Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2009

A Verdadeira Igreja Próspera

Muito se tem falado ultimamente sobre “prosperidade material” nas igrejas evangélicas brasileiras (principalmente nas de cunho neo-pentecostal). Não é preciso pesquisar muito para encontrar vários livros ensinando a como “mover a intenção de Deus para nosso favor” ou a como “tomar posse do que é nosso por direito”.

Além de livros, a busca (ou seria ordenança?) pela prosperidade material vinda de Deus é encontrada em muitos CDs de música evangélica. Frases como “faz chover riquezas na minha vida”, “meus celeiros serão fartos”, “meus lagares se transbordarão” e “vou prosperar, vocês verão a vitória na minha vida e morrerão de inveja seus incrédulos hahaha” são encontradas sem dificuldade nas músicas evangélicas.

Enfim, fala-se MUITO sobre prosperidade. Fala-se tanto sobre isso que o mundo tem questionado a índole dos líderes evangélicos que pregam promessas de bênçãos materiais aos membros. A internet está cheia de piadinhas sobre pastores que roubam dinheiro dos membros (não apenas piadinhas, várias denúncias sérias podem ser encontradas na internet sobre tais práticas).

O que diz a “Teologia da Prosperidade”?

Ela nos diz (não explicitamente) que a quantidade de bens materiais (riquezas) que você possui aponta para o quão abençoado você é por Deus.

Se você é cristão, é dizimista (ser dizimista é mais importante do que, digamos, ter uma vida santa e reta perante Deus) e freqüenta regularmente uma igreja, necessariamente Deus tem que te abençoar. Os números e os resultados visíveis são, para os adeptos da “Teologia da Prosperidade”, os sinais incontestáveis que Deus está abençoando alguém.

Refletindo sobre este problema, percebi que as igrejas se analisam com base nos números e resultados que as mesmas possuem. O que é uma igreja abençoada e próspera de acordo com os evangélicos? Uma igreja abençoada e próspera é aquela que possui muitos membros, muitas posses, muitas congregações, muitos membros empresários, etc.

As pessoas pensam, infelizmente, que o número de membros e congregações de uma denominação é um sinal do quanto uma igreja é abençoada.

E não estou fazendo conjecturas. Já participei de reuniões eclesiásticas com líderes onde eram traçadas estratégias para “não perder gente”, “fazer o povo vir pra cá”, “multiplicar as congregações”, etc. O consolo (ou a tristeza) era saber que as estratégias eram estabelecidas por corações que pensavam estar fazendo o bem para a “obra de Deus”. Os evangélicos honestamente acreditam que uma igreja abençoada e próspera é uma igreja grande e cheia de membros.

1 - Quanto mais riquezas você tem, mais abençoado você é.
2 - Quanto mais membros a igreja tem, mais abençoada ela é.

Sabemos que a primeira frase não contém a verdade (se você pensa que ela contém a verdade, sugiro a você que leia a Bíblia novamente, com atenção especial nos Evangelhos, e no livro de Tiago).

E a frase de número 2? Ela é verdadeira?

Procurei na Bíblia alguma resposta e me deparei com uma narração interessante, que trouxe luz à questão:

Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores. Vocês tem perseverado e suportado sofrimento por causa do meu nome, e não tem desfalecido. Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. Lembra-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do lugar dele” (Apocalipse 2: 2-5).

Estas palavras acima vieram ao apóstolo João enquanto este estava exilado na ilha de Patmos (Ap 1:9). Quem ditou as palavras foi o próprio Jesus, conforme podemos ver em Ap 1:18,19. As palavras foram destinadas a uma igreja específica: a Igreja em Éfeso.

O recado, em outras palavras, é o seguinte: “você abandonou o primeiro amor. Se você não mudar para como você era no início, vou retirar de você a autoridade de Igreja que tem”. Porém, antes de dizer isso, Jesus disse que considera algumas coisas boas sobre Igreja de Éfeso:

- Era uma igreja ativa na obra de Deus (v. 2)
- Que trabalhava arduamente (v.2)
- Que era perseverante (v. 2)
- Não tolerava homens maus em seu meio (v. 2)
- Possuía discernimento para saber quando alguém era de Deus e quando não era (v. 2)
- Suportava sofrimento por causa do nome de Cristo sem desanimar (v. 3)

Sem dúvida a Igreja em Éfeso era muito virtuosa. Muitas das qualidades acima faltam a muitas igrejas evangélicas hoje em dia. Uma Igreja que possuísse as características que a Igreja de Éfeso possuía seria considerada hoje uma Igreja abençoada e próspera por muitos (senão todos) cristãos.

Porém, faltava a Éfeso o mais importante: amor.

Contra você, porém, tenho isso: você abandonou o seu primeiro amor” (v. 4).

Uma pergunta surge aqui. Qual amor?

Amor para com Deus? Amor para com a obra de Deus? Amor para com o Evangelho? Amor de uns para com os outros?

O texto não nos diz especificamente sobre qual espécie de amor se trata, mas nos dá margem para pensar qual era esse amor que estava faltando à Igreja de Éfeso.

Por ser ativa na obra de Deus (v. 2), é certo que a Igreja de Éfeso amava o Evangelho e a obra de Deus. O fato de os membros da Igreja de Éfeso suportarem sofrimento por causa do nome de Deus indica que eles amavam (e muito) a Deus. Logo, amor a Deus e amor à obra de Deus eles possuíam.

Voltando à carta, Jesus diz à Igreja de Éfeso que eles abandonaram o primeiro amor e que a igreja deveria se arrepender e voltar a praticar as obras que eles praticavam no princípio (v. 4 e 5).

Três termos presentes nos versículos 4 e 5 (acima) nos ajudam a identificar qual é o amor que a Igreja de Éfeso deixou de ter.

1 – Amor: A palavra grega usada para “amor” neste texto, “ágape”, possui uma gama de significados que a associa à palavra “altruísmo”. Alguns significados de ágape são: “amor incondicional”, “amor gratuito”, “amor que se oferece sem esperança de receber algo em troca”. Esta mesma palavra (ágape) é usada quando Jesus disse que devemos “amarmos uns aos outros” ou “amar o próximo como a nos mesmos”.

2 – Obras: A ordenança para que a Igreja de Éfeso volte a praticar as obras como forma de voltar a possuir amor (v. 5), indica que o amor que a Igreja de Éfeso deixou de praticar era realizado por meio de obras.

3 – Princípio: Este amor realizado pelas obras estava presente no princípio da Igreja de Éfeso. A Bíblia não traz um relato de quais obras eram realizadas no princípio da Igreja de Éfeso, porém, no livro de Atos podemos ler sobre as obras que os primeiros cristãos, reunidos como comunidade, praticavam. Como foram estes primeiros cristãos citados em Atos que levaram o Evangelho até Éfeso, é bem provável que as primeiras obras da Igreja de Éfeso fossem as mesmas primeiras obras da comunidade cristã primitiva em Atos. Sendo assim, lendo sobre as obras realizadas pela Igreja Cristã primitiva, saberemos (ou pelo menos teremos alguma idéia sobre) quais eram as obras que a Igreja de Éfeso praticava. Quais eram essas obras?

Da multidão dos que creram, uma era a mente e um era o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham (...). Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um.” (At 4: 32 e 34).

Os cristãos primitivos amavam uns aos outros. Amavam tanto ao ponto de vender suas posses e propriedades para que os outros não passassem necessidades.

É esse amor que a Igreja de Éfeso deixou de praticar. É a falta deste amor que impedia que Éfeso fosse uma Igreja abençoada e próspera de acordo com Deus. A Igreja de Éfeso possuía muitas virtudes: disposição para o trabalho na obra, perseverança, sabedoria, intolerância ao mal, discernimento e paciência – provavelmente era uma igreja com um número grande de membros – porém, não era abençoada nem próspera. Faltava-lhe amor.

Diante do que acabamos de ler, a Igreja Evangélica brasileira – que se preocupa mais com seu umbigo do que com problemas sociais graves como número de famintos, mortalidade infantil, aumento da pedofilia, número de depressivos na sociedade, aquecimento global, etc. – pode ser considerada uma Igreja abençoada e próspera?

Não, não somos prósperos. Somos, na verdade, gulosos e egoístas.

Quem come e não reparte nada fica com a barriga inchada” certa vez disse o personagem Chaves a seu amigo Quico quando este se recusou a dar a Chaves um pedaço de seu sanduíche de presunto. A Igreja Evangélica não é próspera e nem está grande. Ela é podre, doente e está inchada.

Para finalizar, Deus cumpriu a promessa que fez à Igreja de Éfeso. Registros históricos nos mostram que poucas décadas após a carta de João chegar às mãos dos efésios, a Igreja de Éfeso foi atacada e destruída.

Tenho previsto um futuro parecido para a Igreja Evangélica brasileira para um tempo não muito distante no futuro. Somente nós podemos mudar esse quadro.

Eliel F. Vieira
elielzadoque@gmail.com

3 Comentários:

Caio Macedo disse...

Muito bom. Realmente, a Teologia da Prosperidade é um vírus que está matando a igreja, transformando-a em um ser egocêntrico e cego.

sandro disse...

Eliel, excelente analise, 10 amigo Deus te abençoe.

Fram disse...

Muito bom grande, continue assim,Que Deus continue te abençoando, abração !

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