quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Escatologia Para Hoje

Escatologia sempre chama atenção das pessoas. A idéia de que Deus teria escondido os segredos do fim do mundo na Bíblia instiga a mente de milhões de cristãos. Muitos fazem contas, lêem e associam inúmeros de versículos apocalípticos, fazem projeções e alguns até fazem cálculos profético da vinda de Jesus.

Eu já gostei muito de livros de escatologia. Me sentia um desbravador estudando o Apocalipse, tentando pescar algo que ninguém havia percebido antes. Com o passar do tempo comecei a fazer alguns questionamentos e percebi que isso nada mais é do que correr atrás do vento.

Como assim? Ansiar pela vinda do Mestre é correr atrás do vento? Não, não é isso. O que considero perda de tempo é a alienação e sensacionalismo que se cria ao redor da escatologia. Toda vez que um Papa assume o Vaticano, um evangélico xiita diz: “veja essas contas, esse cara é a Besta”. E digo isso com propriedade, pois já um fui xiita radical de deixar qualquer mulçumano com inveja!

Mas, sem especular sobre esses aspectos místicos, como a Escatologia nos é proveitosa?

Respondo essa pergunta com outra: Podemos nós dizer que a Bíblia é viva e que sua mensagem é perfeita para nos no dia de hoje? Se a resposta for não, ela não é a Palavra de Deus. Se a resposta for sim, o correto é interpretar as passagens escatológicas como mensagens e ensinamentos para nosso dia a dia.

Mesmo porque, como Salomão disse, “não há nada de novo debaixo do sol”. Os mesmos problemas que a Igreja passa nos dias de hoje ela enfrentou ao longo de seus 2000 anos de história e continuará enfrentando até a volta de Jesus.

Nessa semana meditei em uma passagem da segunda carta do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses:

A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém”. (IITs 2:7)

O que Paulo diz é que algo, alguém ou alguma coisa está impedindo que a iniqüidade no mundo se espalhe, mas que essa iniqüidade já existe e está em ação. A explicação que a escatologia nos dá para esse versículo é que o “mistério da iniqüidade” é o Anti-Cristo, que ele já existe e já está agindo, mas que ele não pode se revelar enquanto a Igreja estiver no mundo. A escatologia usa esse versículo como base para a doutrina do arrebatamento do santos, que acontecerá 7 anos antes da Segunda Vinda do Messias.

Eu não nego essa interpretação escatológica, inclusive essa é minha visão também. Mas não pude deixar de notar como a aplicação desse versículo é importante e ensina certos princípios para o nosso HOJE.

Sempre que nós (Igreja) nos afastarmos daquilo que devemos ser, a iniqüidade ganhará terreno. Pois a iniqüidade já está em ação no mundo. Ela existe, cresce e avança a passos largos nessa era “pós-moderna”.

Dentre algumas posturas que apresento como prejudiciais à Igreja estão: o liberalismo teológico, o moralismo e, principalmente, o sincretismo religioso com algumas posturas pós-modernas.

O liberalismo teológico faz a Igreja aceitar e, em alguns casos incentivar, a promiscuidade humana (ex: aborto, divórcio). O moralismo tenta definir toda e qualquer ação humana entre certo e errado absolutos (ex: ouvir música secular é, impreterivelmente, pecado).

Mas o mais perigoso, em minha opinião, é o sincretismo religioso. Não que eu seja a favor da Igreja se isolar e viver alheia ao mundo, muito pelo contrário. A Igreja deve estar disseminada dentro do mundo. Em cada cidade, canto e beco. O Evangelho deve andar lado a lado com a cultura. Ela (a Igreja) deve estar dentro das universidades, na política, nos esportes, na televisão, no rádio, na internet, etc.

O que considero como sincretismo prejudicial é tentar trazer para dentro de nossa teologia princípios, padrões e posturas seculares que não encontram apoio nas Escrituras. Vou citar um exemplo. A cerca de dois meses aconteceu em Belo Horizonte o encontro regional do Tribal Generation, onde eu encontrei pessoas de inúmeras culturas que professam a mesma fé. Foi maravilhoso contemplar a união em tamanha diversidade cultural. Porém, lá estava o sincretismo. Surgiu a moda dos “vegetarianos de Jesus”. Nada contra quem não gosta de comer carne. Mas daí a começar estampar camisas manifestando que comer carne é um crime, é ridículo. E usam o nome de Deus e a Igreja para disseminar essas loucuras, negligenciando o fato de que Jesus comia carne com os discipulos.


O sincretismo religioso faz a Igreja perder a identidade e isso é tão escatológico (futurístico) quanto atual. A Teologia de Mamom (Prosperidade), que se baseia em princípios pós-modernos anti-bíblicos como individualismo, consumismo e hedonismo, também é um bom exemplo de sincretismo religioso. Poderia falar sobre essa baboseira que virou moda nas Igrejas Evangélicas brasileiras, mas, falo tanto contra isso que já estou começando a ficar repetitivo.

Enfim, a iniqüidade ganhará terreno sempre que deixarmos de nos posicionar como Igreja. E é evidente que isso está acontecendo paliativamente.


Eliel Vieira
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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Dor de Barriga

Aqui estou eu novamente,
Tranquilo e aliviado.
Buscando força suficiente,
Nesse momento solitário.

Tudo começou no cinema.
Uma gota fria de suor anunciou o que estava por vir.
Soou o alarme no meu intestino,
Desesperado, com um sorriso discreto eu fingi.

Contraí meu abdômen para que o peido saísse silencioso...
O aroma de ovos cozidos se espalhou.
“Puta merda! Aqui tem um porco!”.
Alguém gritou.

Para fingir de bobo também gritei:
“Que falta de educação!”
Sei que não fiz o correto,
Mas era minha única solução.

Saímos do cinema e fomos comer um hambúrguer.
Meu intestino parecia estar conformado em esperar.
Estávamos até contando piadas,
Quando a dorzinha novamente fez meu corpo arrepiar.

Foi terrível!
Um desastre quase aconteceu!
Mas novamente um peidinho saiu,
E fedeu!

Eu despistei:
“Vou ligar para a Maristela”.
Saí correndo,
Antes que o ar tomasse conta da atmosfera.

Estava a 15 minutos da minha casa a pé.
Comecei então a calcular!
Mas o cérebro não raciocinava.
O segrego era correr e não vacilar!

Faltando 200 metros para chegar em casa,
O alarme intestinal soou novamente.
O desespero tomou contada minha mente.

Entrei em casa a mil.
Meu abdômen já não agüentava mais um segundo.
Para piorar o corredor é longo,
E o banheiro fica lá no fundo.

Foi o corredor mais longo que já percorri
Cada metro parecia um quarteirão!
Minhas pernas tremiam,
Parecia filme de televisão!

Mas era real!
Enfim havia chegado!
Sentei no trono,
O glorioso lugar com fulgor conquistado!

“Senhor! Tira esse mal de mim!”
Eu gritei desesperado!
Mas antes de abrir a boca,
O ato já estava consumado.

Foram os 40 minutos mais longos que já vivi.
Um desespero assolador!
Depressão, parto não competem.
Sem dúvida, não competem com essa dor!


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A Guerra do Peão

As 6 o despertador grita,
Ô desilusão!
Repetindo a mesma fita,
Mais um dia pro peão!

Um banho de gato,
Só para disfarçar.
Depois um desodorante de 2 reais,
E as axilas ao vento refrescar.

Café com leite,
Pão com ovo.
Na de frutas, yorgute,
De vez em quando um bolo.

Pronto para pegar o ônibus?
Hahaha... nem sonhando...
No mínimo 40 minutos,
Esperando, esperando...

No trabalho não há moleza,
São 9 horas em ritmo de atleta.
E o encarregado gritando:
“Rápido, pois temos que solicitar coleta!”

Os minutos parecem horas,
E o ritmo não pode diminuir
O tempo não passa,
E o peão doido pra sair!

Então...
O tão aguardado momento chega.
O sinal toca.
Acabou mais um dia de peleja.

Hora de voltar para casa.
O ônibus novamente.
Apertado, super lotado.
“Vamo apertar aí gente!”

O herói então chega em casa.
Cansado,
Suado,
Quebrado...

“Querido, que bom que você chegou!”
Diz sua esposa bonita.
Ah!
Após a guerra diária...
Nada melhor que o amor família unida!

“Que bom que você chegou!
A televisão pifou,
O gás acabou,
O cano da cozinha furou,
O vidro de palmito não abre,
E você se atrasou.
Cabeça de bagre!”

E assim o peão percebe,
A maratona do dia acabou.
Mas o teste final,
Apenas começou.



Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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sábado, 3 de novembro de 2007

Coluna e a Base da Verdade

Correndo os olhos sobre os escritos paulinos, minha atenção foi atraída para um pequeno versículo da primeira carta de Paulo a Timóteo:

Todavia, se eu tardar, saberás como proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo: coluna e sustentáculo da verdade” (I Tm 3:15).

O decorrer desta carta até o capítulo 3, verso 15, é muito rico em instruções. Aliás, esse foi o objetivo de Paulo ao escrever esta carta: instruir Timóteo sobre a maneira correta de agir em relação a determinados problemas que existiam na época. Especialmente quanto aos judeus convertidos à fé cristã que insistiam em observar alguns ritos judaicos e a ascensão do Gnosticismo.

Já prevendo que poderia não mais ver o amigo Timóteo, Paulo deixou a ele um pequeno manual de regras sobre como proceder contra as ameaças à Igreja de Cristo. Ela aborda o tema “falsos doutores” por 3 vezes em toda a carta (1:3-7; 4:1-11; 6:3-10). Além disso, ele faz 4 declarações de fé sobre a divindade de Cristo nessa carta (1:17; 2:5-6; 3:16; 6:15-16). Sendo assim, podemos dizer sem medo ter estarmos errados que a primeira carta de Paulo a Timóteo é de caráter puramente apologético.

Vamos agora analisar o verso citado no início deste texto, a saber, a necessidade de a Igreja ser coluna e sustentáculo da verdade. Para interpretar esse versículo da maneira que vou fazer neste texto é necessário, primeiramente, identificar o aspecto apologético do versículo. Essa é uma tarefa muito simples.

Logo após Paulo citar que a Igreja é “coluna e sustentáculo da verdade” ele faz uma declaração sobre a divindade/humanidade de Jesus. Isso pode parecer normal nos dias de hoje onde todo mundo "aceita Jesus", mas, para aquele contexto histórico, toda declaração desta natureza envolvia discussões religiosas e, em alguns casos, morte daquele que declarava tal “absurdo”. Outro fator que aponta o fato deste versículo possuir um aspecto apologético é os termos que foram usados por Paulo, principalmente “verdade”. Um dos assuntos mais abordados pela filosofia grega era a natureza da verdade. Uma vez que Paulo era um cidadão romano, letrado, inteligente e que demonstra em suas cartas centelhas de alguns pensamentos da filosofia grega, acredito não ser mera coincidência o termo “verdade” aparecer logo antes de uma declaração de fé.

Pode até parecer um quebra-cabeça, mas, conforme vamos pensando nas possibilidades, tudo vai se encaixando de forma bem lógica. Os gnósticos afirmavam, dentre outras fábulas, que a matéria é a única prisão para a alma do homem que é, essencialmente, boa. Como esta crença contradizia a mensagem dos apóstolos, os gnósticos então afirmavam que eles eram os únicos que possuíam os “verdadeiros ensinamentos de Jesus”. De acordo com os gnósticos Jesus teria escolhido a dedo os seguidores que receberiam sua mensagem gnóstica (escolha dos 12 apóstolos conforme citada na Bíblia foi apenas de fachada). Como a matéria é má, os gnósticos também ensinavam que Jesus não tinha vindo em carne. O Jesus que todos viam, segundo eles, era apenas uma silueta não-material.

Paulo então diz para Timóteo (e para os que leriam essa carta posteriormente) que a "verdade" está na autoridade da Igreja e na mensagem dos apóstolos escolhidos por Jesus. A Igreja é, portanto, a coluna e sustentáculo da verdade. No versículo seguinte ele afirma sem rodeios que: “Ele foi manifestado na carne... exaltado na glória”.

O aspecto apologético salta-nos à vista.

I Tm 3:15 contém princípios para que a apologética cristã flua de maneira correta. Nossa apologética deve ser coluna e sustentáculo da verdade.

A palavra usada no grego original para coluna é stulos que significa “pilar”, “coluna”. Já o termo para sustentáculo é edraioma que significa “base”, “alicerce”, “apoio”. Quanto ao termo “verdade” não vou me deter a ele em detalhes, pois isso acarretaria um vasto estudo filosófico sobre o tema, o que não convém para este texto. É suficiente sabermos que, ao falar sobre “verdade”, Paulo apontava para a mensagem cristã, chamada por ele mesmo como “o mistério da piedade”, a saber, Cristo, Filho do Deus vivo, manifestado em carne.

Paulo usou termos comuns de construção civil para apontar como a Igreja deve ser portar apologeticamente. Nossos irmãos católicos podem afirmar que Paulo estava se referindo à Igreja Católica Romana, organizada e institucionalizada. Uma vez que o padrão institucional (católico, ortodoxo e protestante) nunca foi um modelo apologético ao mundo, eu rejeito essa posição (mas sem encerrar a questão, talvez aqui exista um tema para um bom debate). O próprio Jesus disse que é o Reino não é visível de forma que o identifiquemos visualmente. Antes, ele está em nós (Lc 17:20). As igrejas (com “i” minúsculo) servem para que nós cresçamos mutuamente em fraternidade.

Enfim, o fato é que nenhuma casa (nem mesmo a casa de Deus) fica de pé sem alicerces e colunas. Quanto maior o tamanho do imóvel, maior o alicerce deve ser. Podemos observar esta característica também nas árvores. Quanto maior o tamanho da árvore, mais fundo sua raiz penetra na terra. Uma casa sem alicerce, facilmente é derrubada pelos ventos de doutrina.

Podemos extrair vários ensinamentos práticos a partir daqui, tanto para nossa apologética diária (no trabalho, em casa, na escola), quanto para nossa apologética como Igreja (com “I” maiúsculo) de transformar a sociedade em que vivemos.

Para começar, sugiro re-lermos I Timóteo.


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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