Escatologia Para Hoje
Eu já gostei muito de livros de escatologia. Me sentia um desbravador estudando o Apocalipse, tentando pescar algo que ninguém havia percebido antes. Com o passar do tempo comecei a fazer alguns questionamentos e percebi que isso nada mais é do que correr atrás do vento.
Como assim? Ansiar pela vinda do Mestre é correr atrás do vento? Não, não é isso. O que considero perda de tempo é a alienação e sensacionalismo que se cria ao redor da escatologia. Toda vez que um Papa assume o Vaticano, um evangélico xiita diz: “veja essas contas, esse cara é a Besta”. E digo isso com propriedade, pois já um fui xiita radical de deixar qualquer mulçumano com inveja!
Mas, sem especular sobre esses aspectos místicos, como a Escatologia nos é proveitosa?
Respondo essa pergunta com outra: Podemos nós dizer que a Bíblia é viva e que sua mensagem é perfeita para nos no dia de hoje? Se a resposta for não, ela não é a Palavra de Deus. Se a resposta for sim, o correto é interpretar as passagens escatológicas como mensagens e ensinamentos para nosso dia a dia.
Mesmo porque, como Salomão disse, “não há nada de novo debaixo do sol”. Os mesmos problemas que a Igreja passa nos dias de hoje ela enfrentou ao longo de seus 2000 anos de história e continuará enfrentando até a volta de Jesus.
Nessa semana meditei em uma passagem da segunda carta do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses:
“A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém”. (IITs 2:7)
O que Paulo diz é que algo, alguém ou alguma coisa está impedindo que a iniqüidade no mundo se espalhe, mas que essa iniqüidade já existe e está em ação. A explicação que a escatologia nos dá para esse versículo é que o “mistério da iniqüidade” é o Anti-Cristo, que ele já existe e já está agindo, mas que ele não pode se revelar enquanto a Igreja estiver no mundo. A escatologia usa esse versículo como base para a doutrina do arrebatamento do santos, que acontecerá 7 anos antes da Segunda Vinda do Messias.
Eu não nego essa interpretação escatológica, inclusive essa é minha visão também. Mas não pude deixar de notar como a aplicação desse versículo é importante e ensina certos princípios para o nosso HOJE.
Sempre que nós (Igreja) nos afastarmos daquilo que devemos ser, a iniqüidade ganhará terreno. Pois a iniqüidade já está em ação no mundo. Ela existe, cresce e avança a passos largos nessa era “pós-moderna”.
Dentre algumas posturas que apresento como prejudiciais à Igreja estão: o liberalismo teológico, o moralismo e, principalmente, o sincretismo religioso com algumas posturas pós-modernas.
O liberalismo teológico faz a Igreja aceitar e, em alguns casos incentivar, a promiscuidade humana (ex: aborto, divórcio). O moralismo tenta definir toda e qualquer ação humana entre certo e errado absolutos (ex: ouvir música secular é, impreterivelmente, pecado).
Mas o mais perigoso, em minha opinião, é o sincretismo religioso. Não que eu seja a favor da Igreja se isolar e viver alheia ao mundo, muito pelo contrário. A Igreja deve estar disseminada dentro do mundo. Em cada cidade, canto e beco. O Evangelho deve andar lado a lado com a cultura. Ela (a Igreja) deve estar dentro das universidades, na política, nos esportes, na televisão, no rádio, na internet, etc.
O que considero como sincretismo prejudicial é tentar trazer para dentro de nossa teologia princípios, padrões e posturas seculares que não encontram apoio nas Escrituras. Vou citar um exemplo. A cerca de dois meses aconteceu em Belo Horizonte o encontro regional do Tribal Generation, onde eu encontrei pessoas de inúmeras culturas que professam a mesma fé. Foi maravilhoso contemplar a união em tamanha diversidade cultural. Porém, lá estava o sincretismo. Surgiu a moda dos “vegetarianos de Jesus”. Nada contra quem não gosta de comer carne. Mas daí a começar estampar camisas manifestando que comer carne é um crime, é ridículo. E usam o nome de Deus e a Igreja para disseminar essas loucuras, negligenciando o fato de que Jesus comia carne com os discipulos.
O sincretismo religioso faz a Igreja perder a identidade e isso é tão escatológico (futurístico) quanto atual. A Teologia de Mamom (Prosperidade), que se baseia em princípios pós-modernos anti-bíblicos como individualismo, consumismo e hedonismo, também é um bom exemplo de sincretismo religioso. Poderia falar sobre essa baboseira que virou moda nas Igrejas Evangélicas brasileiras, mas, falo tanto contra isso que já estou começando a ficar repetitivo.
Enfim, a iniqüidade ganhará terreno sempre que deixarmos de nos posicionar como Igreja. E é evidente que isso está acontecendo paliativamente.
Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.
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