quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Resenha: Apologética Cristã no século XXI - Alister McGrath

A última década (2000 a 2009) foi marcada pelo renascimento do ateísmo (o que alguns chamam de neo-ateísmo). Escritores como Richard Dawkins, Sam Harris e Christopher Hitchens tiveram seus livros anti-religião lançados neste período. Este “renascimento”, porém, não trouxe nenhuma novidade no que se refere à argumentação. Os argumentos ateístas são os mesmos. O que podemos perceber de diferente nestes últimos lançamentos é uma espécie de “ódio” contra a fé (especialmente a cristã). Para muitos ateus a fé atualmente não é apenas algo que deve ser refutado, mas algo que deve ser combatido e erradicado.

Nesta controvérsia intelectual sobre a existência de Deus, o outro lado do debate (os que sustentam a alternativa positiva) também apresentou diversos lançamentos nesta última década. Vários e vários lançamentos (número muito maior do que os lançamentos ateístas) despontaram aqui no Brasil. Foi nesta recente década que nomes como Norman Geisler, Frank Turek, William Lane Craig, Lee Strobel, J. P. Moreland, Michael Behe e tantos outros ficaram conhecidos no Brasil. Mas se de um lado o ateísmo apresentou pouco progresso argumentativo, os cristãos idem.

Pouquíssimos avanços podem ser observados nos lançamentos cristãos recentes. Se de um lado os ateus apelam para as mesmas questões (“quem criou Deus?”, “se Deus existe por que existe o mal?”, “a evolução prova que Deus não existe”, etc.), do outro lado as argumentações cristãs se mantêm as mesmas (argumento cosmológico, argumento teleológico, argumento da contingência, argumento moral, etc.). Um recente lançamento apologético que quase chega a ser uma exceção à regra por suas abordagens criativas é A Verdade Sobre o Cristianismo, de Dinesh D’Souza.

Apologética Cristã no século XXI propõe uma estratégia diferente aos apologistas. De acordo com o autor, Alister McGrath, “o cristianismo deve se distinguir por sua relevância para a vida, e não apenas por sua racionalidade intrínseca”.

McGrath corretamente argumenta que a apologética não gera fé, antes, ela prepara o terreno para que a mesma flua. Em outras palavras, a “superioridade intelectual” do cristianismo em face ao ateísmo jamais irá criar em uma pessoa o anseio de se relacionar com Deus, pois não existem apenas oposições intelectuais à fé (na verdade, as oposições intelectuais são as menos observáveis no cotidiano). Sendo assim, argumenta o autor, o apologista deve ser alguém capaz de identificar quais sejam as barreiras à fé (que nem sempre são intelectuais) e se concentrar nelas. Tal postura o autor denomina como “arte”.

Alister McGrath propõe que devamos rever nossas ações como apologistas, a fim de atingirmos maior eficácia na pregação do Evangelho.

Na segunda metade do livro o autor elabora modelos para refutação das principais barreiras à fé como a questão do sofrimento, a impossibilidade da ressurreição de Jesus, o pluralismo religioso e algumas respostas às “cosmovisões” atuais que têm em sua essência uma negação ao papel de Deus na existência como o materialismo científico, o marxismo, o feminismo, o pós-modernismo e o racionalismo iluminista.

Apologética Cristã no século XXI vai agradar a todos que estão envolvidos com Apologética. Certamente é livro para ser folheado de quando em quando, para evitar que nos enferrujemos novamente.


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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6 comentários:

Daniel Grubba disse...

Eu acabei de ler este livro e achei muito bom. Não exatamente porque apresenta novos argumentos, mas principalmente pela abrangência. O Mcgrath consegue discorrer sobre muitos assuntos pertinentes a apologética cristã como muita autoridade.

Para quem gosta de apologética, este livro é indispensável.

Abraços,
Daniel

31 de dezembro de 2009 11:14
Anderson Faria disse...

McGrath é a melhor referência no tocante à Apologética atual,e quiçá, pelos próximos anos. Tudo por causa de suas argumentações coerentes e desprovida de sensacionalismos e exageros. "O Delírio de Dawkins" tornou a Apologética cristã incisiva e atual.

31 de dezembro de 2009 12:39
Daniel disse...

Já tinha lido aquele maravilhoso "O Delírio de Dawkins" dele... Saber que ele está de livro novo me deixa salivando... E olha que ainda nem li "O Deus de Dawkins".

31 de dezembro de 2009 12:54
Eliel Vieira disse...

Anderson e Daniel,

Eu particularmente achei "O Delírio de Dawkins" um tanto fraco. Acho que ele foi muito afobado ao lançar este livro poucos meses depois de "Deus, um delírio". Acho que se tivesse esperado mais e trabalhado nele mais, seria um estouro.

Já o "Deus de Dawkins" é fabuloso. Foi lançado antes de "Deus, um Delírio" na Inglaterra, e é uma crítica fenomenal!

Tenho outros livros do autor, caso se interessem: "Teologia Sistamática, Histórica e Filosófica" (Shedd), "Fundamentos Para o Diálogo entre Ciência e Religião" (Loyola) e "Um Vislumbre da Face de Deus" (Loyola).

31 de dezembro de 2009 14:32
Anderson Faria disse...

Claro, Eliel, que é válida a sua observação. Numa escala de conteúdo, entretanto, ainda sou concondante que "Delírio" - mesmo não sendo um livro "forte" - chamou a atenção para as reais pretensões exibicionistas de Dawkins. Estimula as mentes inquietantes e pensantes a buscar mais e mais elementos apologéticos para compor suas defesas e opiniões a respeito de certos dilemas e tentativas dos neo-ateus e aventureiros em erguer sofismas. As indicações serão lidas este ano.

Obrigado!

1 de janeiro de 2010 07:51
nanuni--kokoritu disse...

Mais uma bela resenha.

4 de janeiro de 2010 14:06