segunda-feira, 18 de maio de 2009

Tetráplica a Eli Vieira

Olá Eli, eis aqui minha resposta ao último texto produzido por você sobre mim.

Antes de qualquer coisa, perdoe-me pelo atraso. Mas, como você deve saber, a vida é uma correria e freqüentemente nos vemos encurralados com inúmeras tarefas e pouquíssimo tempo disponível. Veja bem, já são quase dois meses desde que você postou sua tréplica, pareceu ontem. Enfim, cedo ou tarde (e foi tarde) aqui está minha resposta.

Se não for te incomodar, redigi este texto (e pretendo redigir os futuros) com as conjugações verbais em primeira pessoa. Já que os textos e repostas são de minha parte acerca de você e de você acerca de mim, não vejo motivos para maquiar o elemento “eu” do texto. Dirigindo-me a “você” – ao invés de “ele” – também acredito que te valorizo como pensador, bem como enriquece este "espírito de valorização mútua entre as partes divergentes", mencionado por você no final de sua tréplica.

Aliás, convém mencionar, esta forma de “debate” que estamos fazendo, por textos, é muito mais enriquecedora do que as que eu já havia experimentado antes. Debates no Orkut geralmente me estressam. Primeiro porque, se você quiser criar uma resposta completa, você precisa de pelos menos 5 ou 6 posts – não raro alguém posta entre um destes posts e você vê a simetria de sua resposta indo por água abaixo; também, debates no Orkut costumam não ser valorizados por aqueles “contra” quem estamos debatendo. É irritante se preocupar com a gramática, com a fonte das informações mencionadas e, em contrapartida, ver seu “oponente” escrevendo “intaum”, “naum”, “dbt”, "indecissos", etc. além do velho ad hominem – confesso, aproveitando, que nunca vi estas características em suas falas no Orkut, pelo menos não contra mim; outro fator que irrita são aqueles “bicos” que postam coisas imbecis nos tópicos e acabam atrapalhando um debate que estava “fluindo” bem entre 3 ou 4 pessoas sérias; CTRL+C e CTRL+V acontece freqüentemente no Orkut também, vide Carlos Quântico.

Enfim, por estes textos nada disto ocorre e acredito, assim, que ambos nos enriquecemos. Todavia, pela vasta “experiência” que tenho de participação e observação destes debates virtuais, eu duvido muito que eu ou você irá mudar de opinião naquilo que divergimos. Não tenho condições de prover a você aquilo que você demanda para acreditar em Deus – evidências empíricas de Sua existência – e nenhum ateu até então conseguiu prover boas razões para que eu deixe de acreditar em Deus, nem você.

Os argumentos em seu texto caminham para dois absolutos: (1) o de que a crença em Deus é irracional e (2) o de que Deus é um ser cuja existência é improvável.

Se me permite, não quero me ater mais em pormenores supérfluos – geralmente semânticos – que foram motivos de gastança de parágrafos nos últimos textos nossos. Se houver algum ponto de seu texto que eu não comentei e que você gostaria que eu tivesse comentado aqui, me avise em sua próxima réplica e eu abordo-o no texto seguinte.


A Irracionalidade da Crença em Deus


Você questiona em seu texto o fato de eu ter compreendido mal a frase inicial de seu vídeo, a saber, "acreditar em entidades sobrenaturais sempre foi uma coisa muito irracional". Apenas para recapitular, eu mencionei alguns pensadores brilhantes que acreditavam em entidades sobrenaturais e perguntei se eles deveriam ser considerados pessoas irracionais por acreditarem nestas crenças.

Você, corretamente, me corrigiu:

Muito simples. Uma pessoa ter crenças irracionais não quer dizer que essas crenças destróem toda a sua produção intelectual. [...] A propósito, não existem pessoas irracionais. Existem crenças irracionais, foi o que eu disse no vídeo: acreditar em entidades sobrenaturais é uma coisa irracional, pois injustificada”.

Sim, eu “vacilei” neste ponto. Mas, permitindo-me justificar meu erro, minha mente estava um pouco viciada em relação e a este ponto e a culpa foi exatamente de um ateu. No mês de Fevereiro, em um debate na comunidade “Richard Dawkins Brasil”, eu fui advertido pelo moderador Roberto por ter chamado uma comparação de “imbecil”. A justificativa foi a seguinte:

Não estou querendo ser castrador, cerceador da liberdade de expressão ou coisa parecida, mas no meu entender, classificar como imbecil a argumentação de alguém equivale para todos os efeitos práticos a chamar o autor do argumento também de imbecil”. (Fonte)

Como os eventos foram próximos (a advertência que tomei e o texto que escrevi sobre seu vídeo) acredito que isto me influenciou de alguma forma. Se não influenciou, posso dizer pelo menos que ambos sofremos do mesmo erro.

Gostaria aqui também de desfazer o engano de que eu teria cometido ad verecundiam ao citar uma lista de pensadores clássicos que acreditavam em entidades sobrenaturais. Eu nego que tenha cometido esta falácia. Simplesmente pelo fato de que eu não tentei provar que Deus existe com base nesta lista. O que eu tentei provar – e nem foi “provar” uma vez que a parte em meu primeiro texto que contém a menção a estes pensadores não soa de forma conclusiva, mas sim questionadora – foi apenas que pensadores de todas as épocas possuíam suas crenças em entidades sobrenaturais (geralmente, Deus). Acredito que o fato de terem existido pensadores brilhantes que pensavam em Deus, prova que pessoas brilhantes também acreditam em Deus. Não enxergo falácia aí.

Aliás, abrindo um parêntese aqui, eu fico muito chateado quando, após esboçar alguma argumentação acerca de alguma coisa (sem mencionar a questão da existência de Deus em si), um ateu vem com a réplica de que “o fato de X não prova que Deus existe”. Veja, por exemplo, a resposta que meu amigo Pablo deu quando mostrei a ele um vídeo do Richard Dawkins.

Mas, voltemos à questão da irracionalidade da crença em Deus. O ponto em discordância é sua afirmação de que “acreditar em entidades sobrenaturais sempre foi uma coisa irracional”. Eu reafirmo que sua frase é um pressuposto e que não foi justificado ao longo de seu vídeo. Vamos às suas "justificativas":

[1] Você cita o filósofo Anselmo e seu argumento ontológico. Bem, o fato de um homem ter elaborado um poema – o argumento ontológico, que nem veio a ser batizado assim por Anselmo, foi composto em forma de poema, uma oração a Deus – não prova que a fé em Deus é irracional, mesmo porque, Anselmo não passou a acreditar em Deus após este argumento e, até onde eu sei, ninguém passou.

[2] Você cita o paradoxo de Epicuro sobre a suposta incoerência entre a onipotência de Deus e sua bondade. Bem, isto não prova que a fé em Deus seja irracional, prova apenas que existe uma suposta incoerência acerca da crença que Deus seja ao mesmo tempo poderoso e bom. O paradoxo de Epicuro pode provar que nós, talvez e bem provavelmente, não temos o conceito correto do que venha a ser a bondade e o poder do que Deus. C. S. Lewis levanta esta questão de forma perspicaz em seu livro “O Problema do Sofrimento” (Editora Vida, 2006).

Eu não vou gastar espaço aqui repetindo as mesmas respostas que os cristãos têm proposto ao longo dos últimos dois mil anos sobre este problema. Eu sinceramente nunca vi um ateu iniciar sua argumentação sobre a incoerência da onipotência e bondade de Deus a partir de uma resposta cristã já apresentada ao problema. As respostas atéias são sempre a mesmas: “se Deus não pode Ele não é onipotente” e “se Deus não quer Ele não é bom”. Existem duas falsas dicotomias presentes no paradoxo de Epicuro e, para ser bonzinho, é uma falta de respeito enorme propor sempre as mesmas frases a despeito de toda a argumentação que já foi proposta pelos cristãos sobre este "paradoxo".

Por você ser um ateu a quem eu admiro, abaixo eu redigi um pequeno trecho (em proporção, claro) da abordagem que C. S. Lewis faz sobre as “impossibilidades” a onipotência de Deus:

A palavra “impossível” em geral implica a supressão de uma frase iniciada com a locução “a não ser que”. Assim, é-me impossível ver a rua de onde estou sentado escrevendo neste momento. Ou seja, é impossível ver a rua a não ser que eu suba até o andar de cima, onde estarei a uma altura suficiente para olhar por sobre a construção intermediária. Entretanto, se tivesse quebrado a perna, eu diria: “É impossível subir até o andar de cima”, querendo dizer, contudo, que isso impossível, a não ser que alguns amigos apareçam aqui e me carreguem. Não posso dizer que ver cantos redondos é (...) possível ou não, pois ignoro se é contraditório ou não. Mas sei muito bem que, se é contraditório, é absolutamente impossível. O absolutamente impossível também pode ser chamado intrinsecamente impossível, porque traz em si sua impossibilidade, em vez de tomá-la emprestado de outras impossibilidades, as quais, por sua vez, dependem de outras. Não existe nenhuma oração iniciada por “a não ser que” ligada a ele. É impossível em todas as condições, em todos os mundos e a todos os agentes. (...) Se preferirmos dizer: “Deus pode dar e ao mesmo tempo negar a uma criatura o livre-arbítrio”, não logramos êxito em dizer coisa alguma sobre Deus. Combinações de palavras que não fazem sentido não adquirem sentido de repente só pelo fato de acrescentarmos a elas as palavras “Deus pode”. (...) Continua a ser verdade que todas as coisas são possíveis a Deus: as impossibilidades intrínsecas não são coisas e sim não-entidades. (...) Sua onipotência significa poder para fazer tudo o que é intrinsecamente possível, e não o intrinsecamente impossível. Podemos atribuir milagres a Ele, não o contra-senso.

[3] Sua terceira justificativa para a irracionalidade de Deus (pela ordem do vídeo) é o de que Deus é “improvável por ser complexo”. Sobre a improbabilidade, vou tratar mais a frente. Por enquanto vou me ater à questão da irracionalidade da crença em Deus.

Disse um pouco acima que reafirmo minha frase de que esta frase panfletária de seu texto carece de justificação. Primeiramente, como podemos observar tanto em seu vídeo como em sua réplica, você não se deu ao trabalho de explicar o que vem a ser algo racional ou algo irracional. Você esboçou alguma coisa, e, na falta de uma abordagem mais completa sobre a racionalidade – que você poderia fazer em sua próxima réplica a mim – vou usar a que você me concedeu em seu último texto. Você diz que:

Mesmo com um pouco de dúvida, eu sairei amanhã de casa sem esperar que de repente meu corpo seja arrebatado em direção aos céus. Para fins práticos, simplesmente acredito que a lei da gravitação continuará valendo, porque assim me dizem as evidências de duas décadas de vida. Posso dizer que a minha atitude em relação à gravidade é racional.

Bem, neste ponto você claramente mostrou que uma atitude racional, em sua opinião, é aquela que está em íntima relação com a observação empírica. Para você, é racional acreditar na lei da gravidade pois você pode observá-la e, segue-se (você não diz mas acredito que a inferência seja verdadeira de sua parte) é irracional acreditar em Deus por não haver evidências observáveis de sua existência.

Todas as crenças que temos – tome crença aqui no sentido epistemológico, não na conotação religiosa que o termo possui hoje em dia – são baseadas em outras crenças. Por exemplo: “o vento está soprando” (P). Esta crença sempre estará sustentada em outras, por exemplo “creio que o vento está soprando porque vejo as folhas se balançando” (Q); que, por sua vez, é sustentada em outra(s) crenças como “acredito que as folhas estão balançando porque posso observá-las se movendo com meus olhos” (R); que, por sua vez está sustentada em outra(s) como: “devo sempre tratar como verdade aquilo que meus olhos podem observar” (S); etc.

Esta cadeia de proposições é denominada estrutura noética de um pensamento. Uma das tarefas da Epistemologia é identificar qual é a melhor maneira de se construir estas cadeias de crenças de modo que as crenças desta estrutura sejam consideradas justificadas. Foram propostas até hoje duas teorias normativas para este fim: o fundacionalismo (também mencionando em alguns compêndios de filosofia como fundacionismo) e o coerentismo.

Para ser breve em minha explicação, o fundacionalismo diz que existem crenças básicas que não necessitam de justificação epistêmica e que são intrinsecamente justificadas. São as chamadas crenças-básicas. A cadeia epistêmica conforme o fundacionalismo é formada da seguinte forma:

(S) (crença básica) -> (R) -> (Q) -> (P)

Já o coerentismo diz que as crenças são justificadas quando a cadeia epistêmica apresenta uma coerência interna entre as proposições da crença. Da seguinte forma:

(R) -> (Q) -> (P) -> (R)

Eu tenho dificuldades para aceitar o coerentismo como melhor teoria normativa do que o fundacionalismo. Simplesmente porque ela incorre na falácia “petição de princípio”, ou “argumentação circular”. Teísmo e ateísmo seriam ambos justificáveis e verdadeiros se a melhor teoria normativa fosse o coerentismo, pois ambos, teísmo e ateísmo são coerentes em si. Apesar de, digamos, contradizer o objetivo da Epistemologia de sempre buscar o que venha trazer justificação para uma crença, o fundacionalismo parece-me ser uma teoria normativa mais razoável. Alguns filósofos empiristas concordam que a teoria normativa deve ser o fundacionalismo e que as crenças básicas (sem necessidade de justificação) são aquelas que observamos empiricamente com nossos sentidos.

Apesar de as crenças adquiridas pelos nossos sentidos serem sim baseadas em outras crenças (p. ex. na crença de que o conhecimento pode ser obtido pelos sentidos e na crença de que não estamos, por exemplo, sendo guiados mentalmente por monstros de outras dimensões como em Matrix) vou aceitar – e aceito mesmo, por motivos práticos – que as crenças obtidas pelos nossos sentidos são justificadas e propor que, é racional tudo aquilo que produzimos a partir de observações empíricas.

Somos seres racionais no sentido que, diferente dos animais, possuímos a capacidade de observar e analisar o mundo que nos cerca. Possuímos a faculdade da razão, motivo pelo qual Aristóteles nos chamou de “animais racionais” – não de forma pejorativa, diga-se de passagem. Pois bem, acho razoável aceitar que toda crença obtida através do exercício da razão – seja por observação empírica, seja por raciocínio lógico não falacioso – é uma crença racional.

Porém – e acredito que é aqui que me divirjo de você – não são apenas as crenças obtidas através do exercício da razão que devam ser consideradas racionais. Vamos ao exemplo que eu mencionei no meu primeiro texto (que você não comentou em sua tréplica) da crença que possuímos de que nossa mãe nos ama: É impossível postular qualquer evidência que suporte e justifique empiricamente a crença de que sua mãe te ama. Você pode dizer “minha mãe me dá presentes”, bem, se ela te odeia e estiver tentando te extorquir esta poderá ser uma de suas estratégias; “ela diz que me ama”, bem, se ela te odeia e não quer que você fique sabendo disto é bem provável que ela mentirá a você dizendo que te ama; “eu consigo enxergar nos olhos dela que ela me ama”, bem, ela pode ser bem convincente quando mente e pode estar te enganando. Enfim, não se pode apresentar nenhuma prova conclusiva de que sua mãe te ama. Porém, você não vai concordar se eu disser que sua crença no amor de sua mãe é uma crença irracional. Não, o amor de sua mãe parece ser algo absolutamente verdadeiro para você e não há motivos para pensar neste amor como uma crença irracional apenas porque você não consegue apresentar uma prova observável de que este amor de fato existe e é verdadeiro. Tratando “racional” pelo aspecto natural que a Razão representa para o ser humano, é perfeitamente racional dizer que minha mãe me ama, a despeito de eu poder apresentar observações empíricas para esta crença.

Minha tese é a de que o conhecimento é racional, não necessariamente por ter sido obtido através do exercício da razão, e sim por não contradizê-lo. A crença de que minha mãe me ama não foi obtida através do exercício da razão, porém, não contradiz minhas observações empíricas do mundo (que seriam aqui minhas crenças-básicas conforma a teoria normativa do fundacionalismo). Tente visualizar uma situação cujas observações empíricas apontassem negativamente para uma crença de que a mãe ama o filho. Imagine uma mãe, por exemplo, que tentasse matar o filho todas as noites. Neste caso, a crença de que a mãe ama o filho contradiziria os fatos observáveis e, por esta razão – e não por não ter sido obtida através do exercício da razão ou da observação – esta crença seria irracional.

Tomemos agora a crença em Deus. Ela, de acordo com você, é irracional. Mas por quê? Pelo fato de a crença em Deus não gozar de evidências no mundo natural? Bem, o fato de uma tela não ter sido assinada não significa que ela não tenha sido pintada. Ou seria pelo fato da crença em Deus não ter sido obtida através do exercício da razão? Ora, mas a crença de que possuímos de que nossa mãe nos ama também não é, todavia, não a consideramos uma crença irracional.

Você pode argumentar: mas a crença em Deus contradiz as descobertas feitas pela ciência empírica. Para não dizer “mentira”, digo “falso”. Nada do que a ciência descobriu tem apontado negativamente para a hipótese de que Deus existe. É uma inferência muito absurda e tendenciosa - talvez até um salto de fé kiekergaardiano - acreditar que a ciência aponta negativamente para a existência de Deus apenas porque ela não aponta positivamente para sua existência. Acho um erro absurdo, por exemplo, Dawkins dizer por várias vezes que a existência de Deus contradiz as descobertas da ciência. Eu concordo que algumas visões de alguns segmentos religiosos contradizem as descobertas científicas, mas a crença em Deus, em si, não é intrinsecamente incompatível com as descobertas da ciência, mesmo porque, percebe-se uma tendência por parte dos cristãos de sempre buscar se adequar àquilo que a ciência descobre.

Portanto, acredito que sua afirmação “acreditar em entidades sobrenaturais sempre foi algo muito irracional”, é falsa. Apesar de ser uma "frase panfletária", segundo suas próprias palavras, ela é uma crença muito disseminada no ateísmo, porém, sem justificação epistemológica. Aliás, deveria ser a Epistemologia a lidar com a racionalidade ou irracionalidade da crença em Deus, e os exemplos citados por você não contém muitos movimentos epistemológicos (se é que possui algum).

De qualquer forma, cabe a você o direito da réplica à minha proposta e ficaria feliz em lê-la (até mesmo para melhorar minha própria tese se ela estiver errada).


A Improbabilidade de Deus


Você disse que:

A complexidade a que me refiro não é atributo cuja quantidade é diretamente proporcional à dificuldade da mente humana de entender o objeto dotado de tal atributo.

Pois bem, fico feliz em saber que você pensa assim. Afinal, a abordagem sobre improbabilidade sobre a qual me referi foi exatamente esta que você não disse ser a sua, que é apresentada em “Deus, um delírio” e outros textos de Dawkins. “Complexo é apenas outra palavra para ‘complicado’”, disse Dawkins certa vez.

Você diz que seu pensamento sobre improbabilidade é mais ontológico, a saber, algo é mais complexo que outro quando possuir uma quantidade maior de partes internas e uma quantidade maior de interação entre estas partes internas.

Eu sinceramente não vejo como isto se aplicaria à suposta improbabilidade de Deus. Para você Deus, como mente, é improvável porque a mente é algo complexo que surgiu após bilhões de anos, no ser humano, através da seleção natural. Primeiramente, existe uma inferência que não pode ser feita – a não ser que a reconheça como pressuposto – aqui: o fato de a única forma de mente que você conhece ter vindo à existência através de um processo de seleção natural não implica que todas as mentes em todos os lugares e em todos os mundos possíveis (já que estamos falando sobre Ontologia) tenham surgido assim. Não é pelo fato de eu conhecer apenas X cores que não existam outras cores no Universo.

Eu discordo de William Lane Craig (link) de que a mente seja uma entidade simples – apesar de que sua proposição deve no mínimo ser analisada pelos ateus e também de considerar, diga-se de passagem, que ele destruiu o argumento de Dawkins de que não se deve postular Deus como resposta apenas por que Deus levanta mais questões do que responde –, Deus, é sim um ser complexo. Afinal, um ser que tenha tido poder suficiente para criar toda a complexidade do universo com seus ajustes finos – que você não considera complexos por serem finos, enfim – necessariamente tem de ser um ser absurdamente complexo aos nossos olhos.

Não sei se o curso de Ciências Biológicas fornece a disciplina de Estatística para seus pupilos, porém, como estudante de Economia e Comércio Exterior, sou muito familiar com esta disciplina. Probabilidade, como qualquer “assunto” da Estatística, requer cálculos. Apesar de ser uma disciplina um tanto inexata e especulativa, ela ainda assim é exata. Existem parâmetros, bases, cálculos e protocolos a serem observados antes que venhamos a dizer se algo é improvável ou não. Nunca vi estes cálculos quando um ateu afirma que Deus é um ser de existência improvável, ou, nas palavras mais absurdas de Dawkins, um ser "estatisticamente improvável".

A complexidade de algo não implica a improbabilidade do mesmo. A própria “existência” das coisas em si mesma deveria ser considerada improvável por “existência” ser de um conceito demais complicado, se assim fosse. O argumento ateísta de que a ciência vai conseguir cada vez mais minuciar os eventos no universo até chegar ao ponto de poder mostrar qual foi o ínfimo evento que gerou tudo a seguir, é inútil. Será útil, sim, para entendermos como as coisas aconteceram - ou como Deus realizou as coisas, na visão teísta - mas, no tocante à simplificação do entendimento ateísta de mundo, é inútil. Qualquer evento, por mais ínfimo que seja, será absurdamente complexo e de variação percentual de valor infinito se comparado ao ZERO, ao nada, que é aquilo que seja espera de algo inexistente, sem causa operando.

Vou explicar isto melhor. Para descobrirmos qual é a variação de mudanças de entre A e B em um período de tempo, devemos dividir B por A, subtrair 1 e multiplicar por 100. Por exemplo, para descobrirmos a variação percentual de 4 para 7, devemos dividir 7 por 4 (1,75), subtrair 1 (0,75) e multiplicar por 100, resultado = 75%.

Porém, quando tratamos de um início ZERO, as coisas dificultam, pois, como aprendemos desde o ensino primário, não se pode dividir nenhum número por ZERO. Vários teóricos matemáticos têm proposto, todavia, que as divisões por ZERO são sim possíveis “hipoteticamente”, já que o resultado é um número hipotético. Segundo estes teóricos, independente do número que se pretenda dividir por ZERO, o resultado obtido será “infinito”. Para entender, observe os cálculos a seguir (a “/” é o travessão da divisão):

1)1/0,1 = 10
2)1/0,001 = 1000
3)1/0,000000000000001 = 100000000000000

Ou seja, em uma divisão entre números positivos, quanto mais próximo o denominador estiver de ZERO, maior será o resultado. Isto nos leva a concluir que, em uma divisão entre B e A, sendo A = ZERO ABSOLUTO, o valor do resultado será “infinito”, independente do B que você tenha.

Existe um consenso matemático que “infinito” não é algo real, mas apenas uma idéia em nossa mente, daí a razão de se postular que qualquer divisão por ZERO é ilusória.

Aí você pode me perguntar: o que raios isto tem a ver com nossas questões debatidas? Simples. Uma vez que o universo veio a existir a partir do nada (em algum "momento", o não-universo passou a ser universo, a não-existência passou a ser existência), a variação entre A (não-universo) e B (universo) é simplesmente de valor infinito. A tarefa ateísta de simplificar e minuciar cada evento e, assim, argumentar que não teria sido assim tão improvável que o universo surgisse do nada e culminasse bilhões de anos depois com a existência dos seres humanos, é uma tarefa completamente infrutífera para os propósitos ateístas.

Por definição, não importa qual venha a ser o B, se o A for absolutamente ZERO, a variação percentual de mudança de um para o outro é de valor infinito, assim, infinitamente improvável. Portanto, um universo tosco, estranho e sem ordem é tão infinitamente improvável de ter surgido quanto um universo pronto para vida que surgisse instantaneamente. Ambos possuem a mesma porcentagem de variação em relação ao não-universo, e está variação é infinita.

A probabilidade de um evento que já ocorreu, como você disse, é 100%. Porém, se Deus existe ou se Deus não existe, este fato é um fato que já ocorreu e que está ocorrendo, não é uma asserção sobre um futuro, como algo que virá a acontecer. Quando um ateu fala sobre a probabilidade da existência de Deus, ele não pode falar como se a existência de Deus fosse intrinsecamente relacionada ao pensamento humano sobre Deus. Não conseguimos dizer com certeza nem o que se passa no planeta vizinho, que dirá sobre um Ser que, se existe, está além de todo o universo.


Como não estás em minha mente...


Você disse algo muito interessante Eli, que gostaria de usar para justificação "adicional" de minha crença. Aliás, este argumento já foi usado muitas vezes e é, digamos, a base de fé de muitas pessoas. As pessoas dizem que acreditam em Deus porque possuem uma testificação interna de Deus de que esta crença é verdadeira. Os ateus logo levantam coro, dizendo que isto é um absurdo. Para minha surpresa, em seu último texto, você me disse o seguinte:

Como isso somente pode ser verificado nas minhas memórias, creio que eu tenho mais autoridade que Eliel para afirmar que o que eu digo não é meramente uma repetição ou "leitura" de Dawkins.

Usando suas mesmas palavras, como somente eu (e os demais crentes em Deus) posso evidenciar qual seja este sentimento de testificação e certeza que a crença em Deus traz a mim, acredito que tenho mais autoridade para afirmar que, sim, temos tal testificação. Alguns ateus dizem que, se assim for, Deus seria injusto, pois se testificaria a uns e não a todos. “A intimidade com Deus é para aqueles que o buscam” (Sl 25:14).

Certa vez em um debate, sobre esta mesma questão, respondi ao ateu da seguinte forma: suponha que Deus existe, se assim for, não seria razoável aceitar que aqueles que acreditam nele não teriam “mais chances” de conhecê-lo do que aqueles que fazem piadinhas sobre ele no Orkut?


Conclusão


Como eu já disse, esta experiência de “debater” através de textos se mostrou muito mais agradável do que as demais que já tive. Ela me dá a oportunidade de crescer intelectualmente.

Tenho lido ultimamente algumas coisas de Freud e descobri que um dos melhores amigos de Freud era um pastor cristão chamado Oskar Pfister. Eles se encontraram pouco pessoalmente e se comunicavam mais por cartas. A despeito de suas diferenças, Freud escreveu a Pfister (04/10/1909): “Uma carta sua faz parte do mais belo que pode recepcionar a gente no regresso para casa”. E Pfister a Freud (30/12/1923): “Se me perguntassem sobre o lugar mais aprazível da terra, eu responderia: informem na casa do professor Freud”.

Fico muito feliz de ter se referido à minha pessoa sobre alguém “estudioso”, de quem você gosta e que proporcionou a você “debates desafiadores”.

Tenha certeza de que a recíproca é verdadeira. Apenas não respondi a aquele tópico no Orkut, pois, sinceramente, o vi apenas semana passada quando alguém deu um “up” no tópico. Estou me envolvendo pouco em debates no Orkut por, além dos motivos já citados, estar escrevendo um livro com minhas considerações sobre o ateísmo (esta foi a razão de ter perguntado sobre como você prefere que seu nome seja apresentado em um bibliografia). Acredito que seja intrínseca a todo leitor compulsivo (deve ser a você também) a produção de uma obra. Estou trabalhando nisto atualmente, conforme o tempo livre me permite.

Este texto ficou maior que o anterior, mas ainda assim existe uma série de questões que gostaria de ter abordado, mas, pela falta de tempo, não abordei aqui. Desculpe pela demora de quase dois meses para te responder, mas eis aqui a “tetráplica”.

Um abraço!


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

Creative Commons License
DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.



Continue a leitura...

sábado, 2 de maio de 2009

Sobre os Homossexuais

Muito tem se falado ultimamente sobre os homossexuais. Os evangélicos estão mordidos de raiva pelas supostas “concessões” que a Justiça Brasileira tem dado a estas pessoas. Hoje não se pode mais julgar um homossexual como “diferente” de maneira alguma e isto inclui não poder dizer em púlpito que eles são pecadores e que vão queimar no inferno. Como conseqüência destas últimas decisões judiciais, muitos pastores têm sido “perseguidos” – alguns já abandonaram o Brasil para não serem presos – e os evangélicos enxergam todo este panorama de limitação e perseguição como sinal de que a “Grande Tribulação” está se aproximando.

Bem, antes de começar a dizer minhas opiniões neste texto devo fazer algumas considerações. A primeira é que não considero o homossexual uma pessoa com menos moral do que um heterossexual. Não é intrínseca ao homossexualismo a promiscuidade moral.

Para meus propósitos neste texto, podemos dividir o mal em duas formas: (1) o mal que a pessoa comete contra si mesma e (2) o mal que ela comete contra os outros.

É lugar-comum aceitar que uma pessoa que age de forma maléfica contra o próximo é muito “pior” do que a que pratica mal contra si mesma. Por exemplo: duas pessoas têm o costume de beber. Uma delas mora sozinha e prefere beber extravagantemente em sua casa assistindo algum jogo de futebol e fazendo sujeira pela casa; outra bebe menos, socialmente, mas gosta de ir de carro ao “Bar do Toninho” para beber. Qual destas duas pessoas é mais incorreta moralmente?

A resposta – acredito que você pensou como eu – é que o segundo cidadão é o mais imoral, pois seu ato causa perigo à sociedade uma vez que dirige embriagado quando volta para casa. O outro cidadão, mesmo bebendo muito mais que o segundo, está prejudicando apenas a si mesmo com sua bebedeira.

O ato homossexual em si não é imoral, no sentido de que não traz prejuízo algum às demais pessoas como um seqüestro, um assalto, um assassinato ou uma mentira. Eu considero que os atos cometidos contra o próximo são distorções morais muito maiores do que os atos que uma pessoa comete contra si mesma. Questiono até se os atos que a pessoa comete contra si mesma (como o suicídio ou o ato de fumar) devam ser considerados “distorções morais” uma vez que, quem age, age com liberdade e consciência do que está fazendo. A Liberdade que nos foi instituída e garantida pelo próprio Deus.

Hoje tenho 23 anos e já conheci cerca de uma dúzia de homossexuais ao longo da minha vida. Em nenhum deles eu vi algo que poderia denominar como “imoralidade”. Pelo contrário, todas são pessoas honestas, trabalhadoras, estudiosas e que possuem um razoável conhecimento sobre política, direito e até religião. Por serem perseguidos desde o berço com rejeições na família e no período escolar, os homossexuais não possuem outra pessoa a quem amar além delas mesmas. Sendo assim, são pessoas que prezam pela ética porque qualquer deslize que cometam (um roubo de balas, por exemplo) será condenado com uma intensidade muito maior do que se o roubo tivesse sido cometido por uma pessoa heterossexual.

Em minha opinião os pastores que retiram dinheiro dos fiéis para bancar luxo pessoal, ou os cristãos que traem seu conjugue, ou os políticos que usam a máquina pública para se perpetuarem no poder, agem de forma muito mais imoral do que uma pessoa que decide se relacionar afetivamente com uma pessoa do mesmo sexo.

Esta é minha opinião.

Se o homossexualismo é um pecado, ele é, digamos, um pecado muito menor do que o pecado do roubo, do assassinato, do falso testemunho, do orgulho ou da luxuria, pois todos estes causam males às pessoas próximas, e o homossexualismo, a priori, não.

Acontece que na igreja podem “ministrar louvor” os mentirosos, os orgulhosos (isto é o que mais tem) e os consumistas extravagantes, mas de maneira alguma, sob hipótese alguma, um homossexual pode. Os evangélicos adoram falar que não existe “pecadinho ou pecadão”, mas eles são os que mais fazem distinção entre pecados. Para não ser hipócrita, sendo eu mesmo um evangélico, reconheço que até eu erro em meus julgamentos usando uma escala de “pecadinho e pecadão”.

Portanto temos hoje o seguinte quadro: a lei brasileira proíbe que se fale contra o homossexual e contra o homossexualismo em quaisquer hipóteses. Antes de dizer qual deva ser a posição da igreja em relação ao homossexualismo, devo deixar claro que eu endosso e aprovo a intenção desta lei. Quantos jovens já não se mataram por terem sido rejeitados por uma sociedade preconceituosa? Temos que admitir que somos muito preconceituosos. Eu mesmo confesso que ainda estou trabalhando para me libertar de preconceitos que ainda tenho.

Estava observando os dados de uma pesquisa esta semana. Ela mostrava que apenas 32% da população brasileira votaria em um candidato homossexual, independente dele ter uma boa plataforma de campanha e boas propostas.

Querendo ou não, assumindo ou não, somos uma sociedade preconceituosa e os homossexuais são um dos grupos mais afetados pelos nossos conceitos (ou pré-conceitos). O projeto de lei, que tem causado pavor nos evangélicos, apenas garante aos homossexuais os direitos que estavam sendo roubados deles por causa de nosso preconceito. Todo homossexual tem direito a trabalhar; todo homossexual tem o direito de ir e vir; e os locais públicos, são públicos também aos homossexuais. Eles pagam os mesmo impostos que nós pagamos.

Se você for evangélico, provavelmente estará aqui com mil pedras para tacar mim, com o seguinte argumento: “Mas temos que conscientizá-los sobre os erros deles, denunciar a promiscuidade sexual que impera no mundo que jaz do maligno e devemos ser também submissos à Bíblia, mais do que submissos ao Estado”.

Pois bem, vamos mudar agora a esfera da questão. Até então mostrei porque não devemos considerar os homossexuais como pessoas mais imorais do que os heterossexuais, uma vez que os homossexuais – se estão causando algum mal – estão causando apenas a si próprios.

Primeiramente, devo corrigir um erro grave no questionamento do meu evangélico imaginário acima. Não devemos ser submissos à Bíblia e sim a Deus. Os evangélicos possuem certa idolatria à Bíblia, o que é pecado. Alguns praticam até alguma espécie de bibliomancia: abrem a bíblia em algum lugar aleatório e lêem o primeiro versículo que aparecer. Não duvido que Deus fale a nós desta maneira em alguns momentos, o próprio Santo Agostinho (teólogo mais influente de toda a história da Igreja) veio a se converter assim, porém, condicionar nossa vida cristã a está pratica é algo absurdo. Tem crente que para saber se deve ou não ir ao cinema vai fazer uma “consulta” na Bíblia pelo método de bibliomancia – é verdade, não estou mentido, conheço pessoas assim.

A Bíblia foi escrita em contextos diferentes dos atuais. Se formos nos basear no que está escrito literalmente na Bíblia, não devemos apenas repudiar os homossexuais, mas matá-los (Levítico 20:13). A Bíblia, bem dizia algum de meus professores de seminário, não foi psicografada pelo Espírito Santo, mas inspirada. Existem muito resquícios humanos (inclusive preconceito) nos escritos da Bíblia. Ou você acha que Deus realmente quer que matemos os homossexuais?

Vamos voltar ao questionamento do evangélico imaginário (que pode ser você). Devemos, de acordo com este evangélico, denunciar e conscientizar os homossexuais de seu pecado. Vejo aqui um erro muito grave e muito comum entre os cristãos. O erro de se achar no direito de apontar o dedo sobre o erro alheio.

Para início de conversa, os cristãos em geral não são pessoas aptas a apontar o erro para criticar os homossexuais, uma vez que os cristãos são tão pecadores quanto os eles. Devemos retirar as travas de nossos olhos antes de reparar no cismo do olho de nosso irmão (Mateus 7:3). Foi em nações cristãs que a pornografia surgiu (e os países que mais acessam pornografia na internet são as nações com maior número de cristãos). São as nações cristãs que oprimiram e ainda oprimem os países asiáticos, africanos e latino-americanos. Lembro de ter lido um testemunho de um missionário cristão britânico que foi à Índia e, pregando para o povo, ouviu a seguinte réplica de um indiano: “Vocês cristãos amam a Deus? Mas vocês oprimem nossa terra e escravizam nosso povo...”.

Não somos dignos de apontar os erros dos homossexuais porque somos tão pecadores quanto eles. Nosso mestre Jesus disse que devemos ser totalmente puros para poder julgar os outros - sabendo que jamais seremos puros aqui na Terra -, exatamente porque Ele abomina os julgamentos. Assim penso.

Quem convence o homem do pecado e do erro é o Espírito Santo (João 16:8), não nós. Ao julgarmos alguém, dizendo que este alguém vai para o inferno por causa de seus atos, estamos tomando para nós mesmos os papeis de Deus, de Jesus e do Espírito Santo. De Deus porque já estamos antecipando um julgamento que só ocorrerá no final de todo o mundo; de Jesus porque afirmamos sermos nós – Igreja Evangélica – os portadores da Salvação, título que cabe unicamente a Jesus; e estamos tomando o papel do Espírito Santo porque nos achamos no direito de apontar os erros das pessoas, como se nossas palavras pudessem convencê-los de seus erros.

Minha namorada recentemente me perguntou algo como (em relação aos homossexuais): “Mas e aí, em sua opinião, o que devemos fazer? Devemos ficar calados?”. Pelo tamanho deste texto você deve ter percebido que esta não é uma resposta simples de se dar. Por isso gosto de escrever, ninguém me interrompe e consigo expor todos os pontos de forma objetiva e sistemática.

O que faremos então em relação aos homossexuais?

Primeiramente (e talvez unicamente) devemos amá-los. Jesus resumiu toda lei e toda vida cristã em dois ensinamentos apenas: amar a Deus de todo coração e amar ao nosso próximo como amamos a nós mesmos (Mateus 22:34–40).

Como a nós mesmos.

Pense: como você gostaria de ser confrontado acerca de um erro que você tem cometido?

Opção A: Com julgamentos? Com ameaças de fogo do inferno? Com a rejeição de sua família, amigos e sociedade?

Opção B: Com amor? Com conversa? Com alguém para te ouvir? Com um ombro para se apoiar? Com um abraço? Com uma mão estendida para todas as vezes que você errar?

A maneira como você deseja ser confrontado pelo seu erro deve ser a maneira como você deve confrontar uma pessoa que está errando. Este talvez seja o princípio bíblico mais valioso que existe: amor ao próximo. Devemos amar as pessoas como amamos a nós mesmos, valorizá-los da mesma forma que desejamos ser valorizados. Os evangélicos odeiam estar na capa dos jornais e nos noticiários de TV quando algum podre é descoberto pela mídia. Da mesma forma, acredito, os homossexuais se sentem quando são esculhambados nos cultos e nos programas de TV daqueles pastores de terno e cabelos brilhantes.

Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mateus 7:12)

Respondendo à pergunta de minha namorada, devemos pregar o evangelho a todos com amor. Falar de Jesus, do perdão aos pecados, da Graça que nos é dada de graça e da certeza de salvação. Não é preciso fazer menção a pratica homossexual para pregar o evangelho. Eu mesmo não precisei dizer que os homossexuais estão pecando ao escrever um texto com minhas considerações sobre o homossexualismo. E nem vou dizer. Não sou digno de julgar os homossexuais, porque tenho consciência que sou mais pecador que eles, uma vez que, sendo conhecedor do Evangelho, não dou o exemplo que deveria dar e não sou a pessoa que deveria ser.

Para terminar este texto, vou citar aqui um pensamento de Caio Fábio, um dos pastores a quem eu mais admiro:

Alguém pode imaginar Jesus mobilizando o povo para uma campanha anti-gay ou pró-gay? Alguém consegue ver Jesus mobilizando seus apóstolos a se tornarem militantes em favor ou contra qualquer das duas causas?

Alguém acha que o título que os pitbuls do tempo e da religião deram a Ele [chamando-o acusativamente de “amigo dos pecadores”] excluía seu acolhimento a pecadores sexuais – fossem eles heterossexuais, homossexuais, ou simpatizantes, como era comum num mundo dominado pelos pervertidos romanos?

Alguém consegue ver Jesus agredindo um gay com palavras ou sugerindo leis que as coibissem?
[...] Alguém viu Jesus ser duro ou implacável com algum grupo nos evangelhos além do dos religiosos hipócritas? Alguém crê de coração que Jesus caminharia à frente de marchas em favor ou contra qualquer coisa?

[...] Alguém viu Jesus se ocupar de qualquer coisa que não fossem aquelas que matam a alma, como ódio, mentira, falsidade, hipocrisia, fanfarrice, manipulação da fé, riquezas idolatradas, soberba e juízos perversos?. (Fonte)

Termino o texto com estas palavras. Se você, homossexual, está o lendo, saiba que a dois mil anos atrás o Logos de Deus, abandonou o “ser Deus”, nasceu em carne, suportou todas as dificuldades que passamos por nossa limitação, sofreu rejeição, foi traído e, por fim, foi condenado e morreu injustamente. Alguns teólogos dizem que Jesus fez tudo isto para conhecer “na pele” as dificuldades que passamos na vida, tal grande foi seu amor por nós. Jesus foi rejeitado, ele sabe muito bem o que vocês passam.

Deus te ama tanto que Ele veio em Terra sentir o que você sente, para anunciar a você que Seus braços estão estendidos para abraçar vocês e os receber.

Esta é a mensagem do Evangelho. Qualquer coisa que vier além desta simples mensagem, o Espírito Santo vai te mostrar, amorosamente, como uma mãe ensina o filho o caminho pelo qual o filho deve seguir.

Qualquer dúvida, mandem-me um email.


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

Creative Commons License
DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.



Continue a leitura...

Related Posts with Thumbnails

  © Blogger template 'A Click Apart' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP