sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Resposta a um Ateu: A historicidade de Moisés

O texto abaixo foi escrito em resposta a um ateu que me pediu uma razão do porquê eu tenho certeza de que Moisés realmente existiu:

Primeiramente devo dizer que vou usar a Bíblia sim. Me pedir para provar que Moisés existiu sem usar o único livro que cita ele, seria o mesmo que pedir para eu provar que Augusto Cezar viveu existiu sem usar nenhum livro de História Romana.

Para começar vamos compreender o contexto histórico dos acontecimentos: A força imperial da época era o Egito e, de acordo com a Torah, Moises liderou a libertação da nação de Israel da escravidão do Egito.

A primeira pergunta que vem é a seguinte: Em que seria interessante para um egípcio escrever sobre esse triunfo de Moises? Ou nas nações vizinhas, para que alguém escreveria um relato mentiroso que expunha ao ridículo o Todo-Poderoso Egito? Não podemos comparar aquela época com nossos tempos atuais, onde existe liberdade de Imprensa, além de veículos de comunicação imparciais acessíveis a todas as pessoas como a Internet. Suponha que um babilônico inventasse toda uma história como essa e escreve tudo em um pergaminho. Rapidamente esse pergaminho seria destruído pelos egípcios antes que os escravos começassem a ter delírios de grandeza.

A história de Moisés foi escrita pelo povo que a viveu, os hebreus. Por que não considerar a versão deles? Seria ela tendenciosa e não verdadeira? Acredito que não, pois Israel tinha uma Tradição Oral muito forte. As histórias eram contadas de pais para filhos e de filhos para netos!

Mas aí você me pergunta: "e se uma mentira chamada Moisés tivesse sido contada ao povo e sida transmitida por Tradição Oral?".

É possível, mas não provável e não lógico. Após Israel sair do Egito e adentrar em Canaã, a nação foi dividida em 12 tribos. Essas tribos se formaram espontaneamente e não tinham reis, ou líderes nelas. Era tudo uma questão de descendência: Israel (o homem) teve 12 filhos homens e os descendentes destes deram origem à nação Israel. Cada tribo tinha sua própria maneira de agir, hábitos e costumes. Se algum desocupado começasse a falar sobre um tal de Moisés que libertou o povo do Egito, e isso nunca tivesse acontecido de fato, essa história nunca teria credibilidade, nem em sua tribo, muito menos entre as 12 tribos em unanimidade.

Imagine se você sair por aí falando e divulgando pela net que o Silvo Santos morreu. É possível que todo o Brasil acredite nessa mentira? Não. Pode ser que você engane algumas poucas pessoas do seu convívio e elas espalhem essa mentira para outras. Mas essa mentira não irá muito longe. As pessoas vão procurar saber a verdade, acessar a internet, ligar a TV e procurar por outras fontes.

Da mesma forma teria ocorrido se a vida de Moises fosse uma farsa. Logo que tivesse sido contada, fontes internas e externas a Israel a teriam negado e, na Historia, percebemos o inverso. Quando Josué partiu para tomar atravessar o Rio Jordão e tomar a cidade de Jericó, os filisteus sabiam da história de um tal de Moisés que libertou o povo do Egito.

Um fato interessante é que a seqüência dos acontecimentos narrados faz com que Moisés tenha realmente existido. Veja, alguns fatos históricos sobre Israel:

538 a.C. - O Rei Ciro, dos Persas, assina o edito que liberta o povo de judeu do Egito.

Esse acontecimento envolve uma outra nação além de Israel, a Pérsia). Se essa referência ao edito do Rei Ciro, encontrada na Bíblia, não fosse verdadeira, os pérsas já teriam exposto provas de que não o é e o Antigo Testamento não teria credibilidade há muito tempo. E outro aspecto interessante que comprova que esse edito é real: Se Esdras (que cita essa passagem) escrevesse algo para enganar o povo, de forma nenhuma ele citaria outras nações ou outros reis, pois se estivesse mentindo, sua farsa seria revelada com mais facilidade.

Portando, o edito do Rei Ciro realmente aconteceu. O edito do Rei Ciro garantia a libertação da nação de Judá de seu exílio. Obviamente, temos que aceitar o fato de que a tribo de Judá realmente esteve em um exílio.

Se Judá esteve realmente em um exílio. Outra história bíblica se torna verdadeira: a divisão das tribos de Israel que é citada no livro de II Reis. Após a morte do rei Salomão (931 a.C.), devido a algumas divergências, as 10 tribos do norte se separarão das tribos do Sul, formando duas nações: Israel e Judá. O fato de Judá ter sido libertado de um exílio mostra que realmente houve uma divisão na nação.

Se a divisão das tribos realmente aconteceu, o rei Davi também existiu, pois o motivo dessa separação foi um ciúme vindo da parte das 10 tribos do Norte por Deus ter prometido que os descendentes de Davi sempre assumiriam o trono.

Se Davi existiu e reinou (1010-971 a.C.), logo o rei Saul também reinou (1030-1010 a.C.). Davi não foi rei desde criança. Conforme a história conta, Davi foi perseguido implacavelmente por Saul, o rei anterior a ele. Se o rei que precedeu a Davi fosse “Fulano” e Davi saísse falando que o rei antecessor não era “Fulano” e sim um tal de Saul, alguém acreditaria? Não! Portanto Saul foi o rei que antecedeu a Davi.

Se Saul existiu e foi rei, logo a história dos Juízes é verdadeira. Imagine se o Presidente Lula saísse falando que ele foi o primeiro presidente da história do Brasil, alguém acreditaria? Não! Pois todos sabemos que ele não o é. Portanto se tivesse existido outros reis antes de Saul e algum desocupado inventasse uma história de que Saul teria sido o primeiro rei, ninguém acreditaria e o boato logo desapareceria. Saul, portanto foi o primeiro rei de Israel e antes dele, a nação era governada pelos juízes.

Se a história dos juízes é verdadeira, obviamente a conquista da cidade de Jericó (1230 a.C.) também é, pois, após Israel conquistar Jericó e as cidades vizinhas e expulsar os povos, os habitantes destas cidades brigaram fervorosamente para retomar suas terras. Israel conquistou Jericó, então os sobreviventes de Jericó, se preparavam, uniam-se com outra nação rival de Israel e a atacavam. O período dos juízes relata exatamente essa época. O período dos juízes não teria acontecido se Jericó e as outras cidades não tivessem sido tomadas. Como o período dos juízes ocorreu, a tomada de Jericó também.

Se a tomada de Jericó aconteceu, logo Moisés existiu. Pois, a tomada de Jericó foi liderada por Josué e Josué foi o substituto imediato de Moisés sobre Israel. Antes de Moisés morrer ele convocou Josué e lhe entregou a responsabilidade de liderar o povo, fazê-los atravessar o rio Jordão e tomar a terra dos cananeus.

Portanto, se Moisés não existiu, Josué não o substituiu; Se Josué não o substituiu, Jericó não foi tomada; Se Jericó não foi tomada, o período dos juízes não aconteceu; Se o período dos Juízes não aconteceu é impossível Saul ter sido o primeiro rei de Israel; Obviamente, Davi não foi perseguido por um rei chamado Saul e não assumiu o trono após ele; Se Davi não foi Rei, o reino não dividiu em duas partes; Se o reino não se dividiu em duas partes... e assim por diante.

Portanto, se Moisés não existiu, toda a história de Israel foi inventada. E aí você entra em uma sinuca de bico. Pois essa história é abrangida entre os livros bíblicos de Josué a Malaquias. Esses livros foram escritos por aproximadamente 28 pessoas diferentes que viveram em períodos de tempo diferentes e, em muitos casos, sem se comunicar. Portanto, se Josué tivesse inventado uma mentira sobre um tal de Moisés (o que o povo não acreditaria), você tem que aceitar que um tal de Samuel, que se auto-proclamava profeta, escreveu um livro de mentiras, falando de um tal de Salomão e um tal de Davi sem nenhum motivo aparente. E também aceitar que esse conjunto de mentiras aleatórias ganhou tanta credibilidade a ponto de estar presente no livro mais vendido e lido da humanidade. Se Moisés não existiu, 28 escritores (que pouco, ou nunca, se comunicaram) em um período de 800 anos aproximadamente, escreveram mentiras que se tornaram as Histórias do povo de Israel. E o pior, tem que aceitar que o povo aceitou essas mentiras como verdade sabendo que são mentiras!

Tudo que citei foi no campo histórico. O que dizer então sobre a cultura de Israel? Esse povo tem costumes lendários como as festas anuais, festas para a colheita, sacrifícios, leis, tratamento para com estrangeiros, etc. Todos em Israel acreditam que esses preceitos lhes foram dados por um tal de Moisés. Basta fazer o processo acima e ir voltando a fita. Se Moisés não existiu, alguém os entregou isso e conseguiu com que acreditassem que foi um tal de Moisés.

Por que essas leis e rituais tiveram aceitação do povo? Exatamente porque a pessoa que os entregou tinha credibilidade entre o povo. Se fosse um Zé Ninguém que tivesse saído no meio dos arraiais com um novo código de regras ninguém ia aceitar, muito menos levar o nome de um tal de Moisés (que ninguém viu) por vários séculos.

Portanto, é mais lógico e mais racional acreditar que Moisés existiu.


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Quente ou frio?

É quase uma unanimidade associar o frio a coisas, situações, disposições e momentos não muito honrosos, e isso começa desde a infância. Quem nunca brincou de “Quente ou Frio”? Trata-se de tentar achar um objeto escondido por uma pessoa se baseando nas dicas que ela te passa:

Quente: o objeto está perto, você está ganhando.
Frio: o objeto está longe, você está perdendo.

Nossa sociedade também faz uso do quente ou frio para qualificar e quantificar certas ações e momentos. “O estádio de futebol está fervendo!” e “A torcida levou um banho de água fria!” são alguns exemplos. A nomenclatura usada pelos homens para expressar o comportamento sexual das mulheres é também através do “quente” ou “frio”, pois, as mulheres boas são as “fogosas”.

Podemos perceber também muitas mulheres lamentando o fato da relação conjugal ter “esfriado”, dizendo que a “chama” do primeiro amor se apagou.

Da mesma forma os vilões mais vingativos dos filmes são sempre chamados de “frios e calculistas”.

Nas igrejas conseguimos perceber esta mesma tendência. Afinal, crente bom é chamado de crente “quente”, de “fogo”. Algumas músicas evangélicas trazem esta associação entre “poder de Deus” e “fogo” como por exemplo: “incendeia Senhor a sua Igreja”, “ascende o fogo em mim”, “Espírito, Espírito, que desce como fogo!”. Nos cultos podemos observar o povo clamando pelo “fogo de Jeová”, principalmente em igrejas pentecostais e neo-pentecostais. Nem é necessário comentar o que eles pensam sobre os crentes “frios”...

De acordo com os meteorologistas, o mundo está ficando cada vez mais quente, fenômeno batizado de “Aquecimento Global”, porém, isso tem me trazido muito incômodo e desconforto. O calor me causa um enorme desânimo nas minhas tarefas do dia a dia. A todo o momento meu corpo transpira, o relógio não corre e a noite os pernilongos não me deixam dormir. É impossível dormir com cobertores em noites tão quentes ao mesmo tempo é necessário se proteger de alguma forma para que eles não te piquem. Mesmo no calor, a janela tem que ficar fechada para que não entre mais pernilongos sedentos por sangue.

Mas como é bom quando o tempo está um pouco frio, não?! As tarefas do dia a dia são realizadas com maior dinâmica e à noite podemos dormir com uma dezena de cobertores se quisermos (e nada de pernilongos).

Meus pensamentos chamaram minha atenção ao fato de que tanto o calor quanto o frio são bons (ou ambos ruins). Ambos são preferidos em alguns momentos e preteridos em outros. Já ouvi várias pessoas dizerem que Deus criou apenas o calor e que, o frio, é a ausência dessa criação de Deus. Podemos perceber que isso é incoerente, pois, se assim fosse, os refrigerantes quentes deveriam ser muito mais apreciados que os refrigerantes gelados.

Imagine viver em um mundo onde o sorvete, refrigerante, salada de fruta, as piscinas, os rios, o vento, a brisa, e tudo aquilo que nos dá prazer por ser frio, fosse quente. Que porre que seria! O mundo perderia a diversidade. Seria um horror. Não existiria o prazer moleque de tomar banho de mangueira, lavar o carro, passear para cachoeiras, etc.

Até mesmo os exemplos que citei no inicio desse texto são questionáveis: as brigas de torcida sempre ocorrem quando estádio está como um caldeirão; o marido casado com uma mulher fogosa sempre tem mais chances de levar um chifre na testa; as mulheres que mantêm a chama da paixão além do normal, e não deixam a relação se “esfriar”, são aquelas mais ciumentas, rixentas e barraqueiras.

Ao passo que os personagens “frios” do cinema são sempre os mais espertos. Não é por acaso que logo após o “frio” vem o outro adjetivo “calculista”. As mulheres “frias” são aquelas que pensam nas conseqüências antes de tomar atitudes. Os casais que já se acostumaram com a relação “fria” não necessariamente deixam de se amar, mas são aqueles mais serenos, que contemplam o crescimento dos filhos, lêem mais e refletem sobre a existência.

Na Igreja eu vejo a mesma situação. Os pentecostais chamam as igrejas mais litúrgicas de “geladeira”, porém, os membros dessas “geladeiras” são sempre os que dedicam mais ao estudo bíblico, à ação de graças, que mais se preocupam com a responsabilidade social da Igreja e são sempre os mais constantes quanto à fé. Já o pessoal do fogo...

Enfim, o frio é bom, tanto quanto o calor é bom. Sendo Deus o Artista por trás disso tudo, o frio também proveio dele. Portanto, se alguém te chamar de crente frio, crente sorvete, ou disser que você é “frio” espiritualmente... Agradeça! Vocês estão sendo elogiados. Eles estão te associando a uma das melhores coisas já criadas por Deus: o frio.


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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