quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Resenha: A Verdade Sobre o Cristianismo - Dinesh D’Souza

A literatura apologética cristã não evoluiu muito dos anos 2000 para cá. Quando pegamos algum livro, encontramos nele os mesmo argumentos que são anunciados a décadas em palavras diferentes. Especialmente depois de Deus, um delírio, pouca coisa original foi lançada pelos cristãos em resposta.

A Verdade Sobre o Cristianismo é um diferencial em relação a este quadro. D’Souza conseguiu fazer uma apologia criativa da fé, abordando temas ainda não abordados e levantando questões interessantes para que os ateus respondam (ou tentem responder). Seu raciocínio é bem perspicaz, lógico, concatenado e bem embasado com um chão histórico fundamentado, criado pelo autor antes da argumentação.

Suas maiores façanhas, eu diria, foram as argumentações sobre a importância que o cristianismo representou ao longo da história no surgimento de tudo o que conhecemos como louvável hoje em dia, como o Estado Laico; a exposição da falácia ateísta de que a fé inibe o conhecimento científico, bem como a mentira de que os ateus estão preocupados com a aquisição do mesmo; algumas informações interessantes sobre o famoso caso Galileu e a Inquisição, tão citados pelos ateus; a contra-argumentação ao argumento de Dawkins do “Relojoeiro Cego”; os benefícios darwinianos que a fé traz às pessoas e as conseqüências que o ateísmo têm trago à sociedade; a interessante convergência entre as idéias de Kant e a argumentação teísta e, por fim, sobre a imaterialidade da alma.

Mas calma! O livro não é perfeito e totalmente inovador. A afirmação da contra-capa de que A Verdade Sobre o Cristianismo é o sucessor atual de Cristianismo Puro e Simples (C. S. Lewis) não é nem de longe verdadeira. O livro é bom, inovador em muitos aspectos, sim! Porém, possui alguns pontos fracos:

- Apesar de inovador, vários vícios de livros apologéticos – como não expor com total sinceridade os argumentos dos ateus – são encontrados neste livro. Apesar de na maioria dos casos D’Souza analisar honestamente os argumentos ateístas, em alguns casos isso claramente não acontece.
- D’Souza pretendeu refutar Dawkins, Harris, Hitchens e Dennett (principalmente Dawkins) em seu livro, porém, o principal argumento de Dawkins (argumento da improbabilidade de Deus) sequer foi citado.
- O autor faz uso de vários argumentos elaborados por outras pessoas e não dá os créditos a elas. O capítulo 11, por exemplo, contém o argumento cosmológico kalam elaborado por William Lane Craig – D’Souza usa a mesma seqüência lógica de Craig, com as mesmas palavras – e o nome do filósofo sequer é mencionado!
- A resposta ao “Problema do Mal” é fraca, muito fraca.

Ainda há outra coisa que não gostei, mas foi um erro da editora, não do autor. A tradução A Verdade Sobre o Cristianismo não exprime o sentido original do título em inglês: What’s So Great About Christianity. Uma tradução mais aproximada seria O que há de tão maravilhoso com a fé crista.

Enfim, o livro possui seus defeitos – como todos os livros também – mas, no fim das contas, é um livro que vale a pena ler. Bons questionamentos e argumentações são encontrados ali. Um fator que me interessou muito neste livro foi a abordagem conciliatória do autor entre a teoria da evolução e a fé cristã, mostrando a compatibilidade existente entre elas. Além, claro, de o autor ter mostrado como a teoria proposta por Darwin acarreta mais problemas aos ateus do que aos cristãos.

Um livro bom! Se você se interessa por questões apologéticas certamente vai gostar!


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

Creative Commons License
DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.


5 comentários:

Sou blogueiro - INDICOESSE 1 de Outubro de 2009 20:44  

Bem , eu como fan de Dawkins vejo que o cristianismo tem pouco a solucionar para os dias de hoje.

Obs: apesar de admirador de Richard Dawkins, não sou ateu!

Fosco 1 de Outubro de 2009 17:36  

Este vai entrar para a minha lista de livos a serem lidos ;]

Rogério Monteiro 2 de Outubro de 2009 07:53  

Este livro é fantástico!!! Ainda não terminei de ler.
É uma aula de cristianismo pegando vários aspectos.
Recomendo a todas as pessoas.

Acessem meu blog www.allmyuniverses.blogspot.com

Abraços.

Daniel Morais 14 de Outubro de 2009 11:37  

Olá Eliel,

o argumento kalam não foi elaborado por William Lane Craig, este argumento foi elaborado pelos árabes escolásticos medievais; por isso não há a mínima necessidade de citar Craig por isso. Apesar da sequência que está no livro estar da forma do argumento kalam, o desenvolvimento próprio do argumento não é explorado. Isto é, o argumento kalam está relacionado com a impossibilidade de regressão a um passado infinito, já o Dinesh faz uma abordagem mais tomista, não totalmente, da sequência dada no livro.


Tenho que parabenizá-lo por estar traduzindo para o português alguns desses bons debates. Muito bom!

Abração!

Daniel.

Eduardo Vaz 20 de Outubro de 2009 09:21  

Eliel
Denish de fato escreveu um livro fantastico...é sem sombra de duvida um livro lucido, claro, e confrontador..quando o li e indiquei a vc, sabia que vc faria uma critica á altura, mesmo pq ele foi citado como o sucessor do classico de Lewis..Sei que ele tem falhas, mas qual livro com tamanha audacia nao teria falhas? para dar uma nota, daria nota 8, mas é um 8 que vale um 10..hehehehe...afinal de contas Denish deu um baile historico e desmistifica mentiras feitas contra a fé crista como o caso galileu, e mostra na pratica o impacto do cristianismo numa cultura mistica como a Indiana. Eu simplesmente babei na criatividade e ímpeto do autor, e que de fato vem a ser um peso pesado no debate sobre cristianismo e ateismo.... Que as editoras brasileiras entendam que o publico cristão quer ver outros livros desse autor lançado no Brasil. O livro foi lançado a pouco tempo no Brasil e quase não se acha nas lojas, uma pena....sera que vendeu rapidamente e esgotou, ou será falta de uma divulgação ideal? Pensemos...

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