quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Resenha: “Criação e Evolução: 3 pontos de vista” – J. P. Moreland & John Reynolds

"Um livro diferente". É assim que resumiria em uma única frase o livro Criação e Evolução: 3 pontos de vista editado por J. P. Moreland e John Reyolds e lançado do Brasil pela Editora Vida.

A diferença gritante deste livro em relação aos demais encontra-se em sua estrutura. Ele não foi escrito apenas no intuito de defender um único ponto de vista em detrimento dos outros abordados (como geralmente acontece). Neste livro encontramos as três posições referentes à controvérsia entre criação e evolução defendidas, replicadas e treplicadas.

Paul Nelson e John Reynolds apresentam ao leitor a teoria criacionista clássica (a Terra e os seres vivos foram criados a menos de 10 mil anos atrás diretamente pela mão de Deus); o “criacionismo progressivo” (mais conhecido como Design Inteligente) foi defendido por Robert Newman; e a teoria da “Evolução Teísta” (ou, como o autor a batizou, a “criação de potencial pleno”) foi proposta por Howard Van Till.

Todas as três explanações foram replicadas por Walter Bradley, John Davis, J. P. Moreland e Vern Poythress. Após as réplicas cada teoria teve uma oportunidade de tréplica, em forma de conclusão, por aqueles que a apresentaram inicialmente.

O formato do livro lembra um debate, e aí está seu diferencial. A leitura (que no começo era meio tediante) começa a ficar interessante e gostosa a partir do momento que lemos as réplicas e que vemos o quanto os apologistas que nós “admiramos” discordam entre si. Em alguns casos as discordâncias são “melosas” demais, em outros, no entanto, elas chegam a ser duras e fortes. Howard Van Till (defensor do teísmo evolucionista) chegou a ser acusado de ser deísta, e até panteísta – o que no evangeliquês fundamentalista é algo como “Seu herege! Converta-se ou vais queimar no quinto dos infernos!”.

Por esta ser uma resenha crítica (e não um resumo), não vou aqui detalhar as argumentações de cada apologista. Algumas interessantes considerações, porém, podem ser feitas: Paul Nelson e John Reynolds não tiveram vergonha alguma dizer que a teoria que defendem (criação recente da Terra) não possui sustentação científica alguma e que é defendia apenas por causa de sua interpretação literal dos primeiros capítulos de Gênesis (os autores afirmam que têm esperança de que algum dia tais evidências científicas surgirão); J. P. Moreland (que muitos acreditam ser adepto do Design Inteligente) fica flertando com a posição da criação recente (fico imaginando o quanto ele deve torcer e orar para que surja alguma evidência de que a Terra possui apenas alguns mil anos de idade); Robert Newman (defensor do Design Inteligente) foi magnífico em sua refutação à teoria da idade recente da Terra, mas foi fraco em explicar porque o mesmo argumento usado por ele não se aplicam a uma refutação da teoria do Design Inteligente.

Em minha opinião Howard Van Til foi o melhor dos argumentadores. Não apenas pela sua explanação utilizar menos ad hoc que as demais, mas também pela sua forma de escrever: organizada, direta e concatenada. O maior mérito do autor foi mostrar porque não há razões racionais para acreditar que a controvérsia “criação e evolução” deve ser tratada da forma “um ou outro” (por que não “um e outro”?).

Daqueles que replicaram as exposições, o que mais me agradou foi Vern Poythress. Seus questionamentos foram bastante perspicazes nas três réplicas feitas por ele. O livro termina com dois pós-escritos: as conclusões de Richard H. Bube (que parece defender o teísmo evolucionista) e Philip E. Johnson (advogado e figura carimbada do movimento Design Inteligente).

Como eu disse Criação e Evolução: 3 pontos de vista é um livro diferente. A maneira como ele foi escrito sem dúvida estimula o aprendizado. Quanto à controvérsia “criação e evolução” em si, minha opinião é que os cristãos já tomaram marretadas suficientes para terem aprendido que a postura “Deus nas Lacunas” traz apenas prejuízos à credibilidade intelectual da fé e que, portanto, deve ser o máximo possível evitada.


Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

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3 comentários:

Música, Ciência e Teologia disse...

Olá, tive o prazer de prefaciar esse livro e concordo com você. A falta de debate é o terreno da infertilidade e esse livro funciona como adubo.

Obrigado pela resenha, Marcos.

5 de fevereiro de 2010 04:47
Janos disse...

Olá Eliel,

Estou surpreso com a qualidade do seu blog, meus parabéns. Eu gostei muito da resenha, e do blog em si. Eu pessoalmente defendo que a evolução é uma teoria biológica, e como tal serve para explicar certos fenômenos biológicos, e isso não afeta aquilo que está além do científico, ou mesmo outras áreas da ciência. Os fenômenos numênicos, por exemplos, não podem ser reduzidos a outros tipos de fenômenos.

Creio no Deus cristão, e não encontro problemas para falar de evolução. Eu tenderia para o evolucionismo teísta.

Abraços

6 de fevereiro de 2010 06:00
Eduardo Vaz disse...

Eu nao li esse livro de uma forma correta e por isso nao cheguei a conclusoes tao precisas..Mas confesso que esse modelo de "livro/debate" é muito interessante....

7 de fevereiro de 2010 18:06