O Tempo
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"O tempo perguntou pro tempo quanto tempo o tempo tem...”. Esta antiga rima popular, cujo final eu não me recordo, encontrava-se em algum lugar remoto da minha consciência quando subitamente veio à tona em minha mente. Decidi então gastar um pouco do meu tempo para refletir sobre um dos assuntos mais complicados de se pensar: o Tempo.
O Tempo é muito estudado na Física. A origem do Tempo está intimamente ligada à origem de todas as coisas existentes, de tal forma que no é impossível estudar o universo sem estudarmos também o Tempo. De acordo com a teoria mais aceita no meio científico atualmente, o Tempo, juntamente com o Espaço e a Matéria, surgiram no Big Bang – uma súbita expansão de um único ponto com densidade e gravidade infinitas – a cerca de 14 bilhões de anos atrás. A partir daqui os filósofos já têm o que especular, afinal, se o Tempo surgiu no Big Bang, o que aconteceu antes deste evento? E como podemos falar de um antes se não havia Tempo anterior ao Big Bang?
Difícil de compreender, eu sei.
Outros ramos da ciência como Biologia e Química, também usam muito o Tempo em seus estudos. É impossível ler um livro de Biologia que não diz que todas as espécies vivas no planeta evoluíram a partir de um mesmo ancestral comum através de um processo de seleção natural ao longo dos últimos cinco bilhões de anos.
A Filosofia e a Teologia também falam muito sobre o Tempo, principalmente ao tratarem do Infinito, do Absoluto, de Deus. O Infinito, o Absoluto ou Deus transcende nosso estado humano de limitação. Para (tentar) explicar de forma mais clara: de acordo com a Teologia o homem está limitado ao Tempo, Espaço e Circunstâncias, diferentemente de Deus que transcende tudo isto, estando além. Infinito, Eterno, Imutável.
Trata-se até de uma coincidência interessante: A ciência afirma que Tempo, Espaço e Matéria surgiram no Big Bang; A Teologia e a Filosofia têm dito ao longo dos séculos que o ser humano está limitado quanto ao Tempo, Espaço e Circunstâncias e que Deus, se existe, está além de todas estas coisas. Uma coincidência interessante uma vez que ciência e fé não têm lá uma relação muito amigável.
Mas voltando ao Tempo, o que ele representa para nós?
Basicamente, tudo. O Tempo, por exemplo, é um Termômetro Comportamental na vida de cada pessoa. Duas pessoas dentro de um mesmo ônibus podem estar tranqüilas ou desesperadas em relação ao mesmo Tempo. Caso a pessoa esteja adiantada (à frente do tempo) em relação a determinado compromisso, sua viagem será tranqüila e calma. Caso contrário, se ela tiver atrasada (atrás do tempo) em relação a um determinado compromisso, até as paradas mais ligeiras do ônibus – como aquelas para pegar passageiros – serão motivos de desespero.
O Tempo também realiza gratuitamente algumas profissões em nossa vida. Ele é o melhor psicólogo que temos. Quem nunca foi aconselhado a deixar o Tempo resolver nossos problemas? “com o tempo você supera...”. É também nosso médico: “machucou? Não se preocupe, antes de casar sara...”. Até os tratamentos médicos convencionais dependem do tempo: “tome este remédio de oito em oito horas...”, “volte aqui dentro de uma semana...”. É nosso professor: “Ou você aprende com seus pais ou aprenderá dolorosamente com dia-a-dia...”. Um juiz: “o tempo há de te recompensar...”.
Apesar de o Tempo ser tão bom para nós, exercendo funções gratuitas, algumas pessoas não são gratas para com ele. Os idosos, por exemplo, reclamam que o tempo passou rápido demais e tentam despistá-lo com cremes para a pele, pomadas, remédios, plásticas, etc.
Outras pessoas tentam se desvencilhar da limitação do Tempo fazendo mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Vêem a novela passando as roupas, lêem livros escutando música, pegam ônibus estudando para a prova da faculdade, etc. Isso pode até ser proveitoso em algumas tarefas, mas é perigoso em outras. Corremos o risco de não dar a certa tarefa a devida atenção que ela merece. Quem divide sua atenção entre o livro e a musica, não desfruta nem a história do livro nem a melodia da música em plenitude.
Mas a principal tarefa do Tempo é mostrar nossa fragilidade. O Tempo é o principal indicador da limitação do ser humano e da brevidade de nossa existência. Já dizia o profeta Cazuza: “O Tempo não pára...”. E não pára mesmo. Ainda está fresca em minha memória a imagem de eu garotinho esperneando com meu pai para não me colocar na escolinha (pré-primário). Perder o tempo livre? Deixar de ver os desenhos, brincar de carrinho? Ah não!
Pois é. O Tempo parece ter passado rápido como um foguete e aqui estou eu na Universidade. Daqui pouco tempo eu estarei velhinho e pensando: “puxa! há tão pouco tempo eu era jovem e escrevi um texto sobre o tempo...”. Em relação a isso já nos aconselhava sabiamente o profeta Renato Russo: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...”.
Não apenas o líder da banda Legião Urbana se preocupava com o Tempo. Boa parte das pessoas quando chega aos 40 começa a se queixar dele, algumas vezes, antes disso. Coitado do Tempo. Ele nos ajuda e ainda é acusado injustamente por nossos erros.
Nossos erros? Sim. Veja: Quem é imutável, o homem ou o tempo? O Tempo.
O Tempo não muda, não há mudança nele. Ele mantém a mesma constância, a mesma velocidade, o mesmo peso, a mesma medida e tem realizado sua tarefa com perfeição ao longo dos últimos 14 bilhões de anos. Tudo sem nenhuma margem de mudança. O ser humano é diferente. Cada dia está de um jeito. Um dia gosta de amarelo, no outro de azul. Um dia ama alguém, no outro mata esse mesmo alguém. Um dia discursa no palanque contra a corrupção, no outro é preso por participar do mensalão.
Não é o Tempo que corre mais rápido ou mais devagar, ou é justo ou injusto com pessoas diferentes. Somos nós, seres mutáveis, que tratamos o Tempo de diferentes formas. Alguns o respeitam, outros o negligenciam. Alguns o amam, outros o odeiam. Buscar uma boa relação com o Tempo é fundamental para nossa existência. Devemos ser mais organizados e mais práticos quanto a isto. Conciliar todas nossas tarefas com o Tempo talvez seja um bom começo. O Rei Salomão conseguiu compreender a importância disto: “Para tudo há um ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu.” (Eclesiastes 3:1).
Conciliar o Tempo entre família, estudos, faculdade e outras atividades é difícil, eu sei disso. Mas não custa a nós tentar melhorar, e quem sairá ganhando somos nós próprios. Já o Tempo... ele é imutável. Continuará sempre o mesmo...
Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.
O Tempo é muito estudado na Física. A origem do Tempo está intimamente ligada à origem de todas as coisas existentes, de tal forma que no é impossível estudar o universo sem estudarmos também o Tempo. De acordo com a teoria mais aceita no meio científico atualmente, o Tempo, juntamente com o Espaço e a Matéria, surgiram no Big Bang – uma súbita expansão de um único ponto com densidade e gravidade infinitas – a cerca de 14 bilhões de anos atrás. A partir daqui os filósofos já têm o que especular, afinal, se o Tempo surgiu no Big Bang, o que aconteceu antes deste evento? E como podemos falar de um antes se não havia Tempo anterior ao Big Bang?
Difícil de compreender, eu sei.
Outros ramos da ciência como Biologia e Química, também usam muito o Tempo em seus estudos. É impossível ler um livro de Biologia que não diz que todas as espécies vivas no planeta evoluíram a partir de um mesmo ancestral comum através de um processo de seleção natural ao longo dos últimos cinco bilhões de anos.
A Filosofia e a Teologia também falam muito sobre o Tempo, principalmente ao tratarem do Infinito, do Absoluto, de Deus. O Infinito, o Absoluto ou Deus transcende nosso estado humano de limitação. Para (tentar) explicar de forma mais clara: de acordo com a Teologia o homem está limitado ao Tempo, Espaço e Circunstâncias, diferentemente de Deus que transcende tudo isto, estando além. Infinito, Eterno, Imutável.
Trata-se até de uma coincidência interessante: A ciência afirma que Tempo, Espaço e Matéria surgiram no Big Bang; A Teologia e a Filosofia têm dito ao longo dos séculos que o ser humano está limitado quanto ao Tempo, Espaço e Circunstâncias e que Deus, se existe, está além de todas estas coisas. Uma coincidência interessante uma vez que ciência e fé não têm lá uma relação muito amigável.
Mas voltando ao Tempo, o que ele representa para nós?
Basicamente, tudo. O Tempo, por exemplo, é um Termômetro Comportamental na vida de cada pessoa. Duas pessoas dentro de um mesmo ônibus podem estar tranqüilas ou desesperadas em relação ao mesmo Tempo. Caso a pessoa esteja adiantada (à frente do tempo) em relação a determinado compromisso, sua viagem será tranqüila e calma. Caso contrário, se ela tiver atrasada (atrás do tempo) em relação a um determinado compromisso, até as paradas mais ligeiras do ônibus – como aquelas para pegar passageiros – serão motivos de desespero.
O Tempo também realiza gratuitamente algumas profissões em nossa vida. Ele é o melhor psicólogo que temos. Quem nunca foi aconselhado a deixar o Tempo resolver nossos problemas? “com o tempo você supera...”. É também nosso médico: “machucou? Não se preocupe, antes de casar sara...”. Até os tratamentos médicos convencionais dependem do tempo: “tome este remédio de oito em oito horas...”, “volte aqui dentro de uma semana...”. É nosso professor: “Ou você aprende com seus pais ou aprenderá dolorosamente com dia-a-dia...”. Um juiz: “o tempo há de te recompensar...”.
Apesar de o Tempo ser tão bom para nós, exercendo funções gratuitas, algumas pessoas não são gratas para com ele. Os idosos, por exemplo, reclamam que o tempo passou rápido demais e tentam despistá-lo com cremes para a pele, pomadas, remédios, plásticas, etc.
Outras pessoas tentam se desvencilhar da limitação do Tempo fazendo mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Vêem a novela passando as roupas, lêem livros escutando música, pegam ônibus estudando para a prova da faculdade, etc. Isso pode até ser proveitoso em algumas tarefas, mas é perigoso em outras. Corremos o risco de não dar a certa tarefa a devida atenção que ela merece. Quem divide sua atenção entre o livro e a musica, não desfruta nem a história do livro nem a melodia da música em plenitude.
Mas a principal tarefa do Tempo é mostrar nossa fragilidade. O Tempo é o principal indicador da limitação do ser humano e da brevidade de nossa existência. Já dizia o profeta Cazuza: “O Tempo não pára...”. E não pára mesmo. Ainda está fresca em minha memória a imagem de eu garotinho esperneando com meu pai para não me colocar na escolinha (pré-primário). Perder o tempo livre? Deixar de ver os desenhos, brincar de carrinho? Ah não!
Pois é. O Tempo parece ter passado rápido como um foguete e aqui estou eu na Universidade. Daqui pouco tempo eu estarei velhinho e pensando: “puxa! há tão pouco tempo eu era jovem e escrevi um texto sobre o tempo...”. Em relação a isso já nos aconselhava sabiamente o profeta Renato Russo: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...”.
Não apenas o líder da banda Legião Urbana se preocupava com o Tempo. Boa parte das pessoas quando chega aos 40 começa a se queixar dele, algumas vezes, antes disso. Coitado do Tempo. Ele nos ajuda e ainda é acusado injustamente por nossos erros.
Nossos erros? Sim. Veja: Quem é imutável, o homem ou o tempo? O Tempo.
O Tempo não muda, não há mudança nele. Ele mantém a mesma constância, a mesma velocidade, o mesmo peso, a mesma medida e tem realizado sua tarefa com perfeição ao longo dos últimos 14 bilhões de anos. Tudo sem nenhuma margem de mudança. O ser humano é diferente. Cada dia está de um jeito. Um dia gosta de amarelo, no outro de azul. Um dia ama alguém, no outro mata esse mesmo alguém. Um dia discursa no palanque contra a corrupção, no outro é preso por participar do mensalão.
Não é o Tempo que corre mais rápido ou mais devagar, ou é justo ou injusto com pessoas diferentes. Somos nós, seres mutáveis, que tratamos o Tempo de diferentes formas. Alguns o respeitam, outros o negligenciam. Alguns o amam, outros o odeiam. Buscar uma boa relação com o Tempo é fundamental para nossa existência. Devemos ser mais organizados e mais práticos quanto a isto. Conciliar todas nossas tarefas com o Tempo talvez seja um bom começo. O Rei Salomão conseguiu compreender a importância disto: “Para tudo há um ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu.” (Eclesiastes 3:1).
Conciliar o Tempo entre família, estudos, faculdade e outras atividades é difícil, eu sei disso. Mas não custa a nós tentar melhorar, e quem sairá ganhando somos nós próprios. Já o Tempo... ele é imutável. Continuará sempre o mesmo...
Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.
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