sexta-feira, 14 de agosto de 2009

[8/8] Existem Evidências Históricas para a Ressurreição de Jesus?

Parte 8 de 8.

--------------------

Sessão de Perguntas e Respostas

Questão para o Dr. Ehrman: Minha questão é para o Dr. Ehrman. Muito obrigado pela sua apresentação. Um dos comentários feitos por você é que historiadores não podem pressupor a crença em Deus. Eu sou um historiador e, na verdade, eu estou fazendo minha dissertação de Ph.D. atualmente sobre historiografia, e eu concordo com você que não se pode pressupor a crença em Deus. Mas você não pode também pressupor a crença no passado, o período, ou que nós podemos até mesmo conhecê-lo parcialmente. Nós temos de ser capazes de respaldar esta crença. Assim, os historiadores não podem ter nenhuma pressuposição; eles devem ser capazes de respaldar quaisquer crenças metafísicas que eles vão jogar sobre a mesa. Assim, se você vai acreditar em Deus, como o Dr. Craig, você tem que justificar isto. Mas eu não acho que o mesmo esteja fora do escopo do estudo histórico, uma vez que historiadores têm de percorrer outras disciplinas freqüentemente. Eu gostaria de saber como você lida com isto.

Resposta do Dr. Ehrman: Bem, obrigado pela questão! Eu não acredito que História seja uma disciplina objetiva para começarmos. Soa de sua questão que você concorda com o ponto que foi levantado, mas nós precisamos conversar mais sobre seu uso da teoria pós-moderna. A minha visão é que os historiadores não devem respaldar nenhuma pressuposição que ele ou ela tenha. Mas meu ponto é que para um historiador fazer seu trabalho, deve existir certos pressupostos compartilhados em comum, mas estes pressupostos devem poder ser observados. Deus não pode ser observado. Assim nós podemos muito bem discordar sobre eventos históricos importantes. Existem pessoas em nosso mundo que, por exemplo, negam o holocausto, que dizem que o holocausto nunca aconteceu. Bem, como alguém pode demonstrar que o holocausto aconteceu? Bem, este alguém reúne relatos de testemunhas oculares, fotografias e vídeos e ainda adiciona as citações de historiadores que concordam que o material colhido é válido, e então este alguém tenta elaborar seu caso. Mas as informações recolhidas devem ser de tal forma que historiadores de todos os tipos concordam que elas sejam válidas, o mesmo em relação às testemunhas oculares. E apelar para o sobrenatural não é aceitável na comunidade histórica como sendo um critério válido para se avaliar um evento passado. A razão disto, em parte, é porque alguém pode vir com qualquer explicação teológica alternativa para o caso. Vejo que passei do meu tempo, mas eu ia lhes dar uma explicação teológica alternativa à hipótese da ressurreição, mas farei isto depois.

Resposta do Dr. Craig: A visão do Dr. Ehrman parece ser que, para fazermos história, devemos pressupor um tipo de ateísmo metodológico. E a mim isto parece não apenas falso, mas, como eu já disse, literalmente autocontraditório. Porque se é verdade que o historiador não pode fazer nenhum julgamento sobre Deus, então ele não pode fazer o julgamento de que é improvável que Deus tenha ressuscitado Jesus de dentre os mortos. E, sendo assim, ele não pode fazer nenhuma avaliação probabilística sobre a ressurreição baseado no corpo de informações que temos. Este valor probabilístico seria inescrutável. E se é inescrutável, então ele não pode fazer julgamentos sobre as fantasiosas explicações naturalistas alternativas que ele nos deu. Assim me parece que o historiador deve estar aberto, pelo menos metodológica-mente. Ele não pode ser um ateísta metodológico. E em todo caso, digo novamente, este não é um debate sobre o que os historiadores podem fazer. Eu, como filósofo, penso poder inferir esta conclusão com base na evidência histórica, e não há nada ilegítimo ou ilícito ao se fazer isto.

Questão para o Dr. Craig: Dr. Craig, nós temos [má recepção do microfone], que são: você acredita que existem alguns problemas, enganos ou erros nos documentos do Novo Testamento? E segunda, ele está sugerindo que, como você disse que é uma fonte confiável por não possui adulterações, Mateus não seria assim uma fonte confiável por ter sido adulterada. Então você precisa responder a isto.

Resposta do Dr. Craig: OK, Dr. Ehrman está tentando pregar uma pequena trapaça de debatedor aqui em mim, na qual eu simplesmente me recuso a participar. O critério desta questão é: se um relato é simples, não contém adulterações teológicas, etc. então ele possui mais probabilidade e credibilidade de ser histórico. E eu penso que isto é verdadeiro. Mas este debate não é sobre a inerrância bíblica. Então minha atitude sobre a questão de existir ou não erros ou enganos na Bíblia é irrelevante. Esta seria uma convicção teológica. Historicamente, eu estou usando os mesmos critérios que ele usa, e eu estou completamente aberto à sua demonstração de que existem erros e enganos nas narrativas. Esta não é a questão do debate nesta noite.

A inerrância da Bíblia é uma grande questão na fé pessoal do Dr. Ehrman que o levou a abandonar sua fé cristã. Mas eu não estou pressupondo nenhum tipo de doutrina teológica sobre a inerrância bíblica ou de sua inspiração – nem estão todos os estudiosos que pensam que estes quatro fatos são estabelecidos por critérios de autencidade que ele mesmo defende. Então minha atitude teológica acerca de eu pensar que existem ou não erros na Bíblia é irrelevante nesta noite. A questão é, o que você pode provar positivamente usando os critérios padrões? E meu argumento é que quando você usa estes critérios, você pode provar positivamente estes quatro fatos básicos subseqüentes à crucificação de Jesus.

Resposta do Dr. Ehrman: Então aparentemente tudo bem em se ter pressupostos teológicos sobre a ressurreição, mas não está OK ter pressupostos teológicos sobre as fontes históricas sobre as quais a crença na ressurreição está baseada. Se a crença na ressurreição é baseada em certas fontes que estão na Bíblia e se estas fontes, em sua própria natureza, devem ser inerrantes, então naturalmente você concluiria que a ressurreição aconteceu. Mas Bill se recusa a nos dizer se ele acha que a Bíblia contém erros ou não. Ele não nos dirá isso porque ele ensina em uma instituição na qual o colegiado concorda que a Bíblia é inerrante sem nenhum tipo de erro em suas palavras. Então ele não pode acreditar que existam quaisquer erros na Bíblia. Se ele acha que a Bíblia contém erros, então eu gostaria que eles nos falasse dois ou três deles. Se ele não acha que a Bíblia contém erros, eu gostaria de saber com ele pode dizer que está usando os evangelhos do Novo Testamento como fontes históricas. Ele não pode avaliar criticamente estas fontes, e uma coisa que os historiadores devem fazer é ser capazes de avaliar criticamente as fontes sobre as quais suas afirmações estão baseadas.

Questão para Dr. Ehrman: Obrigado Dr. Ehrman, Você acha que a Teologia é de algum modo uma fonte válida de conhecimento ou você acredita no naturalismo filosófico? [Má recepção do microfone]

Resposta do Dr. Ehrman: Eu acho que os métodos teológicos de conhecimento são perfeitamente aceitáveis e legítimos com métodos teológicos de conhecimento. Mas eu acho que as afirmações teológicas devem ser avaliadas em bases teológicas. Por exemplo, a idéia que estes quatro fatos que Bill continua a se referir mostram que Deus ressuscitou Jesus de dentre os mortos. Você pode surgir com uma visão teológica diferente desta proposta por Bill. Suponha, por exemplo, para explicar estes quatro fatos, que o deus Zulu enviou Jesus para 12ª dimensão, e nesta 12ª dimensão ele era permitido retornar periodicamente à Terra para um breve descanso de seus sofrimentos eternos. Mas ele não pode falar aos seus discípulos sobre isto porque Zulu o disse que, se o fizesse, ele iria acrescentar mais dor à suas agonias eternas. Então, esta é outra explicação teológica para o que aconteceu. Ela explicaria a tumba vazia e explicaria as aparências de Jesus. Ela não é tão provável quanto deus ter ressuscitado Jesus dos mortos e tê-lo feito sentar ao seu lado direito; que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó interferiu na história e exaltou seu nome ao ressuscitar seu Messias? Bem, você pode pensar que não, que na verdade a primeira explicação do deus Zulu é louca. Bem, sim, OK, é louca; mas é teologicamente louca. Não é historicamente louca. Ela não é menos provável como explicação para o que aconteceu do que a explicação de que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó ressuscitou Jesus dos mortos porque ambas as explicações são teológicas; elas não são explicações históricas. Então, na esfera da Teologia, eu certamente penso que a Teologia é um método legítimo de pensamento. Mas os critérios para avaliação teológica são teológicos; eles não são históricos.

Resposta do Dr. Craig: Hipóteses teológicas como esta certamente podem ser avaliadas pelos critérios que eu usei para avaliar a ressurreição de Jesus. Em particular, uma hipótese como a que foi sugerida, eu penso, possui um ad hoc gigantesco e altamente implausível, considerando que o contexto religioso-histórico no qual a ressurreição de Jesus supostamente ocorreu, eu acho extremamente plausível pensar que na exaltação do Deus de Israel à afirmação radical de Jesus de Nazaré como sendo o Filho de Deus e a revelação de Deus à humanidade. Quando você observa o contexto, eu acho que ele provê a chave ou uma pista para a interpretação adequada do milagre. Então eu acho que devemos avaliar as reivindicações teológicas filosoficamente e também de acordo com os mesmos critérios que eu propus que usássemos ao avaliar as explicações para os quatro fatos.

Questão para o Dr. Craig: Estou muito interessado no cálculo de probabilidade que você mostrou. Para dizer que foi provável que Jesus ressuscitou você precisa colocar números naquela equação e chegar a uma resposta maior do que 0,5. Eu estou interessado em qual é o resultado deste cálculo e qual é a margem de erro dele. E como estes números foram determinados?

Reposta do Dr. Craig: Obrigado pela questão! Richard Swinburne, que é um estudioso na Universidade de Oxford, escreveu um livro sobre a encarnação e a ressurreição no qual ele faz uso do cálculo de probabilidade que eu demonstrei. Sua estimativa é de que a probabilidade da ressurreição de Jesus é de 0,97, e você pode ler neste livro a razão deste resultado. Eu particularmente não uso o cálculo da probabilidade para argumentar sobre a ressurreição de Jesus. A razão de eu o trazer aqui foi para prover uma resposta para os argumentos do Dr. Ehrman ofereceria com base no argumento de Hume contra a verificação de milagres, que eu penso ser completamente errado porque ele tenta dizer que a ressurreição é improvável simplesmente por causa da improbabilidade da ressurreição sobre o corpo de informações que temos à parte das evidências para a ressurreição de Jesus, apenas. Na verdade, eu penso que esta probabilidade é inescrutável, uma vez que estamos lhe dando com um agente livre. Eu não vejo como nós podemos inferir ou assegurar um número específico para as variáveis do cálculo. Então a maneira na qual eu argumento sobre a ressurreição não é usando o cálculo de probabilidades. E sim usando aquilo que chamamos de “inferência à melhor explicação”, que é a maneira pela qual os historiadores normalmente trabalham. Isto quer dizer, você avalia hipóteses históricas concorrentes sob os mesmos critérios como: poder explanatório, escopo explicativo, plausibilidade, menor quantidade de ad hoc, concordância com as crenças já aceitas, etc. E eu estou preparado para argumentar que quando você coloca a hipótese da ressurreição ao lado das alternativas naturalistas, você verá que a hipótese da ressurreição vence com sobras suas teorias rivais naturalistas – a não ser que você pressuponha algum tipo de ateísmo metodológico para travar a hipótese da ressurreição. Eu acho que é exatamente isto o que o Dr. Ehrman faz. Da mesma que eu acredito em Deus e, portanto, acho que a existência de Deus é bem plausível, como alguém que não acredita, ele acha que a possibilidade da ressurreição é absurdamente improvável. Mas ele não nos deu nenhuma boa razão para pensarmos que a existência de Deus é improvável ou que é improvável que Deus ressuscitou Jesus de dentre os mortos. Na verdade, ele não pode fornecer uma avaliação de probabilidade, uma vez que ele mesmo comentou sobre os limites de um historiador.

Resposta do Dr. Ehman: Desculpe. Eu não acredito que estamos tendo uma conversa séria sobre a probabilidade estatística da ressurreição ou a probabilidade estatística da existência de Deus. Eu acho que em qualquer universidade do país, se nós estivéssemos perante um grupo de acadêmicos, nós seríamos expulsos do palco...

Dr. Craig: Isto não é verdade.

Dr. Ehrman: Bem, talvez não seja verdade na escola onde você ensina, mas na instituição de pesquisa onde eu ensino...

Dr. Craig: Bem, o que você me diz sobre a Universidade de Oxford, onde o Professor Swinburne ensina?

Dr. Ehrman: Bem, Swinburne mostrou que a probabilidade é de 0,97. E quantas pessoas se convenceram disto exatamente? Estes argumentos são aqueles que só convencem quem quer ser convencido. Eles não são argumentos sérios para ser considerados pelas pessoas, então eles podem dizer, “Ah sim, agora eu vou acreditar porque existe uma probabilidade de 0,97”. Isto não faz sentido; você não pode demonstrar a existência do sobrenatural por cálculos estatísticos.

Questão para o Dr. Ehrman: O que eu quero perguntar é, os relatos de ocorrências de milagres através do tempo tornam a probabilidade maior que os historiadores pensam?

Reposta do Dr. Ehrman: Boa pergunta. A questão é: o relato da ocorrência de milagres através do tempo aumenta a probabilidade? Eu diria que a resposta é provavelmente “não” porque em todas as instâncias você precisa avaliar se o evento é provável ou não e um milagre nunca seria um evento provável. Então, se alguém pensa que sim, que um milagre é um evento provável, o que eu gostaria que Bill fizesse é nos dizer por que ele não acha que Maomé realizou milagres uma vez que certamente temos relatos disto. Por que ele não acha que Apolônio de Tiana realizou milagres? Ele citou Larry Yarbrough, que, na verdade, provavelmente nunca leu sobre a vida de Apolônio. Eu sei disso porque eu tive uma conversa com Larry Yarbrough sobre isto. Ele nunca leu os textos. Eu não sei se Bill leu os textos. Eles são muito interessantes; são textos gregos e estão amplamente disponíveis. Eles nos dizem que Apolônio de Tiana realizou muitos milagres semelhantes aos que Jesus realizou; ele podia expulsar demônios, curar doenças, ressuscitar os mortos, e no final de sua vida ele subiu aos céus. E Apolônio de Tiana foi apenas um dentre uma centena de pessoas do mundo antigo sobre as quais estes fatos foram atribuídos. Então, se permitirmos a possibilidade de Jesus, o que faremos quanto à possibilidade de Apolônio? Ou Honi, o desenhista de círculos, ou Hanina ben Dosa ou o imperador Vespasiano? Você pode acrescentar quantos nomes você quiser. Agora, a razão de nós não sabermos muito sobre estas pessoas é porque, claro, o único milagreiro Filho de Deus que conhecemos é Jesus. Mas, na verdade, no mundo antigo existiam centenas de pessoas como Jesus, com centenas de histórias contadas sobre eles. Nós não os contamos porque eles não estão em nossa tradição. Esta é a razão do porque minha explicação alternativa de Zulu soou implausível a Bill: em sua tradição é o Deus de Jesus, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó que deve estar envolvido no mundo. E, claro, pessoas de outras religiões dizem que são outros deuses que estão envolvidos. Então, está não é apenas uma questão sobre se Deus está envolvido. Qual Deus está envolvido? E como eu frisei anteriormente, será apenas uma coincidência acontecer de Deus ser o Deus que Bill pôde mostrar historicamente sua existência e também o Deus para o qual ele se converteu quando tinha 16 anos de idade.

Resposta do Dr. Craig: A razão de nós não acreditarmos em muitos outros milagres não é porque não estamos abertos a eles. Pelo contrário, estou completamente aberto à idéia de que Deus realizou milagres aparte de Jesus. Mas, por exemplo, em relação a Maomé, com todo respeito, não há nenhuma evidência de que eles aconteceram. Não há nenhuma afirmação do Corão de que Maomé realizou milagres. A primeira biografia que temos de Maomé é datada de no mínimo 150 anos após sua morte, e eu não estou certo se até mesmo lá existem afirmações sobre milagres. Em relação a Apolônio de Tiana, as afirmações de milagres são mitos e lendas que não possuem qualquer valor histórico. Trata-se de invenções pós-cristãs, onde Apolônio é uma figura que deliberadamente foi construída para competir com os cristãos primitivos. Então, a razão de alguém não acreditar em milagres nestes casos é porque não existe nenhuma boa evidência que os sustentem. Mas, em contraste, a maioria dos estudiosos do Novo Testamento, como Bart Ehrman sabe, acredita que Jesus de Nazaré executou um ministério de obras milagrosas e exorcismos. Você pode acreditar que os relatos de milagres contém acréscimos, mas não há dúvida hoje de que Jesus de Nazaré foi aquilo que ele pensou que era, um realizador de milagres.

Questão para o Dr. Craig: Dr. Craig, um dos pontos levantados por você mais cedo acerca das probabilidades foi que devemos comparar as probabilidades da ressurreição com as probabilidades das outras explicações. E o Prof. Ehrman tem esta história de que ele não acredita e insinuou que não acha que elas aconteceram. Assim eu gostaria apenas de ler alguns versículos do evangelho de Lucas e lhe dar a chance de comentar sobre estes versículos e dizer, baseado no que o Prof. Ehrman disse, se é a sua visão ou a dele que faz mais sentido à luz destes versículos. Então, a passagem está em Lucas 24 e é quando Jesus apareceu aos dois homens no caminho de Emaús e eles não o reconheceram. Ele está conversando com eles e eles não o reconheceram. E eles falaram sobre todas as coisas que aconteceram, que eles estavam confusos e que não sabiam o que estava acontecendo. Então Jesus disse a eles, “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?” E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes a respeito dele em todas as escrituras. Ao se aproximarem do povoado para o qual estavam indo, Jesus fez como quem ia mais adiante. Mas eles insistiram muito com ele: “Fique conosco, pois a noite já vem; o dia está quase findando”. Então ele entrou para ficar com eles. Quando estava à mesa com eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. Então os olhos deles foram abertos e eles o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles. Perguntaram-se um ao outro: “Não estava queimando o nosso coração, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?”.

Interrupção do Dr. Craig: E qual é sua questão sobre esta passagem? Não estou certo qual é sua questão.

Continuação da questão ao Dr. Craig: A questão é: você sabe que o Prof. Ehrman argumentou que estes documentos antigos não são unicamente para o propósito de estabelecer evidências históricas para os eventos, mas que eles podem ser usados mais retoricamente. Assim, a questão é, poderiam estes versículos ser uma pintura da origem da fé cristã, uma vez que, como Dr. Ehrman argumentou, os primeiros seguidores de Jesus abriram as escrituras e encontraram referências para o servo sofredor que é exaltado por Deus? Porque se você observar estes versículos, eles não dizem que seus corações queimaram porque eles tocaram sua carne, ouviram sua voz e que isto significava que Deus havia realizado um milagre, que então eles tinham a evidência e que falariam dela para todos. Eles dizem que seus corações queimaram quando eles abriram as escrituras.

Resposta do Dr. Craig: Eu acho que esta é uma maneira plausível de ler esta passagem, esta que você sugeriu. Mas, claro, isto não está no coração do meu caso esta noite. Eu não estou construindo o caso que eu apresentei hoje com base em passagens com esta. Eu construí meu caso sobre quatro fatos fundamentais que são, penso, atestados por testemunhos múltiplos e independentes, por critérios de embaraçamento, nos quais a maioria dos estudiosos no assunto concordaria. Sendo assim, eu não estou supondo nada do que eu disse esta noite na historicidade da aparição de Jesus no caminho de Emaús ou na interpretação que você proveu a esta passagem. Isto simplesmente não faz parte do meu caso.

Agora, no geral, entretanto, permita-me dizer, com respeito à sua idéia dos discípulos indo à escritura e encontrando Jesus lá, eu acho que todo o caso que eu expus sobre os quatro fatos é que invalida esta idéia. Nós temos boas fontes independentes que atestam que Jesus foi sepultado por um membro do Sinédrio judaico em uma tumba, que esta tumba foi encontrada vazia no Domingo pela manhã após a crucificação, que vários indivíduos e grupos de pessoas experimentaram aparições de Jesus, e que eles começaram a acreditar que ele havia ressuscitado de dentre os mortos. E estas passagens que estão no Antigo Testamento são tão obscuras e difíceis de encontrar que é altamente improvável que elas sejam a fonte para a crença na ressurreição, como o Dr. Ehrman imagina. Em vez disso, elas só podem ter sido descobertas a posteriori. Uma vez que você acredita na ressurreição de Jesus, então você vai à escritura procurar textos que comprovam e validam-na. Mas a hipótese contrária é a velha visão de Bultmann de que de alguma forma ao ler as escrituras, os seguidores de Jesus começaram a acreditar na ressurreição. Mas o problema com esta hipótese é que as passagens no Antigo Testamento são muito obscuras e ambíguas para que eles criassem a idéia da ressurreição com base nelas. Judeus seguidores de um Messias como Jesus, confrontados com sua crucificação, ou teriam voltado para suas casas ou teriam conseguido um novo Messias, mas eles não começariam a acreditar que ele ressuscitou de dentre os mortos.

Resposta do Dr. Ehrman: Bill continua falando sobre nossas boas fontes primitivas e continua negligenciando que estas boas fontes foram escritas 40, 50, 60 anos após os eventos e que isto implica que os autores destes relatos conseguiram suas informações da tradição oral que estava em circulação ano após ano após ano, quando histórias foram inventadas e histórias foram alteradas. E, assim, eu não acho que nós devamos sustentar nossas conclusões nestes quatro fatos. A idéia de que estas passagens eram muito obscuras a ponto de que ninguém pudesse se basear nelas – estas passagens estão em Isaías e nos Salmos. Não são passagens escondidas em algum lugar da carta de Malaquias. Estas passagens eram textos centrais na vida e na religião judaica, e os discípulos de Jesus demonstraram que eles foram às escrituras para entender o que os eventos significavam. Isto também, a propósito, é encontrado nas boas fontes primitivas, que os discípulos de Jesus fizeram exatamente isto. Então eu acho que esta é uma explicação completamente plausível para como os discípulos vieram a crer na ressurreição.

Questão para o Dr. Ehrman: Estou feliz pela oportunidade. Eu acho que perdemos boas oportunidades para aplaudir! Dr. Ehrman, os historiadores podem verificar um milagre se tivéssemos testemunhas oculares de que um milagre aconteceu? Levando em conta seu método histórico, algum milagre já aconteceu e, se sim, quais? Se não, isto significa que você sempre se recusará a acreditar em milagres?

Resposta do Dr. Ehrman: Boa questão, obrigado! Vejamos, “mesmo se você tiver testemunhas oculares”. Suponha que nos anos 1850, nós temos um relato de um pastor de uma igreja do Kansas que andou sobre um lago durante as festas de Julho e que tinham 12 pessoas que o viram fazer isto. O historiador terá de avaliar este relato e perguntar, isto provavelmente aconteceu ou não? Agora, estas testemunhas oculares disseram que isto aconteceu. Mas existem outras possibilidades que qualquer um pode imaginar. Poderia haver pedras no lago, por exemplo. Ele poderia estar distante o suficiente para que eles não o vissem. Existem outras possibilidades que você poderia pensar. Se você está tentando estabelecer o que aconteceu pela probabilidade, qual é a probabilidade de um ser humano poder andar sobre um lago a não ser que ele esteja congelado? A probabilidade é virtualmente zero porque, na verdade, o ser humano não pode fazer isso. E se você acha que os seres humanos podem fazer isto, então me apresente uma instância onde eu possa conferir. Nenhum de nós pode andar sobre um lago. Ninguém em nosso planeta pode. Bilhões de pessoas que já viveram não puderam. Então, sendo assim, o historiador vai concluir que provavelmente Joe Smith, o pastor desta igreja, provavelmente andou sobre o lago? Eu acho que não. Historiadores não vão concluir que ele andou sobre o lago porque um milagre simplesmente é uma violação da maneira pela qual a natureza naturalmente trabalha. Assim, você nunca poderá verificar um milagre com base em testemunhos oculares. Segundo, além disso, nós aqui não estamos falando sobre alguém que viveu nos anos 1850. Estamos falando sobre alguém que viveu há 2000 anos, e nós absolutamente não temos relatos de testemunhas oculares. Os relatos que temos são de pessoas que acreditavam nele. Não se trata de relatos desinteressados. São narrativas contraditórias e narrativas que foram escritas 30, 50, 60 anos depois dos eventos.

Resposta do Dr. Craig: Eu concordo que a ressurreição de Jesus é naturalmente impossível. Mas está não é a questão. A questão é, é improvável que Deus tenha ressuscitado Jesus de dentre os mortos? E o Dr. Ehrman não pode fazer este julgamento porque ele afirma que os historiadores não podem fazer declarações sobre Deus. Sendo assim, ele está preso em uma autocontradição esta noite. Por um lado, ele diz que o historiador não pode dizer nada sobre Deus, por outro, ele diz que é improvável que Deus tenha ressuscitado Jesus de dentre os mortos; e isto é simplesmente uma autocontradição.

Um dos embaraços do argumento de Hume era que ele sustentava que uma pessoa que vivesse nos trópicos jamais poderia aceitar testemunhos de viajantes de que a água poderia existir na forma sólida, como gelo. Assim este homem, baseado no argumento de Hume, seria conduzido a negar fatos perfeitamente naturais dos quais nós temos evidências em abundância apenas porque estes fatos contradizem o que ele conhecia. E exatamente da mesma forma, este argumento que ele nos deu seria um impedimento à ciência. Se você diz que nós jamais teremos testemunhos suficientes – evidência suficiente – para acreditar em alguma coisa que contradiz o caminho normal da natureza trabalhar.

Questão para o Dr. Craig: Obrigado! Nós estamos falando aqui sobre evidências independentes e imparciais. Então eu estava pensando se vocês dois podem apresentar evidências que sustentam seus pontos de vista fora da literatura canônica cristã.

Resposta do Dr. Craig: O fato é que nós não estamos trabalhando com fontes desinteressadas. Mas, veja, esta é uma característica de toda história antiga. As pessoas do mundo antigo não escreviam relatos desinteressados; todos tinham um ponto de vista. Assim, os historiadores devem levar isto em consideração ao investigar a história. O mesmo fazem os estudiosos a respeito dos evangelhos. Eles perguntam, qual é a credibilidade destes eventos dado que as narrativas vêm de cristãos? E uma maneira de rodear este problema é através de múltiplos e independentes depoimentos, porque se uma tradição ou um evento é independente e multiplamente atestado por fontes antigas, então é muito improvável que esta tradição tenha sido inventada porque, do contrário, você não a teria atestada por fontes independentes. E, assim, os estudiosos costumam aceitar um evento que é atestado por, digamos, duas ou três fontes independentes. Mas no caso da tumba vazia e do sepultamento, nós temos cinco ou seis fontes independentes. Então, aparte de uma predisposição contra os milagres, não há nenhuma boa razão para negar que o coração histórico destas narrativas, especialmente quando se observa que nós não estamos falando sobre fontes 30, 40, 60 anos posteriores aos eventos. Estamos falando de tradições nas quais estes relatos são baseados, tradições que se encontram em algum lugar entre cinco a sete anos após a crucificação. Comparadas com as fontes da histórica greco-romana, os evangelhos ganham com sobra, pois os relatos com os quais os historiadores greco-romanos têm de trabalhar geralmente são datados de centenas de anos após os eventos, geralmente envolvendo poucas testemunhas oculares e geralmente narradas por alguém completamente tendencioso aos fatos. E ainda assim os historiadores do período greco-romano reconstroem o curso da história do mundo antigo. E como eu disse, N. T. Wright disse que a tumba vazia e as aparições de Jesus são tão certas como a morte de Augusto César em 14 d.C. e a queda de Jerusalém em 70 d.C.. E mesmo que você pense que isto é um exagero, eu acho que estes fatos são mais bem atestados do que vários outros eventos na história antiga que nós comumente aceitamos como fatos históricos.

Resposta do Dr. Ehrman: Então, você está pedindo fontes não canônicas. Eu acho que a única razão de Bill não ter te respondido é porque as fontes não-canônicas não sustentam a posição dele. As fontes não-canônicas pagãs, na verdade, nunca se referiram à ressurreição de Jesus até alguns séculos depois da crucificação. Na verdade, Jesus não aparece em nenhuma fonte não-canônica pagã até 80 anos depois de sua morte. Então, ele claramente não teve um grande impacto no mundo pagão. O historiador romano Josefo menciona Jesus, mas não acreditava em sua ressurreição. Existem fontes não-canônicas que falam sobre a ressurreição, mas infelizmente todas elas, embora sejam evangelhos não-canônicos, narram o evento de um jeito que discorda da reconstrução de Bill. Eles não acreditam que Jesus ressuscitou fisicamente de dentre os mortos. Para prova disto, apenas leia o relato do Segundo Tratado do Grande Seth ou o Apocalipse de Pedro. Nós temos um relato no qual Jesus sai da tumba, o evangelho segundo Pedro; é um relato apocalíptico. Jesus sai de sua tumba tão alto como um arranha-céu; segundo este relato, existe uma cruz que fala dos céus, certamente um relato lendário de pouco uso aos historiadores que querem saber o que aconteceu.

Moderador: Agora, podemos aplaudir!

Fechamento: Chegou a hora de terminarmos o debate desta noite, e eu gostaria de novamente agradecer aos patrocinadores – o Center for Religion, Ethics, and Culture e o Campus Christian Fellowship – a nosso moderador, William Shea. Vocês foram uma platéia brilhante com ótimas questões, e nós agradecemos por estarem aqui. Temos uma mesa lá atrás com alguns livros de ambos os debatedores disponíveis junto com outros livros. Finalmente, eu gostaria de agradecer novamente aos estudiosos William Lane Craig e Bart D. Ehrman, por compartilharem seu tempo e seu talento conosco.

-------------

Traduzido por Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

Creative Commons License
DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.



0 comentários:

Related Posts with Thumbnails

  © Blogger template 'A Click Apart' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP