Gosto muito de trazer à memória meus tempos de infância. Tempos felizes e alegres, sem preocupações. Tempos em que tocava a campainha das casas das pessoas e sair correndo; tempos em que colocava sapos nas caixas de correio das pessoas; tempos em que jogava bola na rua; e, para funcionar como analogia para este texto, tempos dos pés de manga!

Aqui em Minas Gerais são três as frutas mais apreciadas pela criançada: goiaba, jabuticaba e manga. Não falo das metrópoles em Minas, mas das regiões periféricas e do interior. Se você visitar uma fazenda em Minas Gerais certamente você encontrará lá goiabeiras, jabuticabeiras e mangueiras. Mas as mangas são diferentes. Elas são as únicas frutas que são mais gostosas se comidas no próprio pé. Goiabas e jabuticabas não! Você pode comprá-las em qualquer quitanda e elas terão o mesmo gosto.

Outra característica interessante nas mangas é que o modo de des-frutar delas é absoluto por aqueles que a degustam. Eu quero dizer com isto que, se você gosta de chupar manga se lambuzando, você não vai gostar de comê-la picada; se você gostar de comê-las picadas, você vai detestar se lambuzar; se você gosta de subir no pé para colher as mangas que quiser, você não vai gostar que façam isso para você, e vice e versa.

E uma das lembranças mais prazerosas que tenho de minha infância e adolescência são as mangas e seus pés!

Subir ao pé, escolher as mangas, chupá-las lá em cima e depois jogar o caroço (ainda todo lambrecado) na cabeça de algum amigo seu lá embaixo. Dá saudades!

Enfim, todo estas lembranças dos pés de manga e as peripécias de minha infância me trouxeram um insight filosófico. As semelhanças são inúmeras! Para visualizar isto, pense nas possibilidades de aprendizado e conhecimento sobre a fé como se fossem um grande pé de manga, totalmente recheado de frutas.

Da mesma forma como as pessoas se divergem da forma como vão escolher suas mangas, as pessoas se divergem na hora escolher o que estudar (se estudar). Algumas pessoas são mais conservadoras, e preferem comprar suas mangas na quitanda (não querem se dar o trabalho de ir ao pé apanhá-las por si mesmas); assim como existem aquelas pessoas que não desejam ir ao pé de manga das possibilidades de conhecimento para pegar suas mangas. Já outras pessoas preferem ir ao pé e tacar pedras lá debaixo tentando acertar as mangas que elas acham que são boas, não conseguem aí catam as mangas que estão no chão (certamente, as piores); assim como existem também aqueles que apenas vislumbram as possibilidades conhecimento, mas tentam achar atalhos para consegui-lo e acabam apanhando apenas porcarias. E também existem os mais moleques, que sobem ao pé, vão às galhas mais altas e mais perigosas, apalpam todas as mangas, mordem umas, chupam outras, etc.; assim como existem os moleques filosóficos, que sobem ao pé das possibilidades de conhecimento e fazem o que querem quando estão lá, sem se importarem com os outros.

Quando se chupa manga, alguns são mais conservadores e comem-na em fatias; outros se lambuzam, enchem os dentes de linhas, roem o suco da manga até o caroço ficar liso, etc! Quando se busca conhecimento, alguns são mais conservadores e sistemáticos, outros não estão nem aí, são apenas crianças desbravadoras do conhecimento!

Fisicamente eu não agüento mais subir a pés de mangas e ficar lá em cima por horas chupando mangas e tenho saudades desta época. Mas ainda sou apreciador de mangas como era quando criança: não suporto manga fatiada! Coisa de fresco!

Filosoficamente, porém, sou uma eterna criança. Subo ao pé das possibilidades de conhecimento, apalpo várias mangas, escolho as melhores, desfruto delas por horas e, como bom moleque pirralho que ainda sou, depois de desfrutar ao máximo das mangas do conhecimento, eu jogo os caroços na cabeça dos preguiçosos para despertá-los!


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org
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DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.


3 comentários:

Graça e paz!
“Andando” por aí cheguei até o seu Blog e quero te parabenizar pela bênção que pude ver aqui.
Já estou te seguindo e aos poucos venho conhecer mais os seus textos.
Será uma honra te receber no pastoragente.blogspot.com, e se quiser segui-lo vai ser uma alegria pra mim.
No blog conto da forma mais realista e divertida possível as realidades, dúvidas e experiências de uma simples pastora como eu.
Fique na paz. Um abraço.

Ótimo texto Eliel. Que leitura leve e gostosa! Lembrei da minha infância também, onde eu vivia um dia após o outro, sem me preocupar com o dia de amanhã. Adorei a forma como você colocou as diferentes maneiras de se apoderar dos resultados da fé. Não vejo a hora de poder comprar seu primeiro livro, pois escreves muito bem. abração.

Muito boa analogia, nunca tinha pensado nisso...
Que Deus te de sabedoria e sentimento humilde para continuar assim.
Deus nos abençoe.