Quarta-feira, 31 de Outubro de 2007

Um Cristão Pode se Tatuar?

Primeiramente, o título deste texto está incorreto. O melhor título seria “Convém aos cristãos se tatuarem?”, pois, uma vez que já não estamos mais sob o domínio da Lei, nada em si próprio é “certo” ou “errado”. A graça de Deus é que justifica ou condena qualquer ato. Mas o erro foi proposital com o intuito de atrair a atenção para o tema proposto.

Antes de começar a discorrer sobre a prática de se tatuar, precisamos fazer considerações sobre "cultura", uma vez que a “tatuagem” está inserida em um contexto histórico/cultural. É impossível datar um início para o ato de se tatuar, os babilônicos na época de Abraão já possuíam tais práticas e Darwin afirmou que “do Pólo Norte à Nova Zelândia não havia aborígine que não se tatuasse” em seu livro A Descendência do Homem.

Várias são as teorias e as tentativas de explicar como surgiu a tatuagem, uma delas é que, nos tempos primórdios, marcas involuntárias adquiridas em guerras e lutas corporais geravam orgulho e reconhecimento ao homem que as possuísse, pois eram expressões naturais de força e vitória. O homem da época, partindo da idéia de que marcas na pele seriam sinônimos de diferenciação e status, passou a marcar-se voluntariamente, fazendo ele mesmo seus ferimentos pelo corpo, que com o passar do tempo deu espaço para a criação de desenhos utilizando-se de tintas vegetais e espinhos para introduzi-las à pele.

Todos os antropólogos são unânimes em afirmar que a tatuagem acompanha o homem desde seu surgimento. A Múmia mais antiga do mundo foi encontrada em 1991 na Itália e data de 5.300 anos antes de Cristo. Congelada em um bloco de gelo, a múmia tinha tatuagens acompanhando toda a espinha dorsal, além de uma cruz numa das coxas e desenhos tribais por toda a perna. A segunda e a terceira múmias mais velhas seguem o mesmo exemplo, tatuagens por todo o corpo.

A tatuagem não é algo apenas ATUAL, é uma prática que existe há milênios, algo criado pelo homem dentro da cultura onde ele estava inserido. Exemplos:

· Os Pictus (povo que viveu no norte europeu) tatuavam-se acreditando que as tatuagens lhes davam poder e força e que os desenhos ficavam impressos na alma para que eles pudessem ser identificados após a morte por seus antepassados;
· Os nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia, tatuavam-se em rituais complexos, sempre ligados à religião;
· Os povos Celtas e Vikings, os dinamarqueses, os normandos e os saxões tatuavam-se como forma de coragem, patriotismo para as guerras e batalhas;
· Para os Samoanos, o ato de pintar o corpo marcava a passagem da infância para a maioridade;
· No Japão feudal as tatuagens eram usadas como forma de punição, tornando-se sinônimo de criminalidade;
· Os chineses acreditavam que as tatuagens desviavam o mal de quem as possuía e marcavam a pele com labirintos sinuosos para confundir os olhos do inimigo;

O ato de se tatuar foi comunicado de pais a filhos, até os tempos atuais. Em cada cultura, a tatuagem toma um significado diferente. Em algumas era sinal de coragem, em outras, reverência aos mortos, adoração a deuses, misticismo, distinção entre criminosos e corretos, etc. Em nosso contexto (ocidente, século XIX) a tatuagem nada mais é do que uma vaidade, estética, feita principalmente por jovens. Era normal em alguns povos citados acima ver anciãos se tatuarem, o que não é normal hoje em dia. Portanto, um bom entendimento sobre o que é a “tatuagem HOJE” é essencial se quisermos fazer considerações sobre ela, principalmente no âmbito espiritual.

A tatuagem hoje em dia é feita pelos seguintes motivos basicamente: vaidade e estética (a grande maioria); manifestação de idéias/opiniões/conceitos (movimento contra-cultura, por exemplo); misticismo e blasfêmia (grande minoria, feita por pessoas que em grande parte querem apenas aparecer e criar pose de que é mau).

“A tatuagem nunca esteve tão na moda”, ouvi um pastor dizer recentemente. Diante de tudo que foi exposto acima, essa informação dita por muitos se torna equivocada. A tatuagem sempre esteve nas culturas humanas e devido ao preconceito da sociedade em que vivemos, a frase que usaria seria a seguinte: “A tatuagem nunca foi tão sufocada e atacada”.

As pessoas tatuadas são muito discriminadas, mas não por erro delas e sim por imaturidade e preconceito da sociedade. Todos têm direito de se expressar, seja da forma como lhe aprouver. Alguns preferem músicas, outros artes, desenhos, esportes, outros tatuagem!

Grande parte desse preconceito vem exatamente por influência da “igreja”. As investidas católico-romanas para expandir o cristianismo na Europa durante a idade média encontravam resistências por parte de vários povos que já tinham suas culturas estabelecidas. No começo ouve um sincretismo religioso para que o cristianismo adaptasse à cultura do povo. Os que resistiam eram mortos. Bárbaros, Vikings, Celtas, Zigotos lutaram bravamente contra a opressão. Essas hordas ou clãs eram perseguidos, aprisionadas e mortos em fogueiras pela “igreja” a mando dos senhores feudais (fonte de riqueza a Roma) que queriam exterminar possíveis “redentores do povo”. A “igreja” se aproveitou muito disso: a tatuagem passou a ser “coisa do demônio” tanto quanto os objetos culturais pagãos. Algumas das fábulas inventadas persistem até hoje.

E um fato que não pode deixar de ser comentado, é que a tatuagem era usada pelos primeiros cristãos . Vivendo na clandestinidade, acusados de terem incendiado Roma, os primeiros cristãos se reconheciam por uma série de sinais escritos e tatuados, com destaque para a cruz, as letras IHS (Jesus Salvador dos Homens em grego), o peixe (IKTHUS), etc.

Portanto, a tatuagem NÃO é um modismo que começou nas últimas décadas. Ela tem história, ela está na história dentro de praticamente todas as culturas já existentes.

A Bíblia não fala sobre tatuagem, é claro! Esse termo não existia na época em que foi escrita. Em alguns trechos podemos ler algumas ordenanças sobre “marcar e lacerar a pele” (são poucos e estão no Velho Testamento). Devemos ficar atentos para que esses textos sejam muito bem interpretados, pois, a tatuagem de hoje não é a tatuagem da época da Bíblia, o contexto é outro, a cultura é outra, a circunstância é outra. O versículo muito usado é:

"Não fareis lacerações na vossa carne pelos mortos; nem no vosso corpo fareis marca alguma. Eu sou o Senhor." (Lv 19:28).

Esse versículo tem sido muito usado como “a prova bíblica” contra a tatuagem. Mas isso revela uma falta de conhecimento tremenda, pois é um erro infantil de interpretação bíblica: “texto fora do contexto”. Na contexto da época, as pessoas se marcavam como forma de demonstrar seu luto, de expressar sua dor, e é exatamente isso que é advertido: "Não fareis lacerações na vossa carne pelos mortos...”. Creio que o ato foi advertido não pela marca em si e sim por outras questões que estavam envolvidas quando se ”tatuava por causa dos mortos” (idolatria, necromância, misticismo, etc).

Aos que gostam de usar esse versículo como condenação à tatuagem, eu respondo da seguinte forma: “Ok, mas não isole o versículo, ponha em prática o versículo anterior”. O versículo anterior proíbe aos homens cortar o cabelo e danificar a barba. Ou seja, se tatuagem é pecado apenas por causa desse versículo, é pecado cortar o cabelo e a barba também! Andemos como mendigos a partir de hoje.

Outros versículos são usados da mesma forma: isolados, sem contexto! Chegam ao absurdo de citar I Coríntios 6:19, 20 (“sois templos do Espírito Santo”), texto que fala sobre santidade, contra a prostituição, não sobre marcas na pele. Somos templos do Espírito Santo e devemos demonstrar isso com atitudes e não com aparência, mesmo porque, os maiores ladrões e assassinos do mundo andam de terno e gravata!

A tatuagem é uma demonstração cultural e creio que o Espírito Santo exulta de alegria em ver uma pessoa tatuar “Jesus, eu te amo” para todos vêem. E este mesmo Espírito Santo se entristece quando vê alguém politicamente correto sem tatuagem pecando. Ter tatuagem ou não interfere em sua vida cristã, seus atos sim, a disposição do seu coração sim!

Obs: Muitas das informações históricas desse texto foram retiradas do site:
http://www.solbrilhando.com.br/Teens/Tatuagens_e_P/Tatuagem_Historia.htm


Eliel Fernandes Vieira

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Segunda-feira, 22 de Outubro de 2007

Prosperidade: O Anseio Errado

Era uma vez um homem muito rico chamado Elias. Constantemente ele era citado em revistas de negócios pelo sucesso de suas empresas. Era um modelo para jovens empreendedores e estudantes de administração.

Elias era admirado inclusive pelos seus quase 4000 funcionários que o consideravam mais como um amigo do que como um patrão.

Mas a característica mais marcante de Elias era o amor que ele tinha para com os garotos de rua. Ao longo dos anos Elias já havia gastado milhões com casas de recuperação para drogados, orfanatos e escolas profissionalizantes.

Elias era inconformado com o sistema social que valoriza mais os animais do que as crianças. Não era raro ver Elias voltando para casa com uma nova criança de rua para cuidar.

Ele sempre vazia isso. Convidava as crianças e adolescentes de ruas a uma vida melhor do que nas ruas. E dava tudo de graça: moradia, conforto, amor paterno, alimento e também investia no ensino das crianças.

As crianças que davam valor ao presente de Elias e que quisessem prosseguir com os ensinos, ganhavam de Elias o ingresso para a Universidade.

A história que apresento a seguir aconteceu quando Elias trouxe das ruas o jovem Pedro. Havia 56 crianças na mansão de Elias quando Pedro foi resgatado. Pedro tinha 12 anos. Aos 7 viu seus pais serem assassinados por deverem a traficantes poderosos. Pedro era usuário de maconha e cocaína e aceitou, com gratidão, o convite de Elias:

_ Pedro, venha comigo. Serei seu pai e melhor amigo. Te darei roupas limpas, comida boa e um telhado para dormir. Você vai estudar, aprender uma profissão e vencerá na vida.

Pedro ficou constrangido pelo amor do velho Elias. Jamais alguém havia oferecido algo gratuito a Pedro, exceto as primeiras doses de droga.

As crianças resgatadas por Elias não deixavam de ser crianças. Eram bagunceiras e constantemente aprontavam bagunças na mansão do velho Elias que não se alterava.

_ Deixe eles brincarem. São apenas crianças – Dizia Elias.

Elias porém era bastante rigoroso em alguns pontos. Não aceitava as “panelinhas” entre os meninos e dizia que todos eram iguais, sem exceções. Ele ensinava para as crianças que os maiores tesouros que as pessoas podem alcançar são gratuitos: sinceridade, humildade e amor ao próximo.

_ Eu sou dono de muitas empresas, sou respeitadíssimo em todo mundo, mas, se eu não tivesse amor, não teria nada. Sigam meu exemplo crianças.

Todas aquelas palavras encantavam Pedro. Ele já estava fazendo planos para o futuro. Pedro queria ser rico, muito rico, para retribuir o favor do velho Elias e ajudar os jovens nas ruas.
O começo desastroso dessa história começa em uma fria manhã de domingo. Pedro foi ao encontro de Elias em seu escritório e lhe disse:

_ Pai, eu economizei uma parte do dinheiro que você me deu esse mês. Não consegui lanchar na escola sabendo que meus antigos amigos estão nas ruas se destruindo por causa das drogas. Sei que não é muito, mas gostaria de lhe devolver esse dinheiro para que você ajude outras pessoas.

Aquilo encheu o coração de Elias de alegria. O dono de milhões se sentiu abalado por uma quantia de 15 reais.

_ Pedro. Que gesto maravilhoso! Amo todos vocês sem distinção, mas esse foi o ato mais maravilhoso que já presenciei entre todas as crianças que resgatei.

Elias pensou em devolver o dinheiro a Pedro, mas pensou: “isso desvalorizará o esforço que dele para juntar esse dinheiro”.

_ Pedro – disse Elias – venha comigo.

Elias foi à estante de livros, abriu uma das prateleiras e retirou de lá um bracelete, o deu a Pedro e disse:

_ Sua atitude é digna de louvor, estou orgulhoso de você. Venha, quero contar a todos seu ato. Eles devem ter no coração o mesmo sentimento que você tem.

Pedro então chamou todas as 56 crianças, empregados e os vigias da casa para ouvirem o que ele tinha de falar.

_ Crianças, alguns de vocês estão aqui há quatro anos. Sempre me orgulhei do crescimento de vocês. Porém, Pedro, que está aqui apenas três meses, foi o que me deu a maior alegria – e contou toda a história.

As crianças voltaram para seus quartos com sentimentos diferentes. Alguns sentiam inveja de Pedro, outros, orgulho. Muitos reconheceram que haviam se acomodado com o conforto.
Ao entrarem no quarto, Carlos percebeu o colar no pescoço de Pedro e indagou:

_ Pedro, você só está aqui há três meses e pelo que ouvimos você economizou o dinheiro que tinha ganhado para devolver ao Pai, como você conseguiu esse bracelete de ouro?

_ O Pai me deu de recompensa agora a pouco. Disse que eu mereci pelo que fiz.

Pedro por ser inocente não havia percebido, mas Carlos e os outros meninos perceberam que aquele colar era muito mais valioso do que a pequena quantia que Pedro havia devolvido.

Foi a partir daquela manhã de domingo que tudo mudou. As crianças entenderam tudo errado e passaram a fazer contas de como investir melhor o dinheiro do lanche. As crianças bolaram um esquema de Causa/Efeito para as ofertas que elas dariam.

“Olha, Pedro deu 15 reais e ganhou um bracelete que deve valer mais de 1000 reais. Se eu não lanchar esse mês e pedir pra cancelar a aula de natação são 85 reais ao todo... O pai vai me recompensar bem assim”.

As crianças deixaram de amar Elias e começaram a bajular-lo. Sempre viam a ele com uma lista mental de consumo. E o pior, se sentiam frustrados por Elias não corresponder à bajulação delas.

A situação já estava ficando embaraçosa. As crianças não cumprimentavam mais o velho Elias e se achavam no direito de exigir: “eu plantei e direito de colher”. Quem sofria com isso era o velho Elias. Ele não cedia à alienação das crianças, pois não via sinceridade no coração delas. Para Elias, as crianças não estavam doando o dinheiro por amor aos órfãos de rua e sim para ganhar presentes.

Um dia Elias reuniu todas as crianças, exceto Pedro, pois temeu magoá-lo. Elias disse às crianças:

_ Nas últimas semanas eu recebi vários envelopes em meu escritório vindo de vocês. Dentro dos envelopes eu encontrei dinheiro e um bilhete com o que vocês queriam em troca. Eu não cedi a nenhum dos pedidos lá e, desde então, tenho percebido que vocês estão tristes comigo. Eu salvei vocês do mundo. Dei alimentos, roupas novas, os matriculei na escola e dei toda estrutura para um crescimento de vida e vocês ainda querem mais? E tentam me comprar com dinheiro? Vocês realmente amam as crianças de rua ou usaram isso como desculpa para ganhar presentes?

Com essas palavras algumas crianças começaram baixar o semblante reconhecendo o erro. Porém Carlos e alguns outros se sentiam revoltados. Carlos então bradou em voz alta:

_ Eu fiz exatamente igual o Pedro, me esforcei, juntei dinheiro e dei a você para que você ajudasse as crianças de rua e você vem com esse papo?

A história acima não é verdadeira, criei apenas para exemplificar a situação que a Igreja vive hoje em dia. Esse posicionamento de Carlos é o mesmo que muitas pessoas têm nas Igrejas neo-pentecostais brasileiras. Tem-se pregado um sistema de Causa/Efeito onde Deus se torna um empregadinho passivo obrigado a conceder Prosperidade em troca de merrecas doadas por corações interesseiros.

Vivemos na era na Bajulação Profética. A adoração sumiu há muito tempo. Não é mais Deus o soberano do Universo e sim nós. A situação atual me faz lembrar o sistema geocêntrico, bolado pelo astrônomo grego Cláudio Ptolomeu (150 d.C.). Ptolomeu ensinava que a Terra tinha a posição privilegiada de centro do Universo e que o Sol, a Lua e todos os planetas giravam em torno de nós.

De acordo com dados da ONU, 980 milhões de pessoas vivem em pobreza extrema no mundo. Enquanto isso a “igreja” tem pregado prosperidade pessoal e abundancia de bens materiais. Deus deve se enojar com isso.

Charles Spurgeon, um dos principais personagens na história da Igreja Batistas, disse certa vez: “Eu jamais ousaria usar uma coroa de ouro na terra onde meu Senhor usou uma coroa de espinhos”. E com essa frase eu termino.

Que Deus tenha piedade de nós...


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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Quinta-feira, 18 de Outubro de 2007

A Importância da Reflexão na Igreja

Venham, vamos refletir juntos, diz o Senhor”. (Isaías 1:18 NVI)

A Bíblia Sagrada relata que Deus nos criou segundo Sua imagem e conforme Sua semelhança. Nós, seres humanos, somos dotados de alguns atributos especiais que nos foram comunicados por Deus no ato da criação. Temos em nós, portanto, uma pequena centelha daquilo que Deus tem em plenitude.

O principal destes atributos que nos foi comunicado por Deus é a capacidade de raciocinar e, quanto a isso, não há dúvidas, afinal, todos os atributos que nos tornam diferentes dos animais estão ligados ao raciocínio: livre-arbítrio, criatividade, percepção, capacidade de análise, etc. O ato de raciocinar possui uma importância muito grande dentro do nosso dia a dia e é impossível existir um relacionamento com Deus sem que haja reflexão.

A filosofia é a ciência que trata da reflexão em primeira ordem, ou seja, o tema principal que a filosofia aborda é o pensamento e suas várias formas. Umas das melhores definições de filosofia que já li é: “a tentativa de pensar racionalmente e criticamente sobre as questões mais importantes da vida, a fim de obter-se o conhecimento a sabedoria a respeito delas” (Moreland & Craig, 2005).

A filosofia exerceu um papel muito importante na história da Igreja. Homens como Policarpo, Irineu e Tertuliano usaram da filosofia e desenvolveram pensamentos sólidos contra a então ascensão gnóstica dentro do cristianismo. Agostinho, o mestre de Hipona, através do pensamento filosófico, fundou importantes alicerces para a ainda imatura fé cristã, respondendo com sabedoria acerca de assuntos ainda não definidos como a Salvação pela Graça e Trindade.

Alguns pensadores cristãos são lembrados e respeitados até hoje entre não-cristãos como: Tomás de Aquino, Anselmo de Cantuária, João Calvino, Blaise Pascal, Sören Kierkegaard, etc.

Os livros de história nos mostram que no século IV, os debates sobre Trindade e divindade de Cristo faziam parte do cotidiano dos simples camponeses que viviam ansiosos para ouvir os resultados dos debates teológicos e concílios. O quadro atual é bem diferente. Pouco a pouco, a filosofia tem sido extinguida do cristianismo a ponto de não se pensar mais dentro da Igreja. O teólogo R. C. Sproul (editor da Bíblia de Genebra) disse, e com razão, que vivemos no período mais anti-intelectual que a Igreja já vivenciou.

Não é raro ver cristãos abandonarem a fé após ingressarem na Universidade. Qual a razão disso? Na Universidade eles são confrontados e questionados diariamente em suas disciplinas. Na Igreja, no entanto, os cristãos aprendem a ter medo de pensar.

Sim, é verdade. Quer fazer um teste? Ouse questionar alguma ação de seu pastor. Você será tachado de insubmisso, será afastado dos cargos que exerce na congregação e talvez te proíbam de participar da Santa Ceia. Para justificar tal ato apresentaram alguma abordagem bíblica fora de contexto e soltam aqueles famosos jargões do tipo “não toque no ungido do Senhor”.

Em congressos de medicina, administração ou economia os participantes debatem fervorosamente sobre os assuntos em pauta, concordando e discordando, buscando o crescimento em suas respectivas áreas. No cristianismo acontece o oposto, ninguém discorda, todos concordam com tudo.

A Igreja pode dizer amém?

A infeliz realidade é que a liderança cristã nos ensina a não pensar. Os crentes crescem com medo de questionar, medo de pensar e medo de expor suas opiniões. Os cristãos são incentivados por sua liderança a limitar sua leitura apenas a livros devocionais ou de batalha espiritual sensacionalista. Muitos consideram a ciência como obra demoníaca por não conseguir acompanhar racionalmente os avanços dela.

É interessante observarmos as crianças. Elas não têm medo de pensar. Os pequeninos são verdadeiros desbravadores do conhecimento. Talvez seja essa uma das razões de Jesus ter dito que o Reino dos Céus pertence a elas. Elas têm ânsia de conquistar mais e mais conhecimento.

Já pararam para perceber como as crianças nos primeiros anos de vida gostam de acender e apagar a luz? Já perceberam como elas gostam de olhar para o espelho? Como gostam do barulho do molho de chaves? Como gostam de animais?

Uma criança descobre que ao apertar certo botão algo estranho acontece, surge uma luz. Uma sensação extasiante para ela. Com isso ela começa a aguçar os sentidos, a percepção.

Deus nos criou para pensar, para desenvolvermos nossa capacidade de raciocínio. As crianças demonstram isso pois ainda não tiveram este sentimento podado. Eu me recordo de que minha primeira reflexão teológica aconteceu quando eu ainda era criança. Minha mãe estava contando as histórias da Bíblia para eu e meus irmãos quando eu perguntei: “mãe, depois que Deus destruiu o mundo com a chuva ele prometeu que não destruiria mais a humanidade, por que então ele destruiu Sodoma e Gomorra?”. Não me lembro ao certo qual idade tinha, mas é certo que não devia ter mais que 6 anos.

Os pais não precisam se iludir. Tudo o que ensinam aos filhos será questionado cedo ou tarde. A forma como ela vai desenvolver aquilo que você ensinou vai definir se ela mudará ou não de pensamento. As crianças questionam toda informação que recebem. Seja em casa, seja na Igreja, seja na escola ou qualquer lugar.

É necessário que nós mudemos nosso conceito sobre o papel da reflexão dentro da Igreja. É necessário não temer. Se nós acreditamos que nosso Deus é onisciente e que ele transmitiu racionalmente tudo a nós através da Bíblia, não devemos temer questionamentos. Devemos ser a resposta que o mundo espera e não fugir das perguntas do mundo.

Penso, logo existo” dizia Descartes. Se pararmos de pensar, deixaremos de existir.

Venham, vamos refletir juntos...


Eliel Vieira
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