Um Cristão Pode se Tatuar?
Antes de começar a discorrer sobre a prática de se tatuar, precisamos fazer considerações sobre "cultura", uma vez que a “tatuagem” está inserida em um contexto histórico/cultural. É impossível datar um início para o ato de se tatuar, os babilônicos na época de Abraão já possuíam tais práticas e Darwin afirmou que “do Pólo Norte à Nova Zelândia não havia aborígine que não se tatuasse” em seu livro A Descendência do Homem.
Várias são as teorias e as tentativas de explicar como surgiu a tatuagem, uma delas é que, nos tempos primórdios, marcas involuntárias adquiridas em guerras e lutas corporais geravam orgulho e reconhecimento ao homem que as possuísse, pois eram expressões naturais de força e vitória. O homem da época, partindo da idéia de que marcas na pele seriam sinônimos de diferenciação e status, passou a marcar-se voluntariamente, fazendo ele mesmo seus ferimentos pelo corpo, que com o passar do tempo deu espaço para a criação de desenhos utilizando-se de tintas vegetais e espinhos para introduzi-las à pele.
Todos os antropólogos são unânimes em afirmar que a tatuagem acompanha o homem desde seu surgimento. A Múmia mais antiga do mundo foi encontrada em 1991 na Itália e data de 5.300 anos antes de Cristo. Congelada em um bloco de gelo, a múmia tinha tatuagens acompanhando toda a espinha dorsal, além de uma cruz numa das coxas e desenhos tribais por toda a perna. A segunda e a terceira múmias mais velhas seguem o mesmo exemplo, tatuagens por todo o corpo.
A tatuagem não é algo apenas ATUAL, é uma prática que existe há milênios, algo criado pelo homem dentro da cultura onde ele estava inserido. Exemplos:
· Os Pictus (povo que viveu no norte europeu) tatuavam-se acreditando que as tatuagens lhes davam poder e força e que os desenhos ficavam impressos na alma para que eles pudessem ser identificados após a morte por seus antepassados;
· Os nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia, tatuavam-se em rituais complexos, sempre ligados à religião;
· Os povos Celtas e Vikings, os dinamarqueses, os normandos e os saxões tatuavam-se como forma de coragem, patriotismo para as guerras e batalhas;
· Para os Samoanos, o ato de pintar o corpo marcava a passagem da infância para a maioridade;
· No Japão feudal as tatuagens eram usadas como forma de punição, tornando-se sinônimo de criminalidade;
· Os chineses acreditavam que as tatuagens desviavam o mal de quem as possuía e marcavam a pele com labirintos sinuosos para confundir os olhos do inimigo;
O ato de se tatuar foi comunicado de pais a filhos, até os tempos atuais. Em cada cultura, a tatuagem toma um significado diferente. Em algumas era sinal de coragem, em outras, reverência aos mortos, adoração a deuses, misticismo, distinção entre criminosos e corretos, etc. Em nosso contexto (ocidente, século XIX) a tatuagem nada mais é do que uma vaidade, estética, feita principalmente por jovens. Era normal em alguns povos citados acima ver anciãos se tatuarem, o que não é normal hoje em dia. Portanto, um bom entendimento sobre o que é a “tatuagem HOJE” é essencial se quisermos fazer considerações sobre ela, principalmente no âmbito espiritual.
A tatuagem hoje em dia é feita pelos seguintes motivos basicamente: vaidade e estética (a grande maioria); manifestação de idéias/opiniões/conceitos (movimento contra-cultura, por exemplo); misticismo e blasfêmia (grande minoria, feita por pessoas que em grande parte querem apenas aparecer e criar pose de que é mau).
“A tatuagem nunca esteve tão na moda”, ouvi um pastor dizer recentemente. Diante de tudo que foi exposto acima, essa informação dita por muitos se torna equivocada. A tatuagem sempre esteve nas culturas humanas e devido ao preconceito da sociedade em que vivemos, a frase que usaria seria a seguinte: “A tatuagem nunca foi tão sufocada e atacada”.
As pessoas tatuadas são muito discriminadas, mas não por erro delas e sim por imaturidade e preconceito da sociedade. Todos têm direito de se expressar, seja da forma como lhe aprouver. Alguns preferem músicas, outros artes, desenhos, esportes, outros tatuagem!
Grande parte desse preconceito vem exatamente por influência da “igreja”. As investidas católico-romanas para expandir o cristianismo na Europa durante a idade média encontravam resistências por parte de vários povos que já tinham suas culturas estabelecidas. No começo ouve um sincretismo religioso para que o cristianismo adaptasse à cultura do povo. Os que resistiam eram mortos. Bárbaros, Vikings, Celtas, Zigotos lutaram bravamente contra a opressão. Essas hordas ou clãs eram perseguidos, aprisionadas e mortos em fogueiras pela “igreja” a mando dos senhores feudais (fonte de riqueza a Roma) que queriam exterminar possíveis “redentores do povo”. A “igreja” se aproveitou muito disso: a tatuagem passou a ser “coisa do demônio” tanto quanto os objetos culturais pagãos. Algumas das fábulas inventadas persistem até hoje.
E um fato que não pode deixar de ser comentado, é que a tatuagem era usada pelos primeiros cristãos . Vivendo na clandestinidade, acusados de terem incendiado Roma, os primeiros cristãos se reconheciam por uma série de sinais escritos e tatuados, com destaque para a cruz, as letras IHS (Jesus Salvador dos Homens em grego), o peixe (IKTHUS), etc.
"Não fareis lacerações na vossa carne pelos mortos; nem no vosso corpo fareis marca alguma. Eu sou o Senhor." (Lv 19:28)
Esse versículo tem sido muito usado como “a prova bíblica” contra a tatuagem. Mas isso revela uma falta de conhecimento tremenda, pois é um erro infantil de interpretação bíblica: “texto fora do contexto”. Na contexto da época, as pessoas se marcavam como forma de demonstrar seu luto, de expressar sua dor, e é exatamente isso que é advertido: "Não fareis lacerações na vossa carne pelos mortos...”. Creio que o ato foi advertido não pela marca em si e sim por outras questões que estavam envolvidas quando se ”tatuava por causa dos mortos” (idolatria, necromância, misticismo, etc).
http://www.solbrilhando.com.br/Teens/Tatuagens_e_P/Tatuagem_Historia.htm