sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Maravilhosa Graça: uma entrevista com Philip Yancey

------------------------------------
Texto introdutório e entrevista escritos por Candace Chellew-Hodge.

Para conferir a versão original (em inglês), clique aqui.

Conteúdo traduzido para o português por Eliel Vieira. As opiniões expostas a seguir não refletem necessariamente a opinião do blog DESCONSTRUINDO, apesar de haver uma convergência muito grande entre o que foi traduzido e a opinião do editor do blog.

"Analise tudo, retenha o que é bom" (I Ts 5:21)

------------------------------------

A primeira vez que ouvi sobre Philip Yancey foi quando seu livro “Maravlhosa Graça” foi lançado em 1997. Apesar de muitas pessoas que eu respeitava terem delirado com este livro, não me interessei em lê-lo. Por quê? Porque ele foi escrito por um homem que escrevia regularmente para a revista Cristianity Today – uma revista que era qualquer coisa, menos amiga dos homossexuais. Eu não perderia meu precioso tempo lendo autores que surram gays ou lésbicas – ou autores que poderiam fazer isto. Eu conheço a posição deles e seus argumentos. Ler seus livros soaria a mim como uma perda de tempo.

Devo confessar, porém, que eu julguei de forma muito injusta o trabalho de Yancey. Eu cometi o erro imbecil de “culpar por associação”, criando minha opinião sobre ele antes de dar aos seus livros uma chance. Me arrependo disto, mas talvez Deus estivesse no controle. Se eu tivesse lido Yancey em 1997 talvez eu não tivesse apreciado sua gentileza, sua ternura, sua graça ou sua misericórdia como agora.

Eu finalmente li o trabalho de Yancey somente depois que eu assinei o serviço de audio-books “Audible”. O tempo que gasto indo e voltando do meu trabalho para minha casa toma mais ou menos duas horas do meu dia, então eu pensei que livros em CD seriam uma boa forma de aproveitar este tempo. “Audible” tem uma grande seleção de livros cristãos e espirituais e eu consumi boa parte de seu catálogo. Foi em um dia, quando eu já havia esgotado todos os livros em que eu estava interessada, que me voltei para o novo livro de Yancey, “Rumores sobre outro mundo”. Eu passava por uma crise espiritual e estava procurando por alguém que me explicasse como poderia alcançar aquele mundo sobrenatural que todos nós sabemos que existe, mas de alguma forma que não se esquecesse de nosso corrido dia a dia. A descrição do livro soou muito intrigante a mim, então eu pus de lado meus pré-conceitos sobre Yancey e baixei o livro.

Que benção! O livro era exatamente o que eu precisava. Eu desconfiei, porém, do capítulo “Designer Sex”, esperando por uma forte crítica contra gays e lésbicas. O que não aconteceu. Isto foi profundamente chocante – um evangélico que não usou um capítulo sobre sexo para disparar contra os homossexuais? Difícil acreditar.

O espírito do livro me levou a fazer outra seleção de Yancey. “O Deus Invisível” foi outro livro que li com ansiosa fome. Finalmente um autor ofereceu um tratamento inteligente sobre fé, dúvida e como nos relacionamos com um Deus que não podemos ver. Eu estava começando a entender porque tantas pessoas amavam Yancey – e porque outras não gostam dele em absoluto – especialmente se estas estão amarradas a uma fé fundamentalista do tipo preto e branco.

Finalmente eu decidi ler “Maravilhosa Graça”. Este livro me deixou sem palavras e fui completamente abençoada. Eu desejaria começar uma igreja baseando-me unicamente nos ensinamentos deste livro – de Deus “cutucar com a Graça” a todos que passam pela porta. Eu acho que este livro deveria ser lido por cada pessoa da face da Terra. O conteúdo deste livro é muito superior às papinhas que as igrejas lêem atualmente como a potencialmente danosa teologia de Rick Warren em “Uma Vida com Propósitos”.

Foi a descrição de Yancey sobre sua amizade com Mel White em “Maravilhosa Graça” que me tocou mais profundamente. A história de White, documentada em seu livro “Stranger at the Gate” [Estranho no Muro], foi bem comentada na comunidade homossexual. White foi um escritor fantasma[1] para líderes de direita como Pat Robertson em Jerry Falwell até que ele se revelou. Evitado por seus antigos empregados, White saiu para fundar a Soulforce, um grupo de ação social dedicado ao equilíbrio espiritual de crentes gays, lésbicas e transexuais.

Yancey deu um suporte inabalável a seu amigo Mel, e sua própria luta em relação a pecaminosidade da homossexualidade é documentada no livro, e é um dos relatos mais sinceros sobre a Graça em meio a luta que eu acredito que já li. Foi este capítulo que me fez escrever a Yancey e dizer a ele o quanto seus livros me mudaram.

Ele foi gentil o suficiente de me responder, eu me entusiasmei e pedi a ele uma entrevista. Ele concordou em responder uma entrevista via e-mail (por causa de sua agenda ocupada). Eu fiquei maravilhada dele emprestar seu nome para uma publicação como Whosoever – e eternamente grata.

Eu não consigo recomendar com suficiência seu trabalho. Se você tem sede de Graça, paz e alegria, leia os livros de Yancey, Você não se decepcionará.

Whosever: Você tem um novo livro que acabou de ser lançado, “Rumores de Outro Mundo”, que é simplesmente extraordinário. Qual foi o principal combustível para este livro e por que você sentiu vontade de escrevê-lo?

Philip Yancey: Eu o escrevi para pessoas nas “fronteiras da fé”, pessoas que tem um sentido espiritual mas que, por uma série de razões, não encontraram um lar na igreja. Eu tentei falar a língua deles, não pregando sobre coisas que eles deveriam acreditar, mas começando a partir deste sentido espiritual – estes são os “rumores do outro mundo” – e tentando conduzir alguns destes rumores de volta à fonte. OK, eu admito que embora tivesse esta audiência em mente, na verdade eu escrevi todos meus livros para à partir de mim mesmo. Eu comecei me perguntando, “Philip, você consegue explicar sua fé de uma maneira que faça sentido a alguém que vê o mundo de uma forma completamente diferente da forma como você o enxerga?”.

Whosever: Em seu livro “Maravilhosa Graça” você fala sobre sua amizade com o líder da Soulforce, Mel White, e da sua ajuda a ele na Marcha em Washington, em 1987. Sua descrição de sua amizade com Mel e seus sentimentos em relação aos gays e lésbicas que você conheceu na marcha foram os relatos mais cheios de Graça que eu já li de um cristão evangélico. Qual é sua posição sobre gays e lésbicas na igreja?

Yancey: Mel foi um dos meus amigos mais próximos por anos antes dele revelar sua orientação sexual (ele ainda é meu amigo, a propósito). Ele reprimiu e escondeu sua homossexualidade, se casou e criou uma fina carreira no ministério e em publicação cristãs. Mel se tornou uma janela para mim, para um mundo sobre o qual eu não conhecia nada. Ele conta sua história em seu livro "Stranger at the Gate”. Os leitores de sua revista sabem bem o quão explosivo esta questão pode ser. Eu recebi cartas cheias de fúria com o mesmo veneno de ambos os lados: cartas de cristãos conservadores horrorizados com o fato de eu manter minha amizade com Mel e sobre eu escrever com compaixão sobre gays e lésbicas; e cartas do outro lado, desejando que eu fosse mais além e endossasse completamente a causa.

Em uma questão como esta, eu tento começar com aquilo eu tenho absoluta certeza, e trabalhar o que vier a seguir. Eu estou certo de como minha atitude deve ser em relação aos gays e as lésbicas: eu devo mostrar amor e Graça. Como uma pessoa disse a mim, “cristãos ficam muito irados em relação a outros cristãos que pecam de forma diferente do que eles”. Quando pessoas me perguntam como eu posso permanecer amigo de pessoas pecadoras como Mel, eu respondo perguntando a elas como Mel pode permanecer amigo de pessoas pecadoras como eu. Mesmo que eu concluísse que todo o comportamento homossexual está errado, como muitos cristãos conservadores fazem, eu ainda estou compelido a responder com amor.

Assim como eu já fui a igrejas de gays e lésbicas, eu também observei que infelizmente a igreja evangélica, na larga maioria das vezes, não tem lugar para os homossexuais. Eu encontrei maravilhosos cristãos comprometidos que freqüentam igrejas metropolitanas[2], e eu desejo que a igreja cristã tivesse benefício da fé deles. E ao mesmo tempo, eu penso que não é saudável se ter uma denominação inteira formada sobre uma questão única e particular – estas pessoas precisam ser expostas e inclusas ao amplo Corpo de Cristo.

Quando o assunto chega a questões mais particulares de doutrina, como a ordenação de ministros gays e lésbicas, eu fico confuso, como a maioria das pessoas. Existem algumas – não muitas, mas algumas – passagens das Escrituras que me freiam. Francamente, eu não sei a resposta para estas perguntas. Eu sou um freelancer, não um representante oficial da igreja, e eu tenho o direito de simplesmente dizer, “aqui está o que eu penso, mas eu realmente não sei”, ao invés de tentar ir contra a doutrina da igreja.

A polarização me deixa muito triste. Minha igreja em Chicago dispensou alguns anos estudando esta questão. A igreja tem abertamente membros gays, mas não permite que gays praticantes ocupem postos de liderança (assim como eles não permitem o mesmo a “heterossexuais praticantes” não casados, seja lá o que isto signifique). O comitê que estudou a questão pesquisou sobre aspectos bíblicos, teológicos e sociais e finalmente voltaram ao mesmo lugar: dando as boas vindas, mas não afirmando homossexuais em tarefas de liderança. Alguns conservadores se iraram e saíram da igreja. Vários gays e lésbicas também saíram, machucados pela igreja ter reforçado o status de “pessoas de segunda-classe” a eles.

Eu não tenho uma resposta mágica, e eu não posso vê-la num horizonte próximo. Todas as denominações estão lutando com a mesma questão, como você sabe.

Whosever: Como um cristão evangélico pode desenvolver uma atitude de graça (se não de aceitação) em relação a um cristão homossexual?

Yancey: A única maneira é através na exposição pessoal. É maravilhoso como os sentimentos mudam quando de repente é sua filha ou seu irmão que saiu do armário. No meu caso, foi meu amigo Mel. Os assuntos sobre os quais eu havia lido de repente ganharam forma, uma pessoa com uma história. Quando isto aconteceu, tudo mudou. Esta é a razão pela qual eu acho que é triste o fato da igreja ter tão pouco contato. Eu já visitei igrejas de gays e lésbicas onde o fervor e o comprometimento deixariam qualquer evangélico envergonhado. Os conservadores fundamentalistas deveriam ter contato com estas pessoas, e vice-versa.

Whosoever: Muitos gays e lésbicas já foram prejudicados por atitudes de igrejas em relação a eles. Alguns foram tão prejudicados que juraram jamais pisar em uma igreja novamente. O que você diria a estas pessoas que foram abandonadas pela igreja e que talvez já tenham perdido sua fé?

Yancey: Eles talvez precisem de um tempo longe da igreja. Estou convicto, no entanto, que a vida cristã não é para ser vivida sozinha, em isolamento. Se uma pessoa não consegue se ver dentro de uma igreja institucional, ao menos ela deveria procurar por um grupo pequeno de estudos bíblicos, ou algum grupo de seres humanos que estejam lutando contras dificuldades ao longo da mesma caminhada. Eu também acho que seria útil a uma pessoa machucada buscar por experiências de adoração radicalmente diferentes daquelas que a machucaram algum dia. Se eles vieram de uma Assembléia de Deus, tente uma igreja Ortodoxa ou uma Episcopal, que conduzem a adoração de formas muito diferentes e talvez não ativem os mecanismos de defesa do passado.

Eu poderia dizer a você histórias – e nos meus livros eu conto histórias sobre a igreja na qual eu cresci. Nos quesitos mesquinharia e mente-fechada ela compete e vence qualquer igreja que eu já vi. E se eu simplesmente desistisse de toda a minha a fé por causa de minhas experiências passadas com a igreja, eu seria o que mais sairia perdendo.

Whosoever: Quando eu e minha parceira mudamos de Estado, começamos a procurar por uma igreja para freqüentarmos. Eu escrevi uma carta para a o Reitor Episcopal local explicando quem éramos e perguntando se seríamos bem recebidos em sua igreja. Sua resposta foi que nós seríamos muito bem vindas, se abandonássemos nosso “estilo pecaminoso de vida” e procurássemos o bem. Esta é a reação de muitas igrejas cristãs em relação aos gays e as lésbicas. Nós precisamos abandonar nossa orientação sexual para ser aceitos. O que você diria a igrejas como esta?

Yancey: Provavelmente eu não sou a melhor pessoa para chamar a atenção de uma igreja como esta – você é. Obviamente, se uma igreja está dizendo que você precisa abandonar sua orientação sexual, esta igreja precisa de alguma educação. Eu sei que alguns ministros tentam mudar o comportamento sexual, mas nenhum que tenta mudar a orientação sexual – todos admitem que qualquer mudança como esta significaria uma vida de sofrimento. Eu desejaria que um ministro ou um reitor fosse aberto ao diálogo, e eu desejaria que você tivesse força e ousadia de se sentar com ele e conversar sobre sua própria história, bem como ouvir sobre as objeções bíblicas que ele tem.

Eu não sou homossexual, então provavelmente eu abordaria este reitor de forma diferente. Eu apontaria como Jesus lidou com pessoas moralmente falhas – eu começaria de onde o reitor está, ele enxerga vocês como pessoas moralmente falhas. Jesus escolheu uma mulher que já tinha se casado cinco vezes como seu primeiro ato missionário. Eu também perguntaria ao reitor se ele exige a todos de sua igreja que deixem seus “pecados” à porta. Ele entrevista cada membro de sua igreja sobre suas atividades sexuais? Ele exclui pessoas que mostram orgulho, hipocrisia ou legalismo, que foram os pecados que mais chatearam Jesus? Ele vê a igreja como um lugar apenas para pessoas que enxergam todas as coisas da mesma forma, e para pessoas que já “chegaram” ao invés de pessoas que ainda estão no caminho? Eu faria estas e outras perguntas do tipo.

Whosoever: Seu livro “Deus Invisível” veio a mim quando eu estava perturbada sobre como a vontade de Deus funciona não apenas na minha vida, mas no mundo todo em geral. O que te levou a escrever este livro?

Yancey: É um livro sobre fé, realmente. Todos os meus livros circundam sobre o mesmo tema: porque este mundo está do jeito que está ao invés de termos um amoroso e soberano Deus que resolvesse todos os problemas? Eu comecei anos atrás com a questão “Onde Está Deus Quando Chega a Dor”, seguido de “Decepcionado com Deus”. Se você ir a uma igreja evangélica e ouvir as músicas que tocam no período de louvor, você pensará que Deus está intimamente disponível em todo o tempo; um Amante que satisfaz todas as nossas necessidades. Mas em minha experiência pessoal, e eu não sou o único aqui, as coisas são bem diferentes. Eu vivo em um mundo materialista que raramente leva em conta a existência de Deus. E eu vivo em um mundo que traz um grande desprazer para com Deus. Por que Deus não age? E como eu posso me relacionar com um Deus que eu não posso ver ou tocar? Estas são algumas de minhas questões, e quando eu tenho questões eu escrevo sobre elas.

Whosoever: “Deus Invisível” defende o caso de deixar muitos dos caminhos de Deus no mundo e em nossas vidas em um profundo mistério, ainda que as distorções fundamentalistas do cristianismo parecem apoiar uma religião preto e branca, com respostas fáceis e regras claras. Como podemos trazer o mistério de Deus para dentro de nossas vidas?

Yancey: Vamos começar com a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento. Quando vou falar em colégios, eu desafio os estudantes de filosofia a encontrar um único argumento contra Deus nos escritos de grandes agnósticos como David Hume, Voltaire, e Bertrand Russell que já não tivesse sido mencionado antes na Bíblia. Eu admiro um Deus que respeita tanto a liberdade humana que nos dá argumentos para confrontá-lo. Leia Jeremias, Habacuque, Salmos, Jó – o mistério está todo lá. Eu também encontro muita nutrição espiritual em escritores católicos da história. Eles entenderam o mistério, e muitos deles dispensaram toda sua vida explorando este mistério.

Whosoever: Como podemos incorporar um senso saudável de dúvida em nossas vidas?

Yancey: Eu sou um grande defensor da dúvida, porque foi ela que me trouxe de volta à fé: eu comecei a duvidar de algumas coisas malucas que a igreja tinha me ensinado. Eu não acho que a dificuldade esteja em incorporar a dúvida em nossas vidas; a dúvida virá você desejando ou não. A reação dos demais cristãos determinará se a dúvida permanece “saudável” nelas. Em meu livro eu ofereço estas sugestões práticas: 1) Questionar suas dúvidas tanto quanto você questiona sua fé; 2) Algumas vezes você tem que “agir como se” isto fosse verdade por um período, suas emoções o acompanhando ou não; 3) Encontrar um “companheiro de dúvida” confiável que te gratifique, e não o puna, pela honestidade. E para a igreja eu digo que elas devem ser um abrigo para as pessoas que necessitam de uma “revelação adicional”. Pense em Tomé após a ressurreição: ele duvidou dos relatos dos discípulos, e eles ainda o aceitaram no grupo. E foi uma coisa boa, porque Jesus apareceu apenas para grupos de seus seguidores, e se os discípulos tivessem excluídos Tomé por causa de suas dúvidas, ele nunca teria recebido aquela revelação extra.

Whosoever: Seus livros transmitem inteligência e profundidade sobre sua fé. Você incorporou pensamentos de muitos teólogos importantes como Soren Kirkegaard, Simone Weil e Thomas Merton. Como os cristãos podem ser encorajados a elaborar pensamentos inteligentes e sérios sobre sua fé ao invés de aderir ao clichê famoso “A Bíblia diz isto, eu acredito nela, logo isto é verdadeiro”?

Yancey: Eu conheço muitos deste tipo “logo, isto é verdadeiro” no outro lado da fé. Jeremias usa a imagem de um arbusto plantado às margens de um rio. Enquanto tiver água fluindo pelo rio, o arbusto floresce. Se o rio seca, o arbusto morre. Então ele fala sobre plantas desérticas cujas raízes são muito profundas. Nós temos que ter este tipo de fé. Eu penso na maioria das pessoas que vão a seminários para melhorar suas carreiras, ou a energia que as pessoas depositam em times de futebol ou música popular. Meu Deus!, elas não deveriam devotar a mesma energia para a questão mais importante de todas na vida? Os recursos estão aí; nós simplesmente precisamos de disciplina para usá-los com sabedoria.

Whosoever: Por que você acha que a maioria dos cristãos evita uma investigação séria sobre a fé delas, preferindo simplesmente aceitar os ensinamentos da igreja sem questionamentos?

Yancey: Preguiça pode ser um fator. Medo também. Muitos cristãos têm medo de olhar minuciosamente sua fé. Como Pedro, eles temem sair do barco. E muitas igrejas encorajam este tipo de “Eu pensarei por você” como um tipo de controle. Isto é sempre perigoso. Eu li outro dia que em 153 vezes alguém foi até Jesus com uma questão, e em 147 vezes ele respondeu fazendo outra pergunta. É um bom modelo, não acha?

Whosoever: Em seus livros você fala sobre todas as cartas que você recebe, algumas delas com críticas fortes de companheiros evangélicos. Como você deve imaginar, eu recebo um grande número de correspondências do mesmo tipo também. Como você responde a este tipo de mensagem e por que você acha que estes “amáveis” cristãos são compelidos a reagir tão asperamente a palavras de Graça?

Yancey: Eu comecei minha carreira de escritor como um editor de revista (Campus Life) então eu rapidamente me acostumei com este tipo de correspondência. Eu me lembro que revistas sobre política ou clima ou direitos dos animais ou qualquer coisa do tipo sempre atraíram a mesma impetuosidade. Quanto maior for a importância da questão, mais ela atiça as emoções das pessoas. E eu também tenho visto mudanças neste tipo de leitores. Como eu sempre respondo com compaixão a aquelas pessoas que me escrevem com raiva, freqüentemente eles me escrevem de volta em um tom mais calmo, e ocasionalmente até se desculpando. Eu tenho que me lembrar que este tipo de pessoa é o meu teste da Graça. Eu acho muito mais difícil demonstrar Graça a pessoas conservadores e julgadoras do que a pessoas inclusivas, liberais. Eu tenho visto muita mudança. Uma prova da Graça de Deus em si mesma.

Whosoever: O que virá a seguir em sua agenda – um novo livro, convites para palestras?

Yancey: Eu estou neste momento no interior da Nova Zelândia escrevendo as respostas para suas questões. Pela primeira vez em 25 anos eu não estou começando nenhum livro. Fiz viagens à África do Sul, Nepal, China e agora Nova Zelândia. Estou falando aos mais variados grupos, aprendendo muito, tentando ouvir antes de mergulhar em algum outro projeto escrito.

--------------------------

Notas:

[1] – “Ghostwriter” em inglês. É quando uma pessoa escreve um livro para outra pessoa, não recebendo, assim, os créditos por aquilo que escreveu.
[2] – Nomes que se dão às igrejas americanas abertas ao povo homossexual.

--------------------------

Candace Chellew-Hodge é fundadora da revista on-line Whosoever: An Online Magazine for GLBT Christians [Seja quem for: uma revista on-line para GLBT cristãos]. Ela é ministra ordenada e também dá aulas na Candler School of Theology na Universidade de Atlanta.

--------------------------

Traduzido por: Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

Creative Commons License
DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.


5 comentários:

Eduardo Vaz 20 de novembro de 2009 13:58  

Gosto do yancey...mas ele ao meu ver foge das questoes..jesus de fato se aproxima da mulher mas ele aplica o evangelho...É facil jogar a bomba nas maos dos lideres, mas ele esquece que todos fomos chamados a sermos sacerdotes e proclamarmos o evangelho. se uma pessoa sabe que ESTÁ em pecado, vivendo na pratica do pecado, seja ele qual for, deve sim ser notificado, como paulo diz.. Homossexualismo é pecado, assim como a falta de amor ás pessoas ( sejam elas quais forem ). Eu sou amigo de homosexuais mas nem de longe concordo com tal pratica...acho parte do que yancey fala muito fofinho...É ISSO

davi 22 de novembro de 2009 05:11  

Bem, no mínimo interessante...

informadordeopiniao 27 de novembro de 2009 07:15  

Bem,
o problema é que "homossexualismo" é pecado assim como a misogenia fora uma virtude em bons tempos; assim como alguém pegava "ipsus literis" as passagens sobre mulher ficar calada e baixar a cabeça e hoje silencia-se. Assim como o sexo até pós-"casamento" [essa palavra teve vários significados e e manifestações histórico-culturais que é estranho hoje alguns dizerem que sabem ou advogam a forma pura e última do termo) o fora, com muitas citações bíblicas. E o que vemos é que, como Yancey denunciou, diversos sentimentos de preconceito e ódio ao "outro" são racionalizados "biblicamente".
A absolutização do próprio discurso, que advindo de humanos é sempre histórico e socialmente condicionado, para racionalizar "n" questões, dizendo estar expressando a "Palavra" [sic] de Deus pura, é uma grande tônica na história eclesiástica.

informadordeopiniao 27 de novembro de 2009 07:30  

A homoafetividade é tão pecado quanto o próprio sexo em si já fora estigmatizado, inclusive pós-casamento ( um termo que varia de significado e cuja representação social também variara tanto que chega a ser ridículo que alguns hoje absolutizem uma forma histórica específica); como a misogenia já fora virtude; como negros, índios, mulheres, já foram uma categoria inferior de humanos. Tudo "respaldado" pela Tradição e pela Bíblia...

Engraçado, que ninguém é tão enfático ao ressaltar [mais] o véu das mulheres ou que elas fiquem caladas, não possam ensinar, etc. A pressão veio "de dentro" ou "de fora"? Boa pergunta. Mas ninguém repete mecanicamente estes versículos contra as igrejas "pecadoras".

Com a questão dos homossexuais, questões culturais pressionam para racionalizar sentimentos outros com os trechos bíblicos, fechado completamente a qualquer escrutíneo hermenêutico, como se com eles estivesse em causa até a existência do próprio Deus. Chega a ser engraçado como o peso que se dá a variadas questões varia arbitrariamente...

O grande erro contínuo do mundo eclesiástico: a Bíblia é lida por olhos humanos, contudo, constróem discursos humanos em torno dela, discursos que vêm de seres condicionados social e historicamente, mas pretendendo que seu discurso seja absoluto. Muita "letra" que mata em detrimento do espírito que vivifica.
Que se diga: a forma do discurso de diversos cristãos continuamente lembra o do "Ingsoc" do livro "1984"; algo que não se deixa submeter a escrutíneo algum, que se faz de surdo a tudo o que possa advir à experiência, mas que é muito flexível no tocante a servir os fins particulares (o Partido evitava atacar as contradições que os princípios que lhe permitiam desenvolver as tecnologias acarretavam para seu discurso ideológico); e mais: muitas, se pudessem, adotariam os mesmos métodos, em nome da "causa" das "salvações das almas".

E o pior é muitos pensarem nos termos: "se simpatiza-se com 'eles', só pode ser um 'deles'. Quando isso não se aplica, gera um desconcerto que dificilmente conseguem racionalizar.

Robson 27 de novembro de 2009 18:48  

Eliel, vc pelo menos poderia falar qual é o ponto que vc discorda desse Vancey.

Pelo que eu entendi, a opinião dele é que homossexualismo não é pecado, e mesmo se fosse, isso não é motivo para falar contra ele, afinal todos somos pecadores.

Essa é a sua opinião?

O homossexual deveria ser aceito nas igrejas, tudo bem, mas a sua opinião é que ele não deve saber que sua prática é pecado, pois isso o constrangeria, e não teria amor nenhum?

Related Posts with Thumbnails

  © Blogger template 'A Click Apart' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP