domingo, 13 de dezembro de 2009

Diálogo com um Advogado

Há cerca de duas semanas, na livraria Paulus (BH/MG) tive o seguinte diálogo com um advogado que estava lá "se achando":

Advogado: .... não, mas o termo em grego dá outra idéia completamente diferente.

Eliel: Você está certo (disse isso só para entrar assunto).

Advogado: Você sabe grego?

Eliel: Algumas coisas.

Advogado: Ah tá... Eu sou advogado e como foi por causa dos gregos que os advogados surgiram, estudamos grego na faculdade. Você faz direito?

Eliel: Não! Faço "Comércio Exterior", mas gosto e Filosofia por prazer. Até me aconselharam a fazer Direito, mas não gosto de advogados...

Advogado: Ora, por que?

Eliel: Não sei se é seu caso, mas os advogados que eu conheço são pessoas prepotentes que se acham em um nível superior às demais. Os corredores próximo às salas de Direito nas universidades são os mais nojentos que existem.

Advogado: Você não está sendo justo. Existem pessoas prepotentes em todas as áreas de trabalho, inclusive na sua.

Eliel: Sim, mas esta não é a razão principal. O problema é que eu realmente gostaria de defender a mim mesmo em um tribunal se um dia eu precisar. É extremamente desagradavel a mim ter que pagar a alguém para fazer aquilo que eu tenho plenas capacidades de fazer.

Advogado: Isto é apenas aparentemente bom, mas não é... não se pode trazer sentimentalismo ou qualquer tendência para dentro de um tribunal. As argumentações expostas devem ser fundamentadas à parte de qualquer tendência prévia.

Eliel: Mas esta "tendência prévia" sempre ocorre. Nenhum advogado defende um cliente sem antes estar comprometido com o objetivo de satisfazer os objetivos dele.

Advogado: Bem, se você conhece o mínimo de Filosofia deveria saber que foram os gregos que fundaram o exercício advocacional.

Eliel: Não creio que invocar os gregos seja algo proveitoso para defesa do seu ponto. Os advogados de hoje são os "sofistas" gregos do passado. Pessoas que pouco se importavam com a verdade, mas queriam apenas usar de sua arguição para enriquecer, defendo aqueles que tinham dinheiro para pagar. Uma das razões que levaram Sócrates a julgamento foi sua posição contrária à prática sofista.

Advogado: Sim... e Sócrates foi condenado.

Eliel: E você tem orgulho de sua profissão ter privado a humanidade de um dos seus maiores pensadores?

Advogado pensa por alguns instantes e diz: Não são todas as pessoas que sabem argumentar como você, portanto os advogados sempre serão necessários à socidade.

Como não estava querendo render o assunto, concordei e mudamos de assunto...


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.


7 comentários:

Anderson Faria disse...

Posso comentar? Substitua o "advogado" por "pastor que ama multidões mais do que salvar vidas", ou pelo "teólogo intelectualizado, que há anos não tem uma experiência com o Espírito Santo".
Substitua Sócrates por Jesus Cristo e...voilá! Não soa a mesma coisa? Muitos tentando justificar suas posturas, seus bastiões intelecualizados ou seus dogmas artificialmente criados com retalhos da Palavra de Deus? Incrível como ouvimos ecos da prepotência humana em tantos aspectos banais, desde uma simples conversa de botequim até uma roda num café filosófico. Coisas a se pensar. Mais uma vez, parabéns Eliel!

14 de dezembro de 2009 06:05
Glauber Ataide disse...

Como disse Farias Brito, filósofo brasileiro e professor de direito, "o direito é a arte de legalizar a fraude".

14 de dezembro de 2009 09:13
Marcelo disse...

Bom vou sair em defesa da minha futura profissão...

Eliel, em parte você está certo, algumas coisas a simples lógica pode resover facilmente e qualquer pessoa que saiba argumentar conseguiria se defender muito bem. É o caso por exemplo do Habeas Corpus que muita gente não sabe mas é um remédio constitucional que qualquer pessoa pode impetrar sem um advogado. Entretanto, toda nação possui muitas leis, e nem todo mundo as conhece profudamente (ou tempo/vontade de conhece-las) a ponto de poder resolver um problema, nesses casos a lógica simples não resolve o problema e é necessário anos de estudo para defender alguém. Vamos fazer uma analogia, se você está com dor de cabeça pode ir a farmácia e o balconista irá passar um remédio que resolva o problema. Entretanto se você fraturar o crânio concerteza não poderá ir a farmácia, mas precisará de alguém que estudou muito anos para poder te atender. Com os advogados é assim. Certas coisas você poderá resolver sozinho, e a lei até permite que o faça. Mas outras exige um conhecimento muito mais profundo que só com anos de dedicação à ciência jurídica você pode adquirir.

23 de dezembro de 2009 17:40
Eliel Vieira disse...

Marcelo,

Sua analogia entre uma pessoa doente que pode se dispor de um médico estudado para lhe ajudar não justifica o ponto de minha crítica.

Qualquer pessoa pode contar com a ajuda de um médico se ele precisar de um, porém, se a pessoa quiser fazer um curativo em si mesma sem a ajuda de ninguém - ela tem este direito.

Já com o direito este não é o caso. Eu não sou livre para defender a mim mesmo em um tribunal. No final do ano passado movi uma ação trabalhista contra a empresa onde eu trabalhava e, pelo que o vi do trabalho do advogado, tudo o que foi feito poderia ter sido feito por eu mesmo sem nenhuma dificuldade. Porém, eu não era livre para defender meus direitos - eu tive que pagar alguém para fazer algo que eu tinha plenas condições de fazer.

Abraço

Eliel

24 de dezembro de 2009 12:11
Marcelo disse...

Comprendo o que você disse...mas o seu caso é a exceção da regra. É verdade que muitas das coisas restritas a advogados poderiam ser feitas por qualquer um que tivesse vontade e disposição para fazê-lo. Entretanto tais situações podem ser consideradas raras no direito. Na maioria das vezes o debate entra em aspectos tão complexos da lei que dificilmente alguém sem o conhecimento da ciência jurídica conseguiria se defender. A linha que separa o que pode ser feito por qualquer um e o que não pode é muito tênue, e por via das dúvidas o legislador por uma questão de segurança jurídica restringiu 99% ao advogado para ter a garantia que tudo seria tratado por uma pessoa que estudou para isso.

Abraços, feliz natal, um ótimo ano novo e parabéns pelo blog...

25 de dezembro de 2009 13:10
Prof°. VIEIRA LIMA jr. disse...

O tópico mais inútil desse blog...

31 de dezembro de 2009 07:23
Eliel Vieira disse...

Por qual razão é o mais inútil?

31 de dezembro de 2009 07:49