Quinta-feira, 12 de Março de 2009

Com tua Luz, nós vemos a Luz.

Uma questão que sempre “atormentou” os teólogos foi sobre a relação entre fé e justificação na Salvação do ser humano.

A pessoa é justificada por Deus por ter fé ou ela tem fé por ter sido justificada por Deus?

Estas questões remetem à discussão sobre Predestinação e Livre-Arbítrio.

Se o homem é justificado por ter fé (a fé aqui é uma causa precedente à justificação), teríamos - dizem alguns - um regenerado não convertido.

Se o homem possui a fé por ter sido justificado por Deus previamente (a fé aqui é uma consequência da justificação), logo, quem não tem fé, não tem porque Deus não o justificou antes como fez a alguns. Se assim for, como Deus pode culpar aqueles que não tem fé?

No Salmo 36 Davi disse que apenas podemos enxergar a Luz através da Luz de Deus.

Pois a fonte da vida está em Ti, e com a tua luz, nós vemos a luz” (Sm 36:9)

Os calvinistas – adeptos da teoria de que a fé é uma consequência da justificação – logo afirmariam que esta passagem prova seu ponto. Apenas Deus pode prover ao homem a capacidade do homem encontrá-lo.

Ilutrando Deus como um testouro a ser encontrado, seria Deus (e apenas Ele) que daria ao homem o mapa do tesouro a ser encontrado.

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Como abandonei o calvinismo a algum tempo, vou propor uma interpretação alternativa a esta passagem de Salmos:

Paulo disse em sua carta aos Romanos que “o que se pode conhecer de Deus está inteligível a nós desde a criação”. (Rm 1:18-20)

Algo inteligível é algo que se “compreenda bem” de acordo com o Dicionário Aurélio. Algo inteligível é algo claro.

Claro como a Luz.

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Deus proveu a todas as pessoas sua Luz. Não apenas a alguns, Deus proveu a todos.

Sua Luz está presente em tudo o que foi criado: nas cores dos peixes, na delicadeza das flores, na beleza do verde, da magnitude do universo, na alegria do amor, na perfeição da física, enfim, tudo o que foi criado contém rastros que apontam para Deus.

Na mesma passagem da carta aos Romanos, Paulo diz que aqueles que praticam impiedade e injustiça são indesculpáveis perante Deus, pois todos os sinais necessarios para conduzir o homem a Deus estavam aqui.

Não faria parte da justiça de Deus condenar aqueles a quem Ele não ofereceu sua Luz - uma vez que apenas com Sua Luz, nos podemos ver a Luz.

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Os ateus retrucam dizendo que “não há provas” de que existe um Deus e ainda questionam se esse Deus, se existe, deva ser adorado.

Os ateus deveriam ser perguntados se eles têm certeza que seus pais o amam, pois, em suma, não se pode ter nenhuma evidência de que isso seja absolutamente verdadeiro.

Ahhh, minha mãe me criou... ela me dá tudo que eu quero... sorri para mim...

Nada disso é prova. Tudo pode ser falsificável. Mesmo assim, todos acreditam que seus pais o amam.

Se Deus tivesse garantido provas absolutamente conclusivas de que Ele existe – digamos, se Ele tivesse colocado um letreiro luminoso orbitando a Terra com os dizeres “Eu, Deus, existo!” – talvez hoje as mesmas pessoas que reclamam por não haverem provas de Sua existência estariam queixando por outro motivo: “Que Deus mais exagerado. Para que colocar um letreiro tão horrorozo acima de nós?”.

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Os cristãos também merecem uma crítica (sim, eu sempre critico os cristãos) quanto à relação com a Luz de Deus.

Quando entrei no seminário teológico, nosso professor de Antropologia (Marcos Cunha) nos disse que quanto mais lêssemos sobre Deus mais estaríamos propícios a gostar de poesia, contemplar a natureza, nos encantar com coisas simples e que menos atenção daríamos às questões teológicas de “banco de seminário”.

Eu duvidei. Havia entrado no seminário para ser um “crânio”, para tirar todas minhas dúvidas e ser um desbravador do conhecimento.

Pois é... o Marquinhos estava certo.

Observar a criação, a natureza, o tempo, e até o nada dizem mais sobre Deus do que uma enciclopédia de Teologia Sistemática.

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A Luz de Deus está aí, acessível a todos. Vemos essa Luz a todo instante, mesmo sem querer.

Podemos fazer uso dela e chegarmos até Deus ou negligenciar sua Luz e nos tornar indesculpáveis.

O pior momento de um ateu é quando ele está realmente grato e não tem a quem agradecer.” (G. K. Chesterton)

Parafraseando Chesterton e criando uma frase semelhante de advertência aos cristãos: “O pior momento de um cristão é aquele desperdiçado em assuntos que não resultam em gratidão a Deus.


Eliel F. Vieira
eliel@elielvieira.org

2 Comentários:

everton rodrigues disse...

cara muito bom esse texto

André ferreira disse...

sobre a fé, a biblia diz que (a fé vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Deus)sem a palavra não ha justificação, portanto, primeiro-palavra, segundo-fé, terceiro justificação, e mais uma palavra, sem fé é impossivel agradar á Deus, pois é necessario que aquele que se aproxima dele creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam. gostei muito do seu blog continue, eu me add como seguidor, visite o meu e recomende aos amigos, abraço fraterno andreferreiracomcristo.blogspot.com

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