sexta-feira, 14 de agosto de 2009

[4/8] Existem Evidências Históricas para a Ressurreição de Jesus?

Parte 4 de 8.

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Dr. Craig – Primeira Refutação

Bem, obrigado Bart, vejo que teremos um bom debate esta noite. Agora, vocês vão se recordar que eu estabeleci dois pontos para defender esta noite:

I. Existem quatro fatos que alguma hipótese histórica precisa explicar.
II. A ressurreição de Jesus é a melhor explicação para estes fatos.

Agora, eu gostaria de pular este primeiro ponto por causa do tempo e ir direto para o segundo porque ele é a chave onde Dr. Ehrman e eu discordamos.

Dr. Ehrman sustenta que nós nunca podemos dizer que um milagre como a ressurreição provavelmente aconteceu porque milagres, por sua própria natureza, são intrinsecamente improváveis. Agora, a despeito do que ele disse, este argumento não é novo. Ele já foi proposto no século XVIII por David Hume em seu ensaio Of Miracles. O argumento do Dr. Ehrman é apenas uma versão recauchutada do pensamento de David Hume. Agora, o que os filósofos contemporâneos pensam sobre o argumento de Hume contra a identificação de milagres? Bem, permitam-se apresentar-lhes outro Earman, John Earman, Professor de Filosofia da Ciência na University of Pittsburgh.

**O Slide de Powerpoint mostra a capa do livro de John Earman, “Hume’s Abject Failure: The argument Against Miracle” [O Fiasco Desprezível de Hume: O argumento contra o milagre]**

Este Professor Earman não é um cristão; na verdade, ele é um agnóstico. Ele nem mesmo acredita na existência de Deus. Todavia, veja o que ele pensa sobre o argumento de Hume: não é apenas um fiasco, é um fiasco desprezível. Isto é para dizer que, ele é demonstradamente, irremediavelmente, desesperadamente falacioso.

Permitam-me explicar por que.

Quando falamos sobre a probabilidade de algum evento ou hipótese A, esta probabilidade é sempre relativa a um corpo de informações de um contexto B. Assim, nós dizemos sobre a probabilidade de A sobre B, ou de A em relação a B.

**Slide de Powerpoint mostra a fórmula Pr (A/B)**

Então, a fim de descobrirmos a probabilidade da ressurreição, tomemos B como o corpo de informações que nós temos à parte de qualquer evidência para a ressurreição. Tomemos E para a evidência específica da ressurreição de Jesus: a tumba vazia, as aparições post-mortem, etc. Finalmente, tomemos R como a ressurreição de Jesus. Agora, o que nós queremos descobrir é a probabilidade da ressurreição de Jesus dado o corpo de informações que nós temos e a evidência específica neste caso.



Os teóricos em probabilidade desenvolveram uma fórmula muito complexa para calcular probabilidades como esta, e eu vou caminhar com vocês passo a passo, então vocês a entenderão.

O primeiro fator que nós precisamos considerar é a probabilidade da ressurreição sobre o corpo de informações que nós temos, apenas:



Pr (R/B) é chamada de intrínseca probabilidade da ressurreição. Ela nos diz o quão provável a ressurreição é dado o corpo de informações que temos.

A seguir nós a multiplicamos pela probabilidade da evidência dado o corpo de informações que temos e a ressurreição:



Pr (E/B & R) é chamado de poder explanatório da hipótese da ressurreição. Ela nos diz o quão provável a ressurreição torna a tumba vazia e os demais fatos. Estes dois fatores formam o numerador do cálculo.

Agora, na linha de baixo, no denominador, apenas reproduza o denominador. Apenas mova tudo o que está no numerador para a linha de baixo:



Finalmente, nós adicionamos a este produto dois novos fatores: a intrínseca probabilidade que Jesus não ressuscitou de dentre os mortos e o poder explanatório da hipótese da não-ressurreição:



Basicamente, Pr (not-R/B) x Pr (E/B& not-R) representa a intrínseca probabilidade e o poder explanatório de todas as explicações naturalistas alternativas à ressurreição de Jesus.

Assim, a probabilidade da ressurreição de Jesus relativa ao corpo de informações que temos e a específica evidência é equivalente nesse cálculo complicado.

Agora nós estamos prontos para observar precisamente onde o erro do Dr. Ehrman mente. Então, em homenagem ao desprezível erro de Hume, eu lhes dou: o Erro Escandaloso de Ehrman.



Ele diz: “Uma vez que historiadores podem estabelecer apenas o que provavelmente aconteceu, e como um milagre é em sua natureza muito improvável, os historiadores não podem dizer que a ressurreição provavelmente aconteceu”.

Em outras palavras, ao calcular a probabilidade da ressurreição de Jesus, o único fator que ele considera é a intrínseca probabilidade apenas [Pr (R/B)]. Ele simplesmente ignora todos os outros fatores. E isto é uma falácia aritmética. A probabilidade da ressurreição poderia ainda ser muito alta mesmo que a Pr (R/B) tivesse um valor muito baixo. Especificamente, Dr. Ehrman ignora os fatores cruciais das alternativas naturalistas para a ressurreição [Pr (not-R/B) x Pr (E/B & not-R)]. Se estes fatores possuem baixos valores, eles vão contrabalançar a qualquer intrínseca improbabilidade da hipótese da ressurreição.

Nós podemos ver isto ao olhar para a forma dos cálculos de probabilidade. Eles têm esta forma:



Eles têm esta forma, pois o numerador é reproduzido no denominador. Agora, observe que quanto mais próximo de zero o Y estiver, mais o valor deste cálculo se aproxima de 1, que na teoria de probabilidade representa “absoluta certeza”. Então, o que é realmente crucial aqui é a probabilidade de Y, que representa a intrínseca probabilidade e o poder explanatório das explicações naturalistas para a ressurreição de Jesus. Então, o Dr. Ehrman não pode simplesmente ignorar estas hipóteses inconsistentes. Se ele quiser explicar que a ressurreição é um evento improvável, ele precisa não apenas derrubar todas as evidências para a ressurreição, mas ele também precisa erigir um caso positivo em favor de alguma explicação naturalista alternativa à ressurreição.

Mas isto não é tudo. Dr. Ehrman apenas assume que a probabilidade da ressurreição em relação ao corpo de informações que temos [Pr (R/B)] é muito pequeno. Mas aqui, eu penso, ele se confundiu. O que, afinal de contas, é a hipótese da ressurreição? É a hipótese de que Jesus ressuscitou sobrenaturalmente da morte. Não é uma hipótese de que Jesus reviveu naturalmente da morte. Que Jesus ressuscitou naturalmente da morte é fantasticamente improvável. Mas eu não vejo nenhuma boa razão para considerar como improvável o fato de Deus ter ressuscitado Jesus de dentre os mortos.

A fim de mostrar que esta hipótese é improvável, você teria de mostrar que a existência de Deus é improvável. Mas Dr. Ehrman disse que um historiador não pode dizer nada sobre Deus. Portanto, ele não pode dizer que a existência de Deus é improvável. Mas se ele não pode dizer isto, ele também não pode dizer que a ressurreição de Jesus é improvável. Portanto, a posição do Dr. Ehrman é literalmente autocontraditória.

Mas isto fica ainda pior. Existe outra versão da objeção do Dr. Ehrman que é ainda mais falaciosa que o “Erro Escandaloso de Ehrman”. Eu o chamo de “A Mancada do Ehrman”.



Aqui está: “uma vez que historiadores podem estabelecer apenas o que provavelmente aconteceu no passado, eles não podem mostrar que milagres aconteceram, uma vez que isto envolveria uma contradição – que o maior dos eventos improváveis é mais provável”.

A verdade é que não existe em absoluto nenhuma contradição aqui porque estamos falando sobre duas probabilidades diferentes: a probabilidade da ressurreição em relação ao corpo de informações que temos e a evidência [Pr (R/B & E)] e a probabilidade da ressurreição sobre o corpo de informações que temos apenas [Pr (R/B)]. Não é surpresa alguma que a primeira probabilidade possa ser muito alta enquanto a segunda possa ser muito baixa. Não existe absolutamente nenhuma contradição. Em suma, o fundamental argumento do Dr. Ehrman contra a hipótese da ressurreição é demonstradamente falacioso.

Hume, porém, tinha uma desculpa para sua desprezível falácia: o cálculo de probabilidade não havia sido desenvolvido em seu tempo. Mas hoje os estudiosos do Novo Testamento não têm mais esta desculpa ao usar a seu favor um pensamento demonstradamente falacioso. Agora, Dr. Ehrman já mostrou que possui honestidade intelectual para mudar de opinião sob o poder da evidência empírica. Mas, neste caso, a mudança de sua opinião é matematicamente obrigatória, e eu espero que ele faça uso da mesma honestidade intelectual que o levou a mudar de opinião a respeito dos quatro fatos, que esta honestidade o conduza a repensar sua oposição à hipótese da ressurreição.

Agora, em meus poucos minutos restantes, permitam-me voltar ao meu primeiro ponto e tratar a respeito das respostas de Ehrman.

Ele disse existe uma espécie de lista que ele poderia oferecer para as fontes históricas e que os evangelhos não são fontes tão boas como gostaríamos que eles fossem. Permitam-me dizer que esta lista é tão idealista quanto irrelevante para o trabalho de um historiador. O único propósito para qual ela serve é para o efeito psicológico em criar uma barreira tão irrealisticamente alta para a qual os evangelhos parecem estar aquém, por comparação. Na verdade, entretanto, nenhuma fonte da história antiga corresponde a esta lista, e quatro em seis dos documentos do Novo Testamento, penso, cumprem as exigências desta lista completamente, e as outras duas parcialmente. Então a questão não é se os relatos que tão boas quanto gostaríamos que elas fossem, mas, elas são boas o suficiente para estabelecer estes quatro fatos? E elas certamente são.

E sobre as inconsistências? Bem, vocês se lembram que eu disse que ele precisaria mostrar três coisas para levar a adiante este argumento? Primeiro, que as inconsistências são insolúveis. Segundo, que elas negam a parte mais importante da narrativa, mais do que os detalhes. E terceiro, que ele teria de mostrar que todos os documentos possuem a mesma confiabilidade histórica, uma vez que a presença de inconsistências em uma fonte posterior e menos confiável não diminui em nada a credibilidade de uma fonte anterior e mais fidedigna. Então, eu não acredito que ele realmente mostrou que estas inconsistências apontadas por ele invalidam as narrativas.

A verdade é que, quando olhamos para os evangelhos, vemos que todos eles concordam que Jesus de Nazaré foi crucificado por autoridades romanas durante a Páscoa, após ser preso e condenado pelo crime de blasfêmia no Sinédrio Judaico e então levado ao governador romano sob a acusação de crime de traição. Ele morreu após algumas horas e foi enterrado na sexta feira à tarde por José de Arimatéia em uma tumba que foi selada com uma pedra. Certamente algumas seguidoras de Jesus, incluindo Maria Madalena, que é sempre mencionada, visitaram sua tumba no domingo pela manhã, encontrando-a vazia. Por conseguinte, Jesus apareceu vivo aos seus discípulos, incluindo Pedro, que então se tornaram proclamadores da mensagem da ressurreição.

Todos os quatro evangelhos atestam todos estes fatos. Mais detalhes pode-riam ser mencionados simplesmente citando fatos relatados em três dos evangelhos, três em quatro. E, como eu digo, a questão relevante é que o próprio Dr. Ehrman agora admite, desde 2003, que a despeito das inconsistências dos relatos, que estes quatro fatos são históricos. N. T. Wright, na conclusão de sua massiva pesquisa sobre as narrativas da ressurreição, diz que a tumba vazia e as aparições post-mortem possuem uma probabilidade histórica tão alta que poderiam ser chamadas de “virtualmente certezas”, como a morte de Augustus no ano 14 dC ou a queda de Jerusalém no ano 70 dC[10]. Isto é incrível!

Então, eu acho que o debate não está sobre estes fatos. A questão aqui é qual é a melhor explicação para estes fatos. E a objeção que o Professor Ehrman oferece não é uma objeção histórica. Ele não oferece um argumento histórico e sim um argumento filosófico, que é baseado em um mal entendido sobre as probabilidades envolvidas. Uma vez que já esclareci sobre este ponto, não vejo nenhuma razão em absoluto do por que alguém não pode inferir a partir da evidência histórica que Jesus de Nazaré ressuscitou dos mortos.


Notas:

[10] - N. T. Wright, The Ressurrection of the Sono f God (Minneapolis, MInn.: Fortress Press, 2003), p. 710.


Clique aqui para ler a parte 5

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Traduzido por Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.



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