sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Resenha: Murder by Pride - Stryper

Comemorando 25 anos de carreira, a banda americana Stryper lançou no meio de 2009 o seu sétimo full-length, chamado Murder by Pride. Pela longa demora pelo lançamento (o álbum estava sendo anunciado desde o início de 2007) criou-se uma expectativa muito grande entre os fãs fieis desta banda. Será que Murder by Pride seria um fiasco como foi o álbum anterior (Reborn)? Será que a banda nos surpreenderia?

Da mesma forma como fiz quando resenhei o álbum “Brainworms” (Bittencourt Project), resolvi esperar alguns meses antes de resenhar Murder by Pride, para não escrever aqui apenas primeiras impressões.

O álbum começa de certa forma decepcionante (não tão decepcionante, pois um começo assim já era de certa forma esperado) com “Eclipse for the Son”. O início desta música lembra aquele Hard Core rápido de bandas como NX Zero e derivados (não me perguntem mais nomes de bandas assim, pois eu não conheço). A alta carga de efeitos na voz de Michael Sweet é outro ponto fraco nesta música (e nas outras músicas onde isto acontece) – tais efeitos deixaram a voz do cantor visivelmente artificial. Apesar dos pesares, a música começa a ficar boa depois do primeiro refrão e chega a lembrar um pouco “Together Forever” com os vocais back de Oz Fox.

A seguir vem “4 Leaf Clover”, a segunda melhor faixa do disco (em minha opinião), que traz em seu bojo alguns elementos musicais do Hard Rock 80’ (ela tem inclusive aqueles gritos agudos do vocalista do meio da música). Lembra muito algumas faixas da fase antiga do Stryper. Um ponto forte a se destacar nesta música são os excelentes arranjos de baixo produzidos por Tracy Ferrie. Um ponto fraco desta música seria a letra excessivamente subjetiva (sem significado algum aparente).

Temos em seguida um dos pontos mais fortes do CD: o cover de “Peace of Mind”, da banda americana de Hard Rock Boston. Que os fãs do Boston me perdoem, mas a versão do Stryper para esta música ficou infinitamente melhor que a original. A banda acertou em cheio quando escolheu esta música para fazer cover. É impossível não balançar os ombros enquanto se ouve esta música.

A seguir vem a primeira balada do CD, “Alive”. Musicalmente a música é bastante bonita. Apesar de moderninha, em vários momentos conseguimos familiarizá-la com as clássicas baladas do Stryper. Quanto à letra da música, ela infelizmente segue a tendência “emo” (algo tipo “você não me ama, então eu vou chorar”) de composições tristes. Mas no fim das contas o resultado final é positivo.

“The Plan” vem a seguir e é o tipo de música que parece que foi composta apenas para encher o disco. Apesar dos solos, das levadas de bateria caracteristicamente Stryper e da bela demonstração de “saúde vocal” de Michael Sweet no final da música, a melodia moderna desta música desaponta. É uma espécie de “Calling on You” (que já era comercial) moderninha.

A seguir vem a melhor faixa do disco (em minha opinião), a faixa do título do álbum, “Murder by Pride”. É o tipo de música que você passa via MSN para seu amigo não cristão com orgulho, sem medo dele não gostar. Tudo ficou extremamente perfeito nesta música: as distorções das guitarras, as marcações de Tracy Ferrie no baixo e a maneira como o baterista Kenny Aronoff a conduziu. Não deixa de ser moderna, mas (o mais importante) não deixa de ser Stryper. Os versos da música, bem cadenciados, foram compostos de forma a ansiarmos pelo refrão e, quando este vem, é impossível não se imaginar no meio de um show da banda pulando o mais alto que puder. Os back vocals nesta música foram compostos na forma de dueto com o vocalista – dueto que certamente deve ser reproduzido entre platéia e o vocalista nos shows ao vivo. Música perfeita!

A sensação que sentimos após o fim de “Murder by Pride” e o começo de “I Believe” é de decepção. Não que a música seja a pior do disco (“Run in You” leva este título), mas o contraste entre “Murder by Pride” e o início de “I Believe” é gigantesco. É como se estivéssemos ouvindo duas bandas completamente diferentes. “I Believe” até que fica boa da metade para frente (as guitarras têm uma distorção que encaixou perfeitamente com os refrãos da música), mas seu início semi-acústico é fraco se comparado com a música em si. Tê-la colocado em outra posição do disco talvez fosse a melhor saída para evitar este “balde de água fria” que sentimos em razão do contraste de estilos.

“Run in You” lembra muito o trabalho solo de Michal Sweet. Chega a lembrar bastante o som do U2. A letra é até bonita, mas o estilo “semi-acústico-Delirious?” simplesmente não combina com Stryper. Tenho a leve impressão de que se esta música fosse executada apenas com violões (tipo aquelas semi-baladas do final dos anos 80 e início dos 90') o resultado final ficaria bem melhor.

A seguir temos “Love is Why”. A bela letra é uma adaptação da famosa passagem de I Coríntios sobre o amor (portanto, nenhuma criatividade aqui – várias bandas já compuseram músicas usando esta passagem). Musicalmente falando ela lembra muito “Run in You”. Mas diferentemente daquela (que em minha opinião ficaria melhor se fosse mais acústica), “Love is Why” ficaria melhor se fosse um pouquinho mais pesada, pois ela traz à memória alguns elementos da fase antiga do Stryper.

“Mercy Over Blame” agradou a muitos por ser pesada, mas não muito a mim. Peso nas distorções e nas pegadas de bateria não é tudo - precisa haver originalidade. “Mercy Over Blame” chega a lembrar a música “Live Again” do álbum Reborn - parece ficar remoendo as mesmas frases musicais a música inteira. É cansativa. Eu só começo a gostar desta música lá pelos 2:10 quando os solos começam. Sua letra é muito bonita (a melhor letra do disco talvez).

A penúltima música, “Everything” começa da pior forma possível, mas é uma das melhores músicas do álbum. Se for ouvir ela pela primeira vez, começa ouvi-la a partir dos 0:52 (quando acaba o início desastroso dela). Apague estes 50 segundos iniciais (apesar de alguns elementos do início da faixa persistirem durante a música) e a música é das melhores do disco. A letra é meio gospel demais, mas combina com a melodia da música.

Por fim temos a regravação da música “My Love I’ll Always Show” em sua forma original. Para quem não sabe, originalmente esta música foi composta na forma Rock n’ Roll como a vemos em Murder by Pride. Por alguma razão ela foi gravada em forma de “balada” no álbum The Yellow and Black Attack. A maioria dos fãs só veio a conhecer a versão pesada de “My Love I’ll Always Show” em 2007, quando a banda lançou oficialmente as demos de 1983. Aparentemente os fãs gostaram do que ouviram e a banda regravou a versão antiga de “My Love I’ll Always Show” em Murder by Pride. Valeu a pena. Ficou muito bom!

Quanto à capa do disco, vale a pena destacar o excelente trabalho feito pelo brasileiro Gilvan Rangel, que venceu o concurso internacional promovido pela banda para criação da arte do disco. Parabéns!

Enfim, a sensação que temos após ouvir este álbum é que, depois do desastre chamado Reborn, a banda desistiu de fazer algo extremamente moderno e tentou mesclar alguns elementos dos anos 80 com os atuais. Não há dúvidas de que os fãs gostaram muito mais de Murder by Pride do que de Reborn por conta desta mudança, mas, ainda assim, o sentimento final sobre este álbum é ambíguo. Por um lado ele saciou a sede dos fãs por novidades musicais do Stryper, e por outro ficamos com o gostinho de “poderia ter sido um pouco melhor”.

Um ponto negativo a se destacar sobre o álbum como um todo é a pobreza das composições (letras) da banda. O Stryper infelizmente não compõe mais músicas com letras provocadoras como fazia antigamente (vide as letras de “Loud n’ Clear”, “The Rock That Makes me Roll”, “Surrender”, “To Hell With The Devil”, “In God We Trust”, e tantas outras). Se tivessem caprichado um pouco mais nas composições das letras e tivesse deixado menor a participação de músicas puramente modernas e comerciais, Muder by Pride poderia talvez ser considerado o melhor album da banda.

Faltou pouco, quem sabe da próxima?


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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5 comentários:

Eduardo Vaz disse...

Esse cd é um fiasco...o stryper ja deveria ter aposentado as botas a muito tempo, a nao ser que ficasse apenas tocando musicas antigas classicas..Uma pena ter que ouvir um trabalho tao longe do stryper classico que todos nós conhecemos...

2 de janeiro de 2010 17:52
nanuni--kokoritu disse...

Bem legal a resenha e as reflexões, parabéns!

4 de janeiro de 2010 14:06
Alex Altorfer disse...

Vale mencionar que a arte da capa foi feita por um ilustrador brasileiro.

4 de janeiro de 2010 19:35
Gilvan Jr disse...

Valeu Eliel! Muito interessante sua Resenha! E obrigado por lembrar de mim com relação a capa! Abraços

5 de janeiro de 2010 05:19
Alex Altorfer disse...

Ah, claro! O Gilvan foi mencionado, mas acho que quando li a resenha eu já estava com sono! Falha técnica. Rsrs.

5 de janeiro de 2010 06:50