segunda-feira, 29 de junho de 2009

Carta ao Ministério Peniel Sobre a Preocupação com os Universitários (Carta Estendida a Toda Igreja Cristã Brasileira)

No último Domingo (28/07/09), no núcleo da Igreja Batista Peniel no bairro Eldorado, durante a pregação sobre Apocalipse 3:8-13, a Pra. Jaqueline confessou ser uma preocupação atual do Ministério Peniel o ambiente com o qual os jovens cristãos se deparam nas universidades. Achei muito interessante a pastora ter citado esta preocupação e mesmo sabendo que o corpo eclesiástico da igreja está com toda atenção focada no Congresso do Ministério que acontecerá em alguns dias, saí do culto decidido a escrever um texto (em forma de carta) sobre esta questão.

Meu nome é Eliel Vieira, tenho 23 anos, e sou universitário desde os 21. A verdade nua e crua é que nunca tive preparo algum (da parte das igrejas onde freqüentei) em relação ao “entrar na universidade”. Apesar de ser verdade que eu ainda não freqüentava o Ministério Peniel quando fui ingressado ao ensino superior, acredito que a mesma regra de descuido para com seus pupilos esteja também em Peniel, uma vez que minha namorada iniciou seu curso universitário no início do presente semestre e não houve, por parte da Igreja, nenhuma manifestação visível que demonstrasse que o Ministério se preocupa de fato com os universitários.

Claro, existem inúmeras tarefas e preocupações a se cuidar em um ministério, ainda mais em um ministério como Peniel que mantém obras missionárias por todo o globo. Não pretendo tacar pedras no Ministério Peniel através desta carta. Pelo contrário, pretendo aqui elogiar a preocupação que vocês têm dito sobre os universitários e encorajá-los a trazer à existência esta preocupação na forma de estudos práticos que preparem efetivamente seus jovens pupilos ao ambiente universitário.

Sempre foi de minha preocupação, como estudante e como escritor, o triste fato da liderança evangélica nacional apresentar total despreocupação com o crescimento intelectual e racional de seus membros. Em meu texto A Importância da Reflexão na Igreja, escrito em Outubro de 2007, abordo exatamente esta preocupação quanto à apatia em relação ao “pensar” na Igreja. Na segunda parte deste mesmo texto eu advirto aos pais e aos pastores que confrontem os jovens ainda quando crianças com as dúvidas para que a fé delas seja fortalecida e que eles adentrem nas universidades cientes e conscientes daquilo que acreditam e pregam.

É pura perda de tempo ensinar os jovens da Igreja a mentira de que não existem objeções, a priori, contundentes à fé. Cedo ou tarde as objeções aparecem e, se o jovem não for preparado na Igreja de forma apologética (ou seja, aprender desde a adolescência a como defender a fé), a probabilidade de este jovem abandonar sua fé na sua mocidade é muito grande. E não estou sendo pessimista, apenas realista. Posso contar nos dedos quantos dos meus amigos da época de adolescência na Igreja ainda estão firmes na fé.

Acredito ser plenamente verdadeiro que a melhor maneira de fortalecer a fé de uma pessoa é através do ensino (Oséias 4:6). Com muito mais certeza também acredito que a melhor forma de se ensinar é através da dúvida, ou seja, na prática de instigar a mente daquele que está aprendendo ao raciocínio.

É do conhecimento de todos que realizamos um bem muito melhor a um faminto ensinando-o a pescar do que lhe dando um peixe toda vez que ele disser que está com fome. Da mesma forma, a Igreja Cristã (juntamente com os pais) prestaria um serviço muito maior ao Evangelho se ensinasse aos seus jovens a como pensar ao invés de ensiná-los o que pensar.

Um típico jovem cristão entra na universidade sem saber porque a Bíblia é de fato a Palavra Inspirada de Deus; sem saber porque Deus é um e ao mesmo três; sem saber explicar porque um Deus bom permite o sofrimento no mundo; etc. Se um professor de História argumentar que a história de Jesus Cristo é apenas um mito criado por judeus e rebeldes, pergunto, o que um jovem cristão aprendeu na Igreja que o capacite a responder de forma eficaz ao professor provocador? Sua única saída é se recolher, abaixar a cabeça, e servir de não-exemplo aos demais amigos de classe. Sei muito bem que a liderança evangélica brasileira, em geral, aconselharia um jovem como esse a testemunhar sua fé em detrimento do que o professor tenha falado. Porém, este tipo de prática não ajudaria em nada ao Evangelho (diria até que ela prejudicaria mais a fé do que ajudaria).

O apóstolo Paulo, por exemplo, era uma pessoa que sabia responder a todas as pessoas que lhe questionavam: fossem os judeus, fossem os gnósticos, fossem os romanos, fossem os helênicos. E não apenas Paulo, acredito que todos os cristãos primitivos tinham plena convicção de sua fé a ponto de conseguirem responder a todos os que os confrontavam. Em uma de suas cartas, o apóstolo Pedro disse que todos nós devemos estar preparados a dar razão da esperança que há em nós (I Pedro 3:15). Interessante nesta passagem é o fato de Pedro ter usado o termo grego Logos, ou seja, as pessoas vão pedir de nós explicações racionais, concatenadas e lógicas, e é este tipo de resposta que nós temos estar preparados para apresentar.

A verdade, porém, é que os jovens evangélicos saem para a universidade sem nenhum preparo para confrontar os padrões seculares lá presentes. Que jovem sabe o que é relativismo moral? Ou, qual deles sabe o que o pós-modernismo prega?

O quadro atual é realmente assustador. Charles Malik certa vez desabafou em um congresso em Wheaton/IL, EUA:

Por uma eficácia no testemunho de Jesus Cristo, bem como em favor de sua causa, os evangélicos não podem se dar ao luxo de continuar vivendo na periferia da existência intelectual responsável.

Para não dizerem que eu critiquei a Igreja Evangélica sem apresentar nenhuma proposta, sugiro algumas ações que, acredito, seriam muito válidas na tarefa de preparar os jovens quanto ao que enfrentaram nas universidades:

- Des-demonização de disciplinas “seculares” como Filosofia, Antropologia, Sociologia, Psicologia, Psicanálise, Biologia Evolutiva, etc;
- Tornar os jovens cientes e conscientes daquilo que acreditam e seguem;
- Ensiná-los a pensar;
- Torná-los conscientes também acerca das opiniões conflitantes e concorrentes existentes nas demais denominações, religiões e também sobre os pensamentos seculares existentes;
- Conscientizar os jovens quanto à importância do conhecimento social (economia, política e cosmovisão) do meio em que vivemos;
- Incentivá-los à leitura de jornais e revistas;
- Elaborar cartilhas e estudos práticos sobre pontos levantados pelo mundo contra a fé cristã;
- Ensinar aos jovens algumas estratégias de argumentação (introdução à retórica) para que os mesmos tenham capacidade de responder aos professores e amigos de faculdade que os confrontarem nas escolas.

Enfim, como disse, não foi minha intenção jogar pedras no Ministério Peniel, antes, minha intenção foi de fomentar ainda mais no corpo eclesiástico o desejo de preparar com excelência os jovens da congregação ao ingresso na universidade. Sugiro que esta preocupação esteja sempre na mente daqueles que lideram este ministério e, mais importante, que a preocupação deixe de ser platônica e tome forma prática de proveito aos pupilos.

Em Cristo,

Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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