segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Resenha: Brainworms I - Bittencourt Project

Certa vez emprestei um CD a um amigo e após ele me devolver lhe perguntei se ele havia gostado do álbum. Sua resposta foi algo como “me pergunte daqui a quatro meses”. O argumento dele era que as primeiras impressões sobre algum trabalho musical sempre são falsas e que algo só pode ser considerado “bom” se perdurar por algum tempo; se perdurar após o período normal de “oba-oba”.

Este princípio é absolutamente verdadeiro, e é exatamente por causa disto que estou escrevendo uma resenha de “Brainworms I” após mais de um ano de seu lançamento. Lembro que as primeiras impressões que tive do primeiro álbum solo de Rafael Bittencourt foram as piores possíveis. “que distorção cansativa de guitarra!”, “que falta de continuidade entre as músicas!”, “que bateria mais simples!”, etc. Há 11 meses, contudo, é o álbum que mais escuto, mesmo já tendo o ouvido trocentas vezes. “Brainworms I” foi lançado na mesma data que “Fragile Equality” (Almah) e, após as primeiras semanas de lançados, todos achavam “Fragile Equality” sensacional e falavam pouco de “Brainworms I”; hoje ninguém lembra que Almah alguma vez existiu (especialmente depois da volta do Angra), mas você ainda encontra muitas pessoas comentando positivamente “Brainworms I”.

Antes de falar sobre a musicalidade do CD, vale a pena mencionar a incrível capacidade de Rafael de abordar temas inteligentes no conteúdo lírico de suas composições. "Brainworms" [cuja tradução em português seria algo como “minhocas cerebrais”], conforme palavras do próprio Rafael, são aquelas melodias que “grudam” na nossa cabeça. Mas diferente do que você esperaria de um convencional músico brasileiro de Heavy Metal, Rafael escolheu este título por estar lendo sobre o assunto, não por ter o ouvido sobre ele no Fantástico, na MTV ou no Globo Repórter. A inteligência por traz das composições é um grande diferencial nas composições de Rafael (talvez esta seja a razão de Angra ser uma de minhas bandas favoritas).

As letras das músicas de “Brainworms I” caminham superficialmente pelas áreas mais nobres de estudo como Filosofia, Religião e Psicologia, e ainda abordam várias questões “existenciais” pertinentes ao ser humano como depressão, desespero, amor, ódio, alívio, pesar, medo, etc. Enfim, quanto ao conteúdo lírico, inteligência não falta.

Musicalmente falando o álbum é mais surpreendente que as ótimas impressões sobre o conteúdo lírico. “Criatividade” e “liberdade” são palavras que melhorem definem a musicalidade deste álbum. Afinal, é impossível não chamar de criativo um álbum que reúne Heavy Metal; Rock oitentista; levadas meio Death Melódico; o fenomenal Tango-Punk de “Torment of Fate”; batucadas a la Olodum; triângulos nordestinos; viola caipira e, por fim, música Country.

É interessantíssimo perceber a “unidade na diversidade” deste álbum. Se eu te passar a primeira música (Dedicate my Soul) e logo depois a última (Nacib Véio!) você dificilmente acreditará que são músicas de um mesmo álbum. A primeira, um Metal dinâmico e intenso; a última, uma espécie Metal-Contry cantando em um português cheio de gírias ("é nóis!").

No meio do turbilhão de estilos, ritmos e melodias de “Brainworms I” encontramos a bela e emocionante “Holding Back de Fire”; a empolgante e viciante (eu não consigo escutá-la apenas uma vez, aperto o repeat sempre) “Tormento of Fate”. Aliás, esta música é tão boa que merece uma consideração especial:

Our fate has to be changed
titichu titichu titichu
(esse titichu é legal demais!)
Live or die! You have to decide...

É realmente viciante!

Prosseguindo temos o romance (depressivo?) de “The Dark Side of Love”; o classic-rock de “Nightfly”; o Metal Progressivo de “The Underworld” (a faixa que mais nos lembra o Angra); o progressivo sereno de “Faded” (é incrível nesta faixa a maneira como ela nos conduz aos poucos a um ápice. É como se estivéssemos lendo uma trama que vai se desenrolando aos poucos); o clima fazendeiro de “Santa Tereza” (quem foi o louco do Angra que votou para esta música ficar fora do álbum “Holy Land”?); “O Pastor” que é uma versão meio Death Melódico da música originalmente composta pelo grupo português Madredeus; “Comendo Melancia” e “Primeiro Amor” são instrumentais, a primeira do tipo que se toca em workshops para promover guitarras, pedaleiras ou amplificadores; a segunda um belo arranjo de cordas, bem brasileiro!

O álbum termina com a já mencionada “Nacib Véio!” que é, eu diria, bastante engraçada, apesar de sua letra trágica. Talvez esta não tenha sido a intenção de Rafael ao compô-la, mas a combinação entre a melodia (alegre e divertida) e a letra (uma perfeita desgraça) nesta música faz uma perfeita analogia com a condição de vida geral do povo brasileiro que, a despeito de todas as dificuldades sócio-econômicas de desigualdade, falta de oportunidade na vida, líderes corruptos, etc., ainda assim é feliz, alegre e radiante.

Enfim, “Brainworms I” é incrível! Você provavelmente não vai gostar dele nas primeiras vezes que o ouvir, mas, quando se assustar, verá que não consegue viver sem escutá-lo por muito tempo.

Parabéns a Rafael Bittencourt pela excelente (em todos os sentidos!) composição. Esperamos com ansiedade pelo “Brainworms II”.


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

Creative Commons License
DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.


2 comentários:

Anderson 9 de Novembro de 2009 16:21  

Sensacional o review.
Bastante parecido com o meu pensar do album.

O Rafa realmente botou todo o sentimento possivel nesse CD, e, a cada vez que se ouve, gosta-se mais.

Luísa. 20 de Novembro de 2009 15:24  

Muito bom, muito bom. Aliás, tanto a resenha quanto o Álbum em si. Eu peguei mania de resenhar álbuns depois que ouvi o Brainworms-I, que foi por acaso a unica resenha que eu postei. Dá uma olhada!

http://segnocoda.blogspot.com/2009/10/bittencourt-project-viciante.html

E uma coisa eu posso dizer... AMEI O "TITICHU" ... Onomatopeia melhor impossível!! Haahaha!

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