sexta-feira, 14 de agosto de 2009

[6/8] Existem Evidências Históricas para a Ressurreição de Jesus?

Parte 6 de 8.

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Dr. Craig – Segunda Refutação

Agora, penso que neste último discurso nós ouvimos muito barulho, mas, penso, uma notável ausência de substância. Permitam-me primeiramente falar sobre as contentas em relação aos quatro fatos: o sepultamento, a tumba vazia, as aparências e a origem da fé cristã.

Aqui o Dr. Ehrman diz que eu faço uso duvidoso de autoridades modernas. Eu concordo que a citação de autoridades modernas não prova nada por si mesma. Esta é a razão porque eu dei argumentos sobre cada um dos pontos. Ele deve lidar com os argumentos. Ele diz que eu represento a opinião da minoria. Não em relação a estes quatro fatos! Eu disse que é controverso se a ressurreição de Jesus é a melhor explicação para estes fatos, mas eu posso dar a ele nomes das pessoas que apóiam a veracidade destes quatro fatos. E sobre a historicidade destes quatro fatos, ela representa a opinião da larga maioria dos estudiosos sobre esta questão. Enquanto Dr. Ehrman agora escolhe negar o terrível sepultamento, a tumba vazia, as aparências post-mortem, ele aderiu, na verdade, à opinião da decidida minoria dentre estudiosos do Novo Testamento a respeito destes fatos.

Segundo, ele diz que eu faço uso duvidoso de fontes antigas. Por exemplo, ele diz que Paulo escrevia 25 anos depois, não antes como eu afirmei. Mas certamente Dr. Ehrman sabe que Paulo em I Coríntios 15:3-5 estava citando uma antiga tradição cristã que ele próprio recebeu e que pode ser datada para algum momento entre cinco anos após a crucificação. Na verdade, James D. G. Dunn data esta tradição para algum momento entre 18 meses após a morte de Jesus[11]. Então nós estamos confiando aqui nestas tradições pré-paulinas, não na data da presente carta de Paulo.

Ele também diz que Paulo talvez estivesse falando sobre uma tumba comum. Não quando você olha o quarto versículo de I Coríntios 15! Este versículo é como um esboço dos eventos sobre a morte e ressurreição de Jesus, o sepultamento por José de Arimatéia, a tumba vazia, e então os relatos sobre as aparições. Comparado aos Atos dos Apóstolos de um lado e os evangelhos de outro, esta síntese em I Coríntios 15 se assemelha a um esboço, que inclui de forma implícita o sepultamento de Jesus em uma tumba por José de Arimatéia.

Dr. Ehrman também pergunta, “é verdade que relatos não adulterados são mais prováveis de ser históricos?”. Eu diria que sim. É isto que sua própria lista inclui, que quanto mais antigo for o relato, melhor. Similarmente, que quanto menos adulterado for o relato, maior é sua credibilidade histórica.

Terceiro, ele disse que eu faço asserções duvidosas. Por exemplo, as mulheres na tumba: ele diz que elas foram colocadas lá pelo evangelho de Marcos porque elas seriam um paradigma para os outros. Isto não faz sentido. Estas mulheres eram seguidoras de Jesus; particularmente Maria Madalena é uma dentre os discípulos de Jesus. Então esta sua justificativa não procede. Além do mais, como eu disse, este fato é atestado independentemente. Ele está assumindo que Marcos é a única fonte; mas nós temos no mínimo cinco fontes independentes para a história da tumba vazia e o envolvimento das mulheres encontra-se nestas fontes. Então sua justificativa simplesmente não funciona. O mesmo acerca de José de Arimatéia; Eu não estou inferindo isto com base nas cartas de Paulo. Nós temos múltiplas fontes independentes para o envolvimento de José com o sepultamento. E o próprio Dr. Ehrman usa este critério em seus trabalhos sobre a historicidade de Jesus.

Ele diz, número quatro, que eu faço inferências duvidosas. Por exemplo, que uma vez que Paulo disse que Jesus apareceu, então existe uma tumba vazia. Eu nunca fiz tal inferência, neste debate ou qualquer de meus trabalhos escritos. Pelo contrário, nos meus livros meu argumento era que quando Paulo diz “e ele foi sepultado e ele ressuscitou”, nenhum judeu do primeiro século perguntaria, “mas o corpo permaneceu no túmulo?”. Para um judeu do primeiro século foram os restos da pessoa na tumba que ressuscitaram para a nova vida. A crença judaica para a vida após a morte era uma crença na ressurreição física do corpo ou do que sobrou dele, principalmente os ossos. Esta é a razão pela qual os judeus preservavam os ossos dos mortos em ossuários para a ressurreição no fim do mundo. Então, temos boas razões para acreditar na existência do túmulo vazio, e nenhum judeu do primeiro século poderia ter pensado de outra forma. Mas, certamente, dizer apenas que Jesus apareceu após sua morte não significa que esta aparição foi física.

Mas observem que Paulo distinguiu entre as aparições do Jesus ressurreto e as simples visões de Jesus. E eu desafiaria Dr. Ehrman a dar qualquer explicação sobre a diferença entre uma visão de Jesus, como aquela que Estevão teve (Atos 7:56), e uma aparição genuína do Jesus ressurreto, outra além do fato de que umas eram extra-mentais no mundo externo (aparições físicas) enquanto as outras (as visões) eram puramente intra-mentais.

Então, pelo que pude ver, Dr. Ehrman não foi capaz de invalidar nenhum dos argumentos que eu apresentei para os quatro fatos. Eles estão todos estabelecidos pelos mesmos critérios que Dr. Ehrman usa em seus próprios trabalhos: múltipla atestação por fontes independentes, fontes próximas à ocorrência dos eventos, e o critério de dissimilaridade ou, melhor, constrangimento.

Agora, e sobre o segundo ponto, de que a ressurreição de Jesus é a melhor explicação aos fatos? Ele não respondeu aos meus argumentos além de dizer que não existem evidências matemáticas para o que Deus faz no mundo. E, claro, este não foi meu ponto. Meu ponto foi que ele não pode dizer que a ressurreição é improvável simplesmente porque milagres são eventos improváveis em relação ao conhecimento que temos do mundo. Você precisa olhar a todo o escopo do cálculo de probabilidade, ele falhou nisto. Em particular, sua visão é autocontraditória porque, como ele disse, historiadores não podem fazer asserções sobre Deus, e se este é o caso, então ele não pode dizer que a ressurreição é improvável porque a ressurreição é a hipótese de que Deus ressuscitou Jesus dos mortos.

Agora ele parece sugerir que um historiador não pode fazer este tipo de inferência uma vez que de alguma forma Deus é inacessível. Bem, eu tenho alguns pontos que eu gostaria de mencionar aqui. Primeiro, você não precisa ter acesso direto às entidades explicativas em suas hipóteses. Pense nos físicos contemporâneos, por exemplo. Os físicos contemporâneos fazem uso de uma série de realidades para as quais os cientistas não têm acesso direto: cordas, objetos em outras dimensões além das três que conhecemos, e até universos paralelos que não estão relacionados com o nosso. Mas eles postulam tais entidades como melhor explicação a partir das evidências que temos atualmente.

Segundo, observe que o historiador não tem acesso direto a nenhum dos objetos de seu estudo. Como Dr. Ehrman disse, o passado já passou. Não está mais aqui. Tudo o que temos é resíduo do passado, e o historiador infere a existência de entidades e eventos no passado com base nas evidências que ele tem. E é exatamente este o movimento que eu estou fazendo com respeito à ressurreição de Jesus.

Mas, finalmente, número três, este não é um debate sobre o que os historiadores profissionais podem fazer. Este seria um debate sobre metodologias, sobre as regras de conduta do profissional. O debate desta noite é sobre se existem ou não evidências históricas para a ressurreição. E mesmo se o historiador for proibido profissionalmente por algumas imposições metodológicas de inferir a ressurreição de Jesus, vocês e eu não somos. Nós não somos impedidos e, eu diria, nem mesmo o historiador o é fora de sua profissão. Seria uma tragédia e uma vergonha se nós perdêssemos a verdade sobre o passado de Jesus simplesmente em razão de algumas imposições metodológicas.

Finalmente, em relação às menções a “Apolônio de Tiana” e “Honi, o desenhista de círculos”, permitam-me simplesmente citar Robert Yarbrough, que assinala que estas figuras não possuem nenhum tipo de evidência anterior ao primeiro século, o tempo de Jesus[12]. “Apolônio de Tiana” é uma figura do terceiro século que não é citada nem momento algum antes do terceiro século. Da mesma forma acontece com “Hanina bem Dosa” e “Honi, o desenhista de círculos”: John Meier e Ben Witherington mostraram que estas figuras possuem pouca relevância para com a situação de Jesus no primeiro século[13]. Então, estas figuras apontadas, penso, são comparações simplesmente inválidas.

Eu gostaria de responder às três questões que ele fez a mim, mas meu tempo acabou. Então, talvez elas apareçam novamente na sessão de perguntas e respostas e então eu as respondo.


Dr. Ehrman – Segunda Refutação

Eu acho que estou mais impressionado pela recusa de Bill em lidar com a alternativa histórica do que eu estou em relação a sua reivindicação de que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos. Bill entende que a idéia de Deus ressuscitando é completamente racional, que faz sentido. A razão disto é porque ele acredita em Deus, então, claro, Deus pode agir no mundo. Por que não? Deus faz coisas todo o tempo, e não há nada absolutamente nada impossível em Deus ressuscitar Jesus dos mortos.

Bem, isto pressupõe a crença em Deus. Historiadores não podem pressupor crenças em Deus. Historiadores só podem trabalhar com o que nós temos entre nós. Historiadores podem ter qualquer religião, podem ser budistas, podem ser hindus, podem ser mulçumanos, podem ser cristãos, podem ser judeus, podem ser agnósticos, podem ser ateus, e a teoria por trás dos canons da pesquisa histórica diz que pessoas que qualquer religião podem olhar para a evidência e chegar às mesmas conclusões. Mas a hipótese proposta por Bill requer uma crença pessoal em Deus. Não a questiono como maneira de pensar. Eu a questiono como uma maneira histórica de pensar, porque a hipótese proposta por Bill não é histórica, é teológica.

Bill afirma que a melhor explicação para seus quatro fatos é que um milagre aconteceu. Hume, na verdade, não estava falando sobre o que eu estou falando. Hume estava falando sobre a possibilidade de milagres acontecerem. Eu não estou falando sobre a possibilidade de um milagre acontecer. Eu não aceito o argumento de Hume de que milagres não podem acontecer. Eu estou perguntando, supondo que milagres acontecem, os historiadores podem demonstrá-los? Não, eles não podem. Se Bill quiser mostrar seu cálculo matemático de possibilidades novamente, então eu sugiro que ele faça o mesmo em relação a outras opções históricas – por exemplo, aquela que eu propus de que dois membros da família de Jesus roubaram o corpo e que então eles foram mortos e lançados dentro de uma tumba comum. Isto provável-mente não aconteceu, mas é mais plausível do que a explicação de que Deus ressuscitou Jesus de dentre os mortos.

Deixe-me lhes dar outra explicação, uma que veio à minha mente ontem à noite enquanto estava sentando pensando sobre esta questão. Vocês sabem que nós temos de tradições cristãs sírias que dentre os irmãos de Jesus, que são mencionados no evangelho de Marcos, um deles se chamava Judas, que era particularmente próximo a Jesus e que um destes irmãos, Judas, também conhecido como Judas Thomas, era o irmão gêmeo de Jesus. Agora, eu não estou dizendo que isto está correto, mas é o que os cristãos sírios pensavam no segundo e terceiro séculos, que Jesus tinha um irmão gêmeo. Como ele poderia ter tido um irmão gêmeo? Bem, eu não sei como ele poderia ter tido um irmão gêmeo, mas era isto que os cristãos sírios diziam. Na verdade, nós temos histórias interessantes sobre Jesus e seu irmão gêmeo em um livro chamado “Atos de Tomás”, segundo o qual Jesus e seu irmão gêmeo eram gêmeos idênticos. Eles se assemelhavam em tudo e a todo o momento Jesus confundia as pessoas: quando eles viam apenas Thomas saindo da sala, lá estava ele novamente, e eles não entendiam. Bem, é seu irmão gêmeo aparecendo. Suponha que Jesus teve um irmão gêmeo – nada implausível! Pessoas têm gêmeos. Após a morte de Jesus, Judas Tomás e outras pessoas ligadas a Jesus se esconderam e ele escapou de Judá. Alguns anos depois um dos seguidores de Jesus viu Judas Tomás e eles pensaram que era Jesus. Outros começaram a relatar o mesmo. Começa-se então a se espalhar a notícia de que Jesus não está mais morto. O corpo de Jesus na tumba após o tempo se decompôs perdendo a possibilidade de ser conhecido. A histórica de que Jesus ressuscitou dos mortos começa a ganhar a confiança entre as pessoas, e nas tradições orais mais relatos começavam a ser contados sobre o caso, incluindo versões de que eles encontraram uma tumba vazia. Esta é uma explicação alternativa. É altamente improvável. Eu não apostaria nela por um segundo, mas ela é mais provável do que a idéia de que Deus ressuscitou Jesus de dentre os mortos porque esta hipótese apela para o sobrenatural, e os historiadores não têm acesso a isto.

Bill não comentou sobre as inconsistências que eu levantei sobre nossos relatos. Ele simplesmente disse, “Bem, relatos primitivos são melhores que relatos posteriores”. Se isto é o que ele pensa, eu gostaria que ele fosse claro e me dissesse se ele pensa se os relatos posteriores são inconsistentes ou que existem erros neles – sim ou não? Bill admite que relatos não adulterados são mais prováveis de ser históricos. Se isto é o que lê pensa, eu gostaria que ele respondesse a minha questão, sim ou não. Isto significa que os relatos adulterados dos evangelhos não são históricos? Vejam, ele não pode manter seu argumento em ambos os caminhos. Ele não pode dizer que os relatos não adulterados como a descrição do sepultamento por Marcos são mais prováveis historicamente porque eles não são adulterados, e então dizer que o relato de João, que é adulterado, é também histórico. Se ambos os tipos de relatos - adulterados e não adulterados – são igualmente históricos, então não há importância alguma dizer que relatos não adulterados são mais prováveis de ser históricos.

Ele pergunta, porque as mulheres apareceriam na tumba? Eu expus meu argumento do porquê Marcos, ou alguém de sua comunidade, poderia ter inventado as mulheres na tumba. Sua resposta foi, “Bem, Maria Madalena foi uma seguidora de Jesus”. Bem, Maria Madalena é muito popular nos dias atuais, principalmente depois que todos leram O Código DaVinci, e se você não o leu ainda, ele foi reimpresso na versão brochura recentemente. Sim, Maria Madalena era uma seguidora de Jesus, mas seu argumento foi de que ninguém inventaria as mulheres por que elas eram marginalizadas, porque os homens não davam muito valor às mulheres. Minha resposta é: esta é precisamente a razão pela qual Marcos inventaria a tradição, porque no evangelho de Marcos, são os marginalizados que entendem quem Jesus é, não os discípulos homens. Este é o motivo de você ter a história das mulheres descobrindo a tumba.

Bill afirma que nenhum judeu do primeiro século duvidaria de que o corpo sumiu da tumba se Jesus aparecesse. Minha única sugestão é que ele leia mais fontes judaicas do primeiro século, porque sua afirmação simplesmente não é verdadeira. Eu lhe indico uma: leia a segunda revelação do Apocalipse de Pedro, um livro que é completamente repleto com visões judaicas de mundo, no qual não há nenhuma dúvida de que o autor acreditava que o corpo de Jesus não se encontrava em apenas um lugar, mas que ele podia estar em três lugares ao mesmo tempo, e que o corpo físico não era o único corpo que Jesus tinha, mas que ele também tinha um corpo espiritual.

Bill, claro, não respondeu às minhas questões, e talvez na sessão de perguntas e respostas ele o faça. Se ele está reivindicando ser um historiador ao usar estas fontes como fontes históricas, eu quero saber, ele acha que podem existir erros nestas fontes? Se ele não acha que podem existir erros nelas, então eu gostaria de saber como ele pode avaliá-las como fontes históricas como um historiador crítico. Ele afirma que “Honi, o desenhista de círculos”, “Hanina ben Dosa” e “Apolônio de Tiana”, a propósito, eram pessoas do terceiro século; eles não eram pessoas do terceiro século, eles eram pessoas que viveram nos dias de Jesus.

Meu último ponto é muito simples. Mesmo que nós queiramos acreditar na ressurreição de Jesus, esta crença seria uma crença teológica. Você não pode provar a ressurreição. Este evento não é suscetível à evidência histórica; é fé. Os crentes acreditam na ressurreição e o fazem pela fé; história não pode prová-la.


Notas:

[11] - James, D. G. Dunn, Jesus Remembered (Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eedmans, 2003), p. 885
[12] - Robert W. Yarbrough, “The Power and Pathos of Professor Ehrman’s New Testament Introduction”, Perspectives in Religious Studies 27 (2004): 364.
[13] - Jonh P. Meier, A Marginal Jew, Vol. 2 (New York: Doubleday, 1994), pp. 518-8; Ben Witherington III, The Jesus Quest (Downers Grove, III.: InterVarsity, 1995), pp. 108-12.


Clique aqui para ler a parte 7

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Traduzido por Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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