negativamente foi a que ele seguia, criticando os líderes hipócritas do judaísmo). Jesus usou o tempo que tinha para fazer o seu trabalho, apenas.

E a questão proposta no início do texto: existe salvação fora da Igreja?

Se há ou não é impossível sabermos, afinal, Jesus nem a Bíblia nada disseram sobre esta questão. O que a Bíblia diz é que o julgamento sobre quem será e quem não será salvo vai acontecer apenas após este mundo acabar e será realizado por Deus. Portanto, acho insensato fazermos julgamentos sobre os outros, como os cristãos (católicos e evangélicos) adoram fazer.

Para terminar, gostaria de convidar a todos a refletir no texto do capítulo 10 do livro de Atos. A passagem trás a história de um homem chamado Cornélio que não era judeu, não era cristão, não possuía religião e era, segundo a Bíblia, um homem temente a Deus. A Bíblia ainda diz que Deus se agradava de Cornélio, mesmo ele não sendo nem judeu nem cristão.

Como diria Carlos Drummond de Andrade: e agora José?

Ou, como costuma dizer meu pai: resolve esse pepino aí...

Eliel F. Vieira
elielzadoque@gmail.com

6 Comentários:

Zanesco disse...

Excelente texto Eliel.

De fato as pessoas tendem a 'puxar a sardinha para o próprio prato'.

É mais comum encontrarmos esse tipo de pensamento naqueles que desconhecem a palavra de Deus.

Particularmente, este assunto me incomoda muito, detesto a distinção que certas denominações fazem para com outros irmãos Evangélicos, posso citar como exemplo alguns membros da Congregação Cristã no Brasil (Igreja a qual frequento).

Comumente pode-se ouvir de um testemunho, chavões como:
"Esta graça" "Fulano de tal é de tal seita" "único caminho santo"...entre outros.

Tais heresias deveriam ser combatidas pelos 'pastores' (aspas, pois o nome do cargo ou posição difere de acordo com a denominção)no entanto o que vemos é uma passividade para com o assunto, como se fosse interessante para eles ressaltar importância da igreja material a colocando como "caminho para salvação", como se fosse uma espécie de Arca de Noé atual, ou um foguete no qual os membros que estiverem dentro, subirão ao lar celestial quando for chegado o tempo.

Mas infelizmente esse defeito não é exclusividade da CCB, como bem sabemos, penso que devemos combater o fanatismo religioso, orar e pedir a Deus que se abram as mentes, para que não desviem da VERDADE, que é Jesus Cristo.

Resumindo, não concordo com a idéia de que não exista salvação fora da igreja (Igreja no sentido de templo material) a Salvação está ao alcance de todos segundo o evangelho a nós concedido.

para terminar, cito Atos 16:30-31

"E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?

E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa."


e João 14:6

"Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim"

Deus o abençoe grandemente irmão, abraços

RCAWeb disse...

Sim há!!!

O ladrão, que estava ao lado de Cristo Jesus, à sua direita, pendurado com ele e com ele sendo morto. Nunca esteve em uma igreja, nunca foi batizado, nunca frequentou uma escolhinha dominical, etc, etc, e tal.
Com relação ao fato de que não devemos abandonar nossa congregação, como é costume de alguns. Não é deixarmos a igreja fisicamente, o local. Mas é não deixarmos de estar reunidos com aqueles que professam a mesma fé que nós. É neste sentido.

Shalom e a paz! Para gentios e judeus!

RCAWeb disse...

Errar é umano... sacarão? umano.. :-/

Cometi um erro e desejo fazer a correção. Mas não é de português. Pior. É de verificação da Bíblia.

A Bíblia não fala qual o ladrão de foi para o Paraíso com Cristo. Se era o da direita, ou o da esquerda.

Devo ter me confundido com aquela passagem em que Cristo falará aos que estiverem à sua direita: Vinde, e aos que estiverem à sua esquerda: Apartái-vos.

Então esta coisa de ladrão a direita ser o justificado e o da esquerda ter sido o condenado não tem sentido Bíblico. Pode ter sido o contrario, quem sabe? 8-O

Desculpe-me, tive que fazer esta correção se não não dormiria em paz nem na shalom! :)

Glauber Ataide disse...

Um outro exemplo interessante de salvação fora do "povo escolhido" é Melquisedeque, conforme apontado por Don Richardson em sua obra "O fator Melquisedeque".

De fato, Melquisedeque é chamado de sacerdote do Deus Altíssimo, mas ninguém sabe de onde ele veio e para onde ele se foi depois. Ele é apresentado sem genealogia. E o próprio Jesus é chamado posteriormente de sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque.

Glauber Ataide disse...

Ah, só pra completar o comentário anterior: Melquisedeque aparece na Bíblia ANTES da instituição da religião judaica, ANTES de Moisés.

Como poderia haver um sacerdote de Deus ANTES da Lei, ANTES de Moisés?

james disse...

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Graça e paz vos sejam multiplicadas, amados irmãos em Cristo.

A verdade: somente há salvação em Jesus Cristo!

Com referência a “salvação na ou da igreja”, podemos entender que isto é a venda de certo “peixe” que, será pago mensalmente através de ofertas, doações e dízimos...

Outrossim, a interlocução de “gentilezas destrutivas” entre as diversas irmandades cristãs e protestantes, farpas, idolatria evangélica, egocentrismo, fanatismo, religiosidade, e fundamentalismo são balcões de venda que, tentam ser os donos da verdade e donos daquele distinto “peixe”!

Por certo, que devemos seguir o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo e usar o tempo que temos para fazer o nosso trabalho, apenas!

Fraternalmente.

James.
Jesus, o maior Amor
Comunidade "Adoradores em Casas"
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